Discos para história: Moving Pictures, do Rush (1981)


A 124ª edição do Discos para história conta a história de Moving Pictures, oitavo trabalho do Rush que tratou de mudar o patamar da banda para sempre

História do disco

A new wave estava com tudo no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980. O movimento que virou gênero tinha Television, Talking Heads e Blondie como principais representantes, e ainda vieram no embalo Ramones e Police, de estilos diferentes, mas igualmente importantes naquele período de transição e de mudança de geração. Os veteranos já não chamavam tanto a atenção, então as novidades conquistaram um espaço interessante entre o público jovem.

O Rush, precisamente o baterista Neil Peart, estava de olho em todas essas novidades. Em entrevista ao jornalista Andre Wolson em 1980, ele contou sobre como a influência dessa então nova geração de bandas foi importante na música no Rush naquele período. "Ouço uma rádio que vai do reggae ao R&B, do jazz a new wave e tudo o que é bom ou interessante. É uma estação de rádio muito boa para mim. Eles me apresentaram um monte de música nova. Tentamos sentir diferentes formas de música [na gravação]. Não há divisões lá, só a letra tem um tipo de padrão. Eu tenho muita satisfação em trabalhar com ritmos diferentes e aprender a me sentir confortável com eles [no estúdio]", disse ele, durante o período de gravação do que viria a ser Moving Pictures.

Em agosto de 1980, o trio formado por Peart, Geddy Lee e Alex Lifeson começou a trabalhar no novo álbum no estúdio. "Depois que nos sentimos confiante com o material que tínhamos escrito, começamos a gravar no Le Studio com o nosso coprodutor Terry Brown", disse Lifeson à revista Music Radar, em 2011. "Comíamos bem, bebíamos bem e nós tocamos muito bem. Foi divertido", continuou.

O novo trabalho era uma sequência natural de Permanent Waves, lançado no ano anterior, que já tinha muito da influência da nova música. E já podíamos ouvir um Geddy Lee testando e usando mais os sintetizadores, instrumento fundamental na discografia do Rush a partir daquela década.

"O disco foi um tipo bem particular de composição e de gravação", disse o baixista. "Foi quando estabelecemos que poderíamos fazer uma canção de seis minutos diferente das de 20 minutos. Por mais que 2112 (1976) tenha cimentado nosso som, Moving Pictures mostrou nosso crescimento", completou.

Lançado em 12 de fevereiro de 1981, Moving Pictures atingiu o primeiro lugar na parada canadense e a terceira posição na Inglaterra e nos Estados Unidos, ficando atrás apenas de Permanent Waves como disco que mais vendeu na história do grupo. "Sabíamos que eles eram boas canções", diz Lifeson. "Se pensamos que elas seriam consideradas clássicas? De modo nenhum. Tudo o que tentamos fazer foi agradar a nós mesmos", finalizou.


Resenha de Moving Pictures

Um ícone da cultura pop e canção mais famosa do Rush, "Tom Sawyer" nasceu de um poema que Neil Peart leu enquanto estava de férias. Compositor do grupo e fã de ficção científica, ele é craque em aliar os dois assuntos na música da banda, que contou com o primeiro grande teste do sintetizador logo nos primeiros minutos. De fácil absorção, muito por conta da letra simples, é aquela música que você ouve e fica curioso para saber como será o restante do álbum.

O cenário futurista aparece mais uma vez em "Red Barchetta", história de um cara que guarda um carro esportivo Barchetta em sua garagem apesar de uma lei proibindo esse tipo de veículo. E há uma aventura desenvolvida na letra, como um roteiro mesmo, algo que Peart faz sem dificuldade como compositor. A parte instrumental é desenvolvida para manter o ouvinte atento a tudo.



Nascida depois de uma problema no pouso da banda depois de um show, "YYZ" (ou "YYZed", como eles chamam internamente) é uma faixa instrumental absurda em que você ouve todos os instrumentos mixados da mesma maneira. Ninguém se sobressai, todos são iguais. Lee e Peart a desenvolveram no estúdio para ser exatamente assim, uma canção muito bonita que mostra a essência da banda.

O riff de abertura de "Limelight" é grudento o suficiente para ficar dias na sua cabeça. A letra trata de como Peart vê a fama, mostrando que o baterista nunca soube lhe dar muito bem com o assunto já nos anos 1980. Lee e Lifeson fizeram toda a melodia, com o segundo trabalhando a guitarra – riffs e solos – antes de o baixista complementar sua parte.

Em um grupo como o Rush, há sempre espaço para longas canções. Aqui temos "The Camera Eye", duas faixas que viraram uma só. Ela foi construída inteiramente separada, depois eles uniram os pedaços no estúdio - eles admitem que não foi fácil gostar dela de cara. Os três precisam fazer muitas coisas ao mesmo tempo para fazer tudo funcionar no primeiro terço exclusivamente instrumental. Depois vem o revezamento entre letra e partes instrumentais, expondo todo talento do Rush em estúdio em uma faixa longa, mas de fácil entendimento.



Todos que estavam participando de alguma maneira da gravação foram convidados a gritar e berrar em "Witch Hunt", gravada em um dia frio de inverno com muito uísque disponível. De início pesado e lento, é o tipo de música em que Geddy Lee tem a chance de destacar seu vocal. Uma canção de profundidade e reflexão ainda válidas, mesmo 35 anos depois de seu lançamento. Para fechar o disco, a influência do Police aparece em "Vital Signs", nascida durante uma brincadeira que o grupo resolveu levar a sério e colocar no álbum que consumiu muita energia em todo seu processo.

O Rush atingiu seu auge criativo aqui. Ao fazer uma conexão entre eles mesmos e a new wave, acabaram criando um clássico dos anos 1980. Por isso, esse trabalho em especial mostra como esses talentosos canadenses estavam destinados ao sucesso.



Tracklist:

Lado A

1- "Tom Sawyer" (Neil Peart and Pye Dubois) (4:34)
2 - "Red Barchetta" (6:10)
3 - "YYZ" (Geddy Lee, Peart; Instrumental) (4:26)
4 - "Limelight" (4:20)

Lado B

5 - "The Camera Eye" (11:01)
I: "New York" (6:00)
II: "London" (5:01)
6 - "Witch Hunt" (Part III of "Fear") (4:46)
7 - "Vital Signs" (4:46)

Gravadora: Anthem (Canadá)/Atlantic/Epic/Sony (Japão)/Mercury
Produção: Rush e Terry Brown
Duração: 40min

Geddy Lee: vocal, baixo, pedais e sintetizadores
Alex Lifeson: guitarra, violão e sintetizadores
Neil Peart: bateria, timbales, sinos, glockenspiel, espanta-espíritos, bell tree, címbalos antigos, plywood e madeira compensada

Convidado
Hugh Syme: sintetizador em "Witch Hunt"



Veja também:
Discos para história: American Idiot, do Green Day (2004)
Discos para história: Kind of Blue, de Miles Davis (1959)
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Discos para história: The Clash, do Clash (1977)
Discos para história: Maysa, de Maysa (1966)
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