Resenha: Charles Bradley – Changes


Terceiro disco do cantor foi lançado no final da semana passada

Falar que Charles Bradley é um soulman tardio é repetir o discurso que vem sido falado sobre ele nos últimos anos. Muito mais do que alguém que começou a carreira após os 60 anos, ele é ótimo. Tão ótimo, que beira a genialidade de grandes nomes do R&B dos Estados Unidos. Changes é seu terceiro álbum de estúdio, a consolidação do trabalho feito desde 2011.

Uma apresentação compõe a faixa "God Bless America", com seu quê gospel, serve bem para abrir o novo trabalho do cantor de 68 anos. Daí, o disco começa mesmo no soul dançante de "Good to Be Back Home", uma ótima maneira de colocar o ouvinte no clima que o tipo de música que Bradley faz – um R&B bem clássico e com referências ao trabalho feito nos anos 1940 e 1950, quando se misturou o gospel com o blues e o mundo não foi mais o mesmo.

Veja também:
Resenha: Autoramas – O Futuro dos Autoramas
Resenha: Bob Mould – Patch the Sky
Resenha: Rokia Traoré – Né So
Resenha: Céu – Tropix
Resenha: Glitterbust – Glitterbust
Resenha: Mavis Staples – Livin' On A High Note
Resenha: Nada Surf – You Know Who You Are


A poética "Nobody but You" ganha uma interpretação profunda ao não ser cantada, mas ser quase declamada. O vocal de apoio ajuda a dar o tom de melancolia a linda canção, e "Ain't Gonna Give It Up" traz aquele soul tipicamente feito para ser apreciado em cada detalhe – da letra até a melodia. Profundo e triste, funciona bem para qualquer alma que deseja colocar para fora qualquer sentimento preso dentro de si.

"Changes" foi gravada pelo Black Sabbath em 1972 e virou um clássico do heavy metal. E periga a versão de Charles Bradley virar um clássico, porque não é só boa, é muito boa. Ficou tão própria, que pode ser difícil sacar que é a mesma música. Mas é. Já "Ain't It a Sin" recoloca o disco no prumo dançante, quase uma referência aos grandes momentos de James Brown.

Sabe aquele tipo de música toca lá na alma? É o caso de "Things We Do for Love", que tocará nove entre dez pessoas – a que sobrar não tem coração, nem alma. Em um ritmo linear, apresenta lindas melodia e voz suaves, ideal para fazer companhia em momentos de solidão. E o mesmo se aplica a "Crazy for Your Love", essa ainda mais dolorosa em termos de letra.

O início de "You Think I Don't Know (But I Know)" é semelhante ao de “I Don't Know What To do With Myself”, de Tim Maia. Mas, calma, não chega nem perto de plágio, só significa que ambos tiveram a mesma referência na melodia: o sucesso da soul music nos anos 1970. Sem saber que Charles Bradley poderia ir mais fundo, ele foi em "Change for the World". Não tinha ideia que ele poderia chegar nesse ponto alto na música, mas ele chegou. Ele fecha com chave de ouro ao colocar "Slow Love" como última canção, que ficará tocando na sua cabeça até o fim do dia.

Changes é um álbum muito bonito, um dos melhores que ouvi neste primeiro semestre. Cheio de boas músicas, o trabalho mostra um Bradley acima da média como cantor. Ele demorou a vir, porém antes tarde do que mais tarde. Que ele siga assim até o fim.

Tracklist:

1 - "God Bless America"
2 - "Good to Be Back Home"
3 - "Nobody but You"
4 - "Ain't Gonna Give It Up"
5 - "Changes"
6 - "Ain't It a Sin"
7 - "Things We Do for Love"
8 - "Crazy for Your Love"
9 - "You Think I Don't Know (But I Know)"
10 - "Change for the World"
11 - "Slow Love"

Nota: 4,5/5



Saiba como ajudar o blog a continuar existindo

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!