Dez discos de metal lançados em agosto que merecem sua atenção (com bônus)


Por Rodrigo Carvalho

O que os dois meses anteriores tiveram de frustrantes (poucos lançamentos notáveis, outros decepcionantes – o último do Symphony X, por exemplo), agosto trouxe de volta um pouco daquele frenesi do início do ano, em que cada dia despejava em nossos ouvidos milênios e milênios de música.

E não apenas em quantidade, mas também em estilos completamente diferentes entre eles, do mais relaxado ao mais caótico, até coisas que são praticamente impossíveis de serem categorizadas.

Ou seja, mais do que perfeito pra quem tava começando a cair no marasmo e achando que já dava pra começar a fechar a lista de fim de ano.

Ledo engano.


Ahab – The Boats of the Glen Carrig

Funeral doom de temáticas oceânicas, os alemães do Ahab são um dos poucos representantes que conseguem enxergar o estilo ainda com a mentalidade de um explorador, que ao admirar o horizonte se pergunta o que ainda se encontra ali e não foi descoberto. Baseado no livro de William Hope Hodgson de mesmo nome, The Boats of the Glen Carrig consegue tornar interessante e inesperada a sensação de estar em um navio à deriva, no meio do oceano sem vento enquanto a água invade em um ritmo lento e impossível de ser consertado, como se a desidratação despertasse velhos fantasmas e alucinações que arranhassem ainda mais a sanidade enquanto uma derradeira tempestade não aparece para de alguma forma encerrar o tormento.


Angellore – La Litanie Des Cendres

A música extrema francesa sempre vem acompanhada de uma beleza quase histórica. Em alguns casos, com certa sutileza, e totalmente evidenciada em outras. O Angellore se encaixa na segunda categoria, com sua síntese entre doom e gothic metal carregado por um refinamento que parece tirado dos atmosféricos post rock e uma teatralidade herdada do rock progressivo. La Litanie Des Cendres é praticamente um encontro entre o Anathema e o Alcest em uma velha catedral.


Cattle Decapitation – The Anthropocene Extinction

Lançar aquela que todos consideram a sua obra prima é um paradoxo complicado. Atingir o ápice da maturidade cria expectativas altíssimas para o que vem a seguir, e nem todos conseguem lidar da melhor forma. Uns tentam formular e repetir o que foi feito, outros preferem abandonar. O Cattle Decapitation preferiu tomar o caminho mais difícil ao pegar novamente o que os consagrou em Monoliths of Inhumanity para lapidar sob outro foco: maior versatilidade, mais exageros técnicos e o catapultar de uma grandiosidade obscura e caótica em seu death grind, criando a visão de um mundo definitivamente desgraçado pela própria humanidade - não muito diferente do que parece nos aguardar em um futuro próximo.


Disturbed – Immortalized 

Cinco anos podem ser um longo tempo. Para uma banda que sempre esteve no topo, refugiar-se do mundo pode ser aquela última escorregada antes de mergulhar no penhasco do esquecimento. Ou talvez pura estratégia para tornar seu novo álbum algo digno de nota. Independente das reais intenções, estes cinco anos não apenas fizeram bem ao Disturbed, como originaram seu mais dinâmico e interessante trabalho: influências diversas efetivamente transparecendo, músicas que se diferem completamente entre si e, principalmente, um David Draiman cantando (e não apenas balbuciando seus DARARAM DANARAM DAM intermináveis).


Dreadnought – Bridging Realms

O leque de sonoridades apresentado pelo Dreadnought é extremamente complexo de ser entendido. Pelo menos até você dar uma pesquisada rápida em imagens de Denver, no Colorado, sua terra natal. As paisagens contrastantes entre as montanhas, lagos, florestas e desertos criam um cenário quase onírico e hipnotizante, em que você procura os detalhes de uma beleza contemplativa, assim como o metal extremo e o rock progressivo de tendências teatrais em Bridging Realms: com o auxílio de ritmos inesperados, que vão do jazz ao folk, e utilização de inúmeros instrumentos e as vozes de Kelly Schilling e Lauren Vieira, o Dreadnought extrai de inúmeras realidades uma das mais belas obras de arte musicais do ano.


Ghost - Meliora

Como o filho prodígio de uma família decadente, que trama a sua ascensão através da hierarquia da máxima entidade religiosa, o Ghost reina hoje como o psicopompo e o carnífice de uma nova geração, erguendo estruturas que ascendem aos céus de uma forma megalomaníaca, exagerada e quase hedonista. Meliora é uma realidade ainda mais distorcida do que o apresentado antes, a encenação deste cenário utilizando velhas ferramentas ainda eficientes, que apesar dos primeiros sinais de ferrugem, são o suficiente para deixar o público hipnotizado a cada vez que as luzes se acendem


Kadavar – Berlin 

Mais um dos grupos que parece ter chapado durante quatro décadas e acordado no novo milênio ainda instigados por aquele hard rock primordial, melódico, distorcido e cheio de fuzz, o Kadavar se destacou da multidão logo em seu álbum de estreia. Apesar do feitiço meio errado em seu segundo trabalho, o trio alemão volta a olhar para o passado europeu, pré-queda do muro, mas focando agora em como o mundo mudou ao longo desses anos. Berlin, invariavelmente ainda reverencia os grandes nomes clássicos, mas traz um som mais limpo, despreocupado e sincero, emulando como deve ser o rock em 2015.


Myrkur – M

Amalie Bruun, a dinamarquesa receptáculo da entidade Myrkur, causou algumas rachaduras nas estruturas já comprometidas do black metal com um EP em 2014. O seu disco de estreia, simplesmente batizado como M, não apenas terminou de sangrar as velhas raízes, como dá as mãos e convida a um passeio por um mundo muito mais profundo, onde o místico e o real não podem ser separados, o black metal divide o mesmo plano com a atmosfera do post metal, as inserções folclóricas e um trabalho de vozes onírico belíssimo.


Pyogenesis – A Century in the Curse of Time

Talvez a tecnologia tenha tomado um curso errado em algum momento na história, e onde temos energia elétrica e internet, poderíamos estar vivendo em uma realidade steampunk movida apenas a vapor e a engrenagens desajeitadas. Talvez, nessa realidade, a mudança brusca de som do Pyogenesis, e esse híbrido entre punk, hard rock e melodic death metal tenha certo sentido. No nosso mundo? No mínimo inventivo, como aqueles dias em que temos nos virar quando a energia acaba ou alguém rouba os fios de telefone.


Soilwork – The Ride Majestic

Talvez já tenhamos falado aqui, mas uma das características mais notáveis da cena de Gotemburgo é como seus maiores expoentes seguiram caminhos extremamente diferentes e ainda mantiveram seus elos primordiais. O Soilwork abandonou a crueza em nome de uma "americanização", focando absurdamente nas melodias cada vez mais presentes - processo que deu um passo gigantesco em The Living Infinite e não demonstra cansaço algum em The Ride Majestic, obra que não apenas parece encerrar um ciclo desde que eles refinaram sua sonoridade (em The Panic Broadcast) como os mantêm como um dos soberanos do estilo.

E sim, até os bônus tiveram uma disputa acirrada esse mês.

Arabs in Aspic – Victim of your Father's Agony

Quando uma banda norueguesa de rock progressivo lança um álbum novo, pode ter certeza que ela surpreende de alguma forma. O Arabs in Aspic lança o terceiro disco seguindo que não é menos do que belíssimo.

Fear Factory – Genexus 

O homem se tornou máquina, e aos poucos se torna homem de novo. Finalmente o Fear Factory começa a deixar a excessiva artificialidade pra trás.

Hate Eternal – Infernus 

Talvez a única banda no planeta que consiga extrair um pouco de seu peso e ainda assim aumentar os níveis de brutalidade.

Nile – What Should Not Be Unearthed

Os deuses egípcios podem ter tentado, mas apenas a benção de Cthulhu conseguiu colocar um pouco de noção na cabeça do Nile para que eles finalmente nos permitam entender a sua palavra. Ou música, como quiserem.

Publicist UK – Forgive Yourself


O post punk parece ser o novo foco para projetos paralelos, e onde alguns erram miseravelmente (alô, Coliseum), David Obuchowski (Goes Cube), Brett Bamberger (Revocation) e Dave Witte (Municipal Waste) acertam diretamente naquele som inglês do início dos anos 80.

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