Resenha: Tom Collier - Alone In The Studio


Por Gabriel Carvalho

Tom Collier, músico com quase 60 anos de carreira (fez a primeira apresentação em público com cinco anos de idade e a primeira como profissional aos nove), tem trabalhos na área acadêmica e diversas participações em discos/turnês de grandes nomes da música, como Dave Holland, Frank Zappa, Ry Codder, The Beach Boys, entre outros. Além disso, Collier também gravou discos como artista solo, com um sexteto e com o parceiro Dan Dean. O objeto desta resenha, no entanto, é a carreira solo do multi-instrumentista – Collier ganhou fama com o vibrafone, mas toca outros instrumentos também, como demonstra em seu mais recente lançamento, Alone In The Studio.

Sim, é exatamente isso: Collier entrou sozinho em um estúdio e gravou o disco, tocando vibrafone, marimba, piano, bateria e sintetizadores. O repertório é composto por sete regravações e quatro composições originais. Como resultado, o ouvinte tem em mãos um disco muito coeso e agradabilíssimo de ouvir. O trabalho feito por Collier nas regravações é digno de nota, começando pelo blues “Little Green Thing”, de Dave Lewis. A versão de Collier se diferencia da original pelo fato de contar pura e simplesmente com o vibrafone. O que ele consegue em termos sonoros apenas com um instrumento é interessantíssimo. Em “Lines”, de Larry Coryell, o músico faz o mesmo e, embora seja mais uma prova da habilidade no vibrafone, o efeito não é tão surpreendente quanto na abertura.

“Double Bars”, a primeira faixa autoral do registro e também a primeira com outros instrumentos (lembrem-se, todos tocados por Collier), traz o jazz em diversas camadas e ritmos e mostra toda a destreza do músico, especialmente na bateria – as viradas chamam a atenção do ouvinte. O disco ganha doses consideráveis de sensibilidade na bela “Spring Can Really Hang You Up The Most”, canção popular que foi gravada por diversos artistas. Com o protagonismo do vibrafone, o clássico ganhou uma nova ‘cara’. “Softly, As In A Morning Sunrise”, originalmente parte integrante da opereta “The New Moon”, destaca-se pela brilhante performance percussiva de Collier.

Na sequência, o músico apresenta um medley de “God Only Knows”, dos Beach Boys, e “Here, There, And Everywhere”, dos Beatles. Na primeira parte, mais um momento solo de vibrafone; na segunda, uma ‘banda completa’ e uma pegada mais jazzística – que, sim, ficou muito boa. “Five Brothers”, de Gerry Mulligan, é suingada e chama a atenção pelos solos de bateria. Mais um ponto alto do disco vem com o arranjo de Collier para “Anyone Who Had A Heart”, de Burt Bacharach. A combinação entre vibrafone e marimba se encaixa perfeitamente no clima da canção.

A trinca que encerra o disco traz composições autorais. Pinceladas de bossa nova e ritmos latinos dão o tom na bela “Turning To Spring”, enquanto “Alone” entra no território exploratório das possibilidades sonoras da marimba e do vibrafone. “Orbital Dance”, que fecha o disco, é a única que difere sensivelmente das demais faixas com sua sonoridade funk/fusion oitentista. Isso tem explicação, claro: a canção foi gravada em 1988, entrando no disco como faixa-bônus.

Alone In The Studio é uma experiência sonora agradável, interessante e surpreendente para muitos – incluindo o autor desta resenha – que não fazem ideia das possibilidades sonoras do vibrafone. O resultado ganha mais força ainda pelo fato de Tom Collier ter gravado todos os instrumentos e, mais do que isso, se mostrar extremamente capaz em todos eles.

Tracklist:

1 – “Little Green Thing”
2 – “Lines”
3 – “Double Bars”
4 – “Spring Can Really Hang You Up The Most”
5 – “Softly, As In A Morning Sunrise”
6 – “God Only Knows / Here, There, And Everywhere”
7 – “Five Brothers” (Gerry Mulligan)
8 – “Anyone Who Had A Heart” (Burt Bacharach)
9 – “Turning To Spring”
10 – “Alone”
11 – “Orbital Dance”

Nota: 4,5/5


Veja também:
Resenha: Bryan Bowman - Like Minds
Resenha: Millencolin – True Brew
Resenha: Graham Parker and The Rumour – Mystery Glue
Resenha: FFS [Franz Ferdinand e Sparks] – FFS
Resenha: Mr. Irish Bastard – The World, The Flesh and The Devil
Resenha: Scott Henderson - Vibe Station
Resenha: Muse – Drones