Discos para história: Sticky Fingers, dos Rolling Stones (1971)


Depois de uma curta folga no feriado, o Discos para história retorna em sua 86ª edição para falar de Sticky Fingers, disco dos Rolling Stones e um dos clássicos dos anos 1970.

História do disco

A tragédia no Altamont Free Concert deu uma parada nos planos dos Rolling Stones em continuar a turnê pelos Estados Unidos. Até por conta disso, a banda optou por colocar no mercado um álbum ao vivo, o famoso bootleg Get Yer Ya-Yas Out!. Com mais um primeiro lugar no Reino Unido, e os elogios do crítico musical Lester Bangs, eles foram convidados para fazer parte do line-up do show de fim de ano promovido pela BBC.

No início de 1970, veio o movimento que seria exemplo para muitos músicos no futuro. Assim como os Beatles, mas, aparentemente, de forma melhor organizada, os Rolling Stones fundaram sua própria gravadora – a Rolling Stones Records, que viria a ter como logo o famoso lábio com a língua para fora, desenhado por Andy Warhol (acabou virando a marca do grupo até hoje) – após o fim do contrato com a Decca. A primeira gravadora deles não deixou barato e cobrou o lançamento de um single, então Mick Jagger e Keith Richards prontamente levaram até eles uma faixa chamada "Cocksucker Blues". Claro, foi recusada.
O meio tempo entre o fim do contrato e a fundação da gravadora, a banda acabou não vendo os movimentos de Allan Klein, empresário deles e dos Beatles. Klein aproveitou e registrou todo material deles lançado pela Decca como propriedade da ABKCO, empresa da qual era dono. Um processo movido por Jagger contra o empresário levou 17 anos para ser julgado, mas os Stones não recuperaram todo catálogo lançado antes de 1971, ficando para os herdeiros de Klein, morto em 2009, a remasterização de algumas canções e bootlegs raros no início dos anos 2000.


Como nos discos anteriores, os Rolling Stones gravaram Sticky Fingers durante as várias turnês que fizeram entre 1969 e 1971, trabalhando um pouco em cada músicas nas oportunidades que tinham para descansar – as sessões foram dividas entre o Muscle Shoals Sound Studio, em Sheffield, Alabama, e o Olympic Studios, em Londres. Aliás, muitas das canções foram compostas e gravadas, em parte, no período em que estavam focados em Let It Bleed, disco anterior.

A capa do álbum virou uma das mais icônicas na história do rock. No primeiro lançamento em vinil, a foto vinha com um zíper de verdade que, quando puxado, mostrava um homem usando cuecas de algodão. A imagem foi tirada por Billy Name e projetada por John Pasche, e a montagem ficou nas mãos de Warhol mais uma vez. Até hoje não se sabe quem é o fotografado, sendo um mistério até mesmo para os pesquisadores musicais.

Lançado em 23 de abril de 1971, o álbum chegou ao primeiro lugar no Reino Unido, posição que permaneceu por quatro semanas consecutivas até cair e retornar ao posto no início de junho. O disco também chegou ao principal posto das paradas na estreia, ficando por lá por um mês.



Resenha de Sticky Fingers

Se nos dias atuais "Brown Sugar" é uma faixa agitada e usada para Mick Jagger mostrar seu rebolado no palco, na versão lançada em Sticky Fingers ela é um blues acústico bem lento, muito longe da versão dos palcos. Mas aqui já podemos ouvir todo potencial de Bobby Keys no saxofone, instrumento marcante em muitas canções do grupo. A letra foi inspirada em alguma namorada do cantor à época, entretanto ele nunca revelou qual.

Em outro blues, "Sway", Jagger teve a companhia de Mick Taylor, estreando oficialmente em um disco que teria sua participação em todas músicas – algo que não ocorreu no anterior. Keith Richards ficou só nos vocais de apoio, enquanto o novato Taylor tocou guitarra slide na música que usa e abusa do instrumento do início ao fim. Gravada no Alabama, "Wild Horses" teve o privilégio de virar um country-folk de alto nível, algo que a banda buscava há algum tempo. Composta inteiramente durante a turnê americana feita no fim de 1969, a letra foi inspirada em Marianne Faithfull, então mulher de Jagger.



Maior faixa do álbum, com mais de sete minutos, "Can't You Hear Me Knocking" eram duas canções que viraram uma só, segundo Richards em uma entrevista. Repleta de guitarras, mais uma participação de Keys e Billy Preston no órgão, ela está bem perto do trabalho feito pelo Led Zeppelin em alguns momentos da banda em disco – a longa jam ao final é um exemplo. Única música não creditada a alguém dos Rolling Stones, "You Gotta Move" é uma canção tradicional americana gravada pela primeira vez nos anos 1940, que aqui ganhou uma versão blues com uma guitarra slide belíssima.

Por ser um rock agitado e cheio de solos, "Bitch" acabou sendo ideal para abrir o lado B do álbum, pois na sequência vem "I Got the Blues", um blues gospel de alto nível cantado por Jagger em ótima fase – tanto física, quanto técnica. Além da banda de sempre, Billy Preston, Bobby Keys e Jim Price reforçaram a melodia tocando órgão, saxofone e trompete, respectivamente.



Gravada por Marianna Faithfull em 1969, "Sister Morphine" ganhou uma versão bem diferente quando os Stones a refizeram. Pendendo mais para um blues, a melodia só ganhou com a guitarra slide de Ry Cooder ao fundo, com Richards no violão e Jack Nitzsche no piano (eles também gravaram primeira versão). Em uma batalha judicial durante os anos 1990, Faithfull, alegando ser coautora, ganhou o direito de ser creditada ao lado de Jagger e Richards na composição nos relançamentos.

Se "Dead Flowers" fala sobre heroína ninguém sabe, o que se sabe é que é uma das mais tristes já feitas pelos Stones por falar, ainda não diretamente, da morte. E em uma das poucas vezes que se expôs publicamente em uma letra, Jagger colocou toda a pressão de ser quem era, além de desmentir o mito de sexo, drogas e rock and roll, em "Moonlight Mile", balada creditada a ele e Richards, mas que Taylor afirma ter sido dele a ideia da melodia, feita durante uma viagem entre um show e outro.

Aqui era o amadurecimento dos Stones enquanto banda. Agora com um novo guitarrista, eles tiveram a chance de aproveitar todo talento e maturidade musical envolvidas na construção desse álbum para fazer um dos clássicos dos anos 1970 que merece ser ouvido pelas novas gerações.



Ficha técnica

Tracklist:

Lado A

1 - "Brown Sugar"
2 - "Sway"
3 - "Wild Horses"
4 - "Can't You Hear Me Knocking"
5 - "You Gotta Move" (Fred McDowell/Gary Davis)

Lado B

6 - "Bitch"
7 - "I Got the Blues"
8 - "Sister Morphine" (Jagger/Richards/Marianne Faithfull)
9 - "Dead Flowers"
10 - "Moonlight Mile"

Todas as canções foram escritas por Mick Jagger e Keith Richards, exceto as marcadas.

Gravadora: Rolling Stones Records
Produção: Jimmy Miller
Duração: 46min25s

Mick Jagger: vocais; violão em "Dead Flowers" e "Moonlight Mile"; guitarra em "Sway"; percussão em "Brown Sugar"
Keith Richards: guitarra; violão em "Brown Sugar", "You Gotta Move", "I Got the Blues" e "Sister Morphine"; violão de 12 cordas em "Wild Horses"; guitarra em "Wild Horses", na primeira parte de "Can't You Hear Me Knocking" e "Bitch"; guitarra em "Dead Flowers"; e vocais de apoio
Mick Taylor: guitarra; violão em "Wild Horses"; guitarra na primeira parte de "Can't You Hear Me Knocking" e "Bitch"; guitarra slide em "Sway" e "You Gotta Move"; e guitarra em "Dead Flowers" "Can't You Hear Me Knocking" "Moonlight Mile" e"Sway"
Bill Wyman: baixo; teclado em "You Gotta Move"
Charlie Watts: bateria

Convidados:

Paul Buckmaster: arranjo de cordas em "Sway" e "Moonlight Mile"
Ry Cooder: guitarra slide em "Sister Morphine"
Jim Dickinson: piano em "Wild Horses"
Rocky Dijon: congas em "Can't You Hear Me Knocking"
Nicky Hopkins: piano em "Sway", "Can't You Hear Me Knocking"
Bobby Keys: saxofone
Jimmy Miller: percussão em "Can't You Hear Me Knocking"
Jack Nitzsche: piano em "Sister Morphine"
Billy Preston: órgão em "Can't You Hear Me Knocking" e "I Got the Blues"
Jim Price: trompete e piano em "Moonlight Mile"
Ian Stewart: piano em "Brown Sugar" e "Dead Flowers"


Veja também:
Discos para história: Music from Big Pink, da The Band (1968)
Discos para história: The Joshua Tree, do U2 (1987)
Discos para história: Siamese Dream, do Smashing Pumpkins (1993)
Discos para história: Rage Against the Machine, do Rage Against the Machine (1992)
Discos para história: Licensed to Ill, dos Beastie Boys (1986)
Discos para história: Funeral, do Arcade Fire (2004)
Discos para história: Help!, dos Beatles (1965)

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