Discos para história: Siamese Dream, do Smashing Pumpkins (1993)


Depois de uma semana de folga, o Discos para história retorna para falar de Siamese Dream, segundo álbum de estúdio do Smashing Pumpkins e um dos clássicos discos dos anos 1990.

História do disco

Depois do sucesso inesperado de Gish, estreia oficial da banda em um álbum completo – o primeiro trabalho foi um EP e o segundo foi uma música em um disco com uma compilação de bandas de Chicago –, o Smashing Pumpkins vivia uma espécie fase intermediária. A banda foi chamada de novo Pearl Jam, de novo Nirvana e de novo Jane's Addiction. Isso acabou afetando Billy Corgan, que entrou em depressão profunda enquanto compunha canções novas, e Jimmy Chamberlin, que começou a usar drogas pesadas e a beber muito.

As comparações, inevitavelmente, geraram pressões para eles deixarem esse limbo entre a cena alternativa e o mainstream. Além disso, o vício de Chamberlin havia atingido níveis perigosos, e foi com esses dois pensamentos que a banda resolveu gravar Siamese Dream no estado da Georgia, Estados Unidos. Tudo para afastar ao máximo a pressão e os conhecidos contados do baterista para conseguir sua heroína diária. Mas ao invés de gerar união e aumentar a amizade, aconteceu o oposto durante as gravações.

Por exemplo, ao lado do produtor Butch Vig, Corgan decidiu tocar guitarra e baixo em algumas músicas, gerando questionamento e mágoa por parte do guitarrista James Iha e da baixista D'arcy Wretzky – eles passaram a considerar o vocalista uma espécie de ditador depressivo. Aliás, a depressão estava em níveis tão altos, que Corgan pensou em se matar e evitava ficar sozinho por muito tempo. Para evitar uma bobagem, ele começou a frequentar uma terapeuta, passou a morar no estúdio e a trabalhar ainda mais para ocupar a cabeça. Vig o acompanhou no processo e ficou 16 horas com o compositor trabalhando em pequenos trechos de canções.


E enquanto isso, Chamberlin já havia feito novo amigos para conseguir suas drogas e era falta constante nas gravações que duraram mais de quatro meses, gerando aumento considerável nos custos de gravações – isso faria o líder do grupo chegar ao limite com ele, e isso o fez entrar na reabilitação no dia seguinte. A obcessão de Corgan em deixar o disco perfeito deixaria D'arcy tão magoada, que ela se trancou no banheiro por horas depois de uma sessão de gravação, e Billy ficaria horas trancado com Vig na sala de controle fazendo alterações sem comunicar os outros membros do Smashing Pumpkins.

De acordo com as muitas histórias, Corgan estava irritado por ver que só ele havia se preparado o suficiente para gravar o novo disco, por isso ele estava tomando decisões ditatoriais para mostrar ao outros o quão Siamese Dream seria importante em suas vidas. Mas isso também estava fora de controle porque ele, como todo depressivo suicida, chegou ao extremo e só pensava em morrer. Então, ao ver que era a chance de deixar sua marca no mundo, acabou indo muito além dos limites psicológicos de quem o acompanhara até ali.

Com o aumento no custo, a gravadora Virgin começou a pressioná-los para entregar o álbum, mas Vig estava muito cansado após quatro meses trabalhando 16 horas por dia no estúdio. Foi aí que veio a ideia de contar com Alan Moulder, engenheiro de som de Loveless, do My Bloody Valentine, para fazer a mixagem do disco. Quase 150 dias depois do início dos trabalhos, enfim, ficou pronto. Lançado em 27 de julho de 1993, Siamese Dream estreou no top-10 das paradas e foi muito elogiado por público e crítica, e virou um dos grandes lançamentos dos anos 1990.

Apesar de ter feito um trabalho espetacular, as feridas abertas ao longo do processo de gravação seriam aumentadas ao longo dos anos seguintes e culminariam com a dissolução da formação original. Mas, sem dúvida alguma, eles entraram na história com um dos melhores discos de todos os tempos.



Resenha de Siamese Dream

Abrir um disco falando da relação da música indie (não a de hoje, claro) com o mainstream e a mídia especializada é uma baita crítica para quem estava subindo nos degraus da fama. "Cherub Rock" tem tudo que um bom shoegaze traz: muitos efeitos na guitarra e uma melodia bem consistente, aliados de Billy Corgan inspirado no vocal. Uma das ótimas músicas da década. E não foi de graça que o Smashing Pumpkins foi comparado com as bandas grunges, porque "Quiet" caberia muito bem no repertório do Soundgarden ou até mesmo do Nirvana.



Uma das melhores músicas escritas por Corgan em toda sua carreira, "Today" é uma balada cheia de dor, sofrimento, depressão e morte, coisas que passavam pela cabeça do cantor e compositor principal da banda todos os dias nesse shoegaze inspirado no My Blood Valentine. Mesmo com o teor pesado e sombrio, acabou virando a grande canção da história do grupo – só ouvindo para ter a noção de sua grandeza.



"Hummer" já parte para uma linha mais de distorção e improviso na melodia, enquanto a voz parece um sussurro em seu ouvido em um tom quase religioso, quase um tom de “me salve, por favor” ao implorar por amor nessa vida tão cheia de altos e baixo que todos nós temos, já "Rocket" mostra um Corgan cansado das comparações que as pessoas faziam entre ele, Kurt Cobain e Perry Farrell. O verso inicial (Bleed in your own light/ Dream of your own life/ I miss me/ I miss everything I'll never be) é uma pancada incrível que gosta de comparar seres humanos diferentes.

E o desabafo não parou por aí, e vem "Disarm", uma das favoritas do vocalista. O arranjo de cordas, o vocal desesperado, a melodia soturna, todos os elementos conseguem colocar o ouvinte em um clima de absoluta tristeza e consternação. Banida de algumas rádios pelo mundo, ela é outra canção história da banda que está presente neste disco. Com a coautoria de James Iha, "Soma" foi inspirada no fim do casamento de Billy e, além disso, fala da ideia de um amor ideal e as complicações de um relacionamento.



Considerada por Butch Vig uma das melhores performances de um baterista, "Geek U.S.A." realmente tem a dupla Corgan e Jimmy Chamberlin muito bem – a faixa tem tanto peso que parece ter sido inspirada nos melhores momentos do Nirvana. Outra genialidade musical do compositor aparece aqui, no caso é "Mayonaise". Em mais uma sem vergonha alguma de explanar sua dor interna, ele amaldiçoa demônios e pede apenas conhecimento para tentar entender. É quase impossível não chorar ouvindo.

O início instrumental de mais de um minuto de "Silverfuck" é interessante para quem, por exemplo, nunca ouviu o disco. Porque é uma das mais pesadas já gravadas por eles, uma mistura de shoegaze com progressivo, tudo meio que unido por uma onda liderada por um cara só que improvisa o quanto pode na guitarra. De novo batendo na tecla da mudança, Corgan faz muitos questionamentos em "Sweet Sweet", e aproveita para encerrar o trabalho com "Luna", uma faixa que é uma declaração de amor – muitos falam que é para Courtney Love, então mulher de Cobain.



É um disco muito difícil de não se identificar. Desde as questões sobre a vida até a declaração de amor no final, Billy Corgan conseguiu colocar em letra o sentimento de milhões de pessoas pelo mundo. É um trabalho que não envelhecerá.

Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Cherub Rock"
2 - "Quiet"
3 - "Today"
4 - "Hummer"
5 - "Rocket"
6 - "Disarm"
7 - "Soma" (Billy Corgan e James Iha)
8 - "Geek U.S.A."
9 - "Mayonaise" (Corgan e Iha)
10 - "Spaceboy"
11 - "Silverfuck"
12 - "Sweet Sweet"
13 - "Luna"

Todas as canções foram escritas por Billy Corgan, exceto as marcadas.

Gravadora: Virgin
Produção: Butch Vig e Billy Corgan
Duração: 62min17s

Billy Corgan: vocais, guitarra, baixo, melotron em "Spaceboy" e arranjo de cordas
James Iha: guitarra e vocais de apoio
D'arcy Wretzky: baixo e vocais de apoio
Jimmy Chamberlin: bateria

Convidados:

Mike Mills: piano em "Soma"
Eric Remschneider: arranjo de cordas e violoncelo em "Disarm" e "Luna"
David Ragsdale: arranjo de cordas e violino em "Disarm" e "Luna"
Butch Vig: arranjo de cordas


Veja também:
Discos para história: Rage Against the Machine, do Rage Against the Machine (1992)
Discos para história: Licensed to Ill, dos Beastie Boys (1986)
Discos para história: Funeral, do Arcade Fire (2004)
Discos para história: Help!, dos Beatles (1965)
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