Resenha: Altan – The Widening Gyre


The Widening Gyre é o 11º disco de estúdio do Altan, uma banda de folk irlandesa. Mas não é apenas uma banda de folk, é uma banda de folk irlandês tradicional. Ou seja, as referências são os ritmos dos séculos 17, 18, 19, a base da música tocada por muita gente nos Estados Unidos, e com sucesso, nos anos 1940, 1950 e 1960 – Bob Dylan e Pete Seeger, por exemplo. E para melhorar, foi gravado em Nashville, Meca da música country americana.

O três em um "Maggie's Pancakes/Píobaire an Chéide/The Friel Deal (Reels)" é uma bela mostra do que é o folk irlandês tradicional, o avô do folk moderno – não sei se o termo é exatamente esse, mas assim é mais fácil para explicar. Ela é instrumental e simples, e dá uma boa base das pretensões do álbum. Então, vem a pedrada. E não é uma pedrada comum, é aquele que derrete até o mais gelado dos homens. "No Ash Will Burn" emociona, do início ao fim, com seu teor tradicional, a mescla de vozes masculina e feminina e a letra. Tudo junto faz qualquer coração se desmanchar em lágrimas.

Mais uma instrumental, "Buffalo Gals/Leather Britches (Lord McDonald's Reel)/Leslie's Reel" é tão tradicional, que eu acredito se me falarem que foi gravada durante uma festa em alguma fazenda no século 19. Baseada em uma faixa lançada em 1950, "Má Théann Tú 'un Aonaigh" tem uma mensagem muito simples: que todo jovem deveria explorar o mundo, com respeito ao próximo e boas ações.

A ótima instrumental "A Tune for Mairéad and Anna Ní Mhaonaigh" antecede "White Birds", canção feita em cima de um poema do irlandês W.B. Yeats – ele fala sobre um homem que teve uma proposta de casamento rejeitada. E em instrumental, "The Tin Key/Sam Kelly's Jig/The Gravediggers" parece ter sido feita para algum filme do Senhor do Anéis ou do Hobbit.

A inspiração de "Cúirt Robin Finley" saiu de uma composição de Máire Rua Ní Mhaigha, moradora das montanhas no País de Gales. Ela fala sobre a utopia da felicidade plena com artifícios que não duram para sempre, como saúde, dinheiro, amor e a felicidade. É muito recomendável para quem deseja refletir um pouco sobre si mesmo, afinal estamos todos presos aqui e, nem que seja um pouco, presos a essa utopia. Nona música, "The House Carpenter (Gypsy Davy)" é muito tradicional e parece ter saído direto de alguma cidade litorânea do século 18 para o álbum.

Com um ar mais celta, "Samhradh/Aniar Aduaidh/The Donegal Jig" usa bons recursos para colocar o ouvinte para dançar um pouco. Depois o clima fica um pouco mai pesado, parecido com Game of Thrones, por exemplo. E "Lurgy Stream", canção sobre o rio Donegal, saiu do tradicional para ganhar uma releitura (mesmo, incluindo mudanças na letra) sobre como o rio é parecido com a vida. As três canções finais incluem um bluegrass ("The Triple T"), um folk melancólico sobre a perda de um pai ("Far Beyond Carrickfinn") e uma só com os instrumentos sobre as belas montanhas da costa oeste da Irlanda ("The Road Home").

Um dos melhores discos que ouvi em 2015, com certeza. Seu estilo delicado, misturando ritmos que se casam muito bem, a delicadeza aliada com uma melancolia deixou tudo muito humano, muito palpável. Confesso que foi quase impossível segurar as lágrimas, porque é o disco que penetra na sua alma e faz pensar em muita coisa. É para ter em casa, em vinil, para ouvir com tranquilidade e sem anseio.

Tracklist:

1 - "Maggie's Pancakes/Píobaire an Chéide/The Friel Deal (Reels)"
2 - "No Ash Will Burn"
3 - "Buffalo Gals/Leather Britches(Lord McDonald's Reel)/Leslie's Reel"
4 - "Má Théann Tú 'un Aonaigh"
5 - "A Tune for Mairéad and Anna Ní Mhaonaigh"
6 - "White Birds"
7 - "The Tin Key/Sam Kelly's Jig/The Gravediggers"
8 - "Cúirt Robin Finley"
9 - "The House Carpenter (Gypsy Davy)"
10 - "Samhradh/Aniar Aduaidh/The Donegal Jig"
11 - "Lurgy Stream"
12 - "The Triple T"
13 - "Far Beyond Carrickfinn"
14 - "The Road Home"

Nota: 5/5


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