Discos para história: Rage Against the Machine, do Rage Against the Machine (1992)


A 82ª edição do Discos para história fala sobre o primeiro álbum do Rage Against the Machine. Com o nome do grupo, esse trabalho abriu portas para um estilo de música diferente e contestador, algo que não aparecia no mainstream com tanta força há muito tempo.

História do disco

Das inúmeras bandas que surgem todos os dias, quantas pode dizer que lançaram um disco em um ano e no outro eram a atração principal de um festival gigante nos Estados Unidos? Essa é a história dos primeiros meses de atividade do Rage Against the Machine logo depois de lançar seu disco de estreia. Aliás, um dos melhores álbuns dos anos 1990.

Como em muitas histórias de formação de grupos históricos, o Rage Against the Machine começou com um encontro um tanto inusitado. Depois de sair de sua antiga banda, Tom Morello foi a um show e viu Zack de la Rocha fazendo o que no hip-hop chama-se de Freestyle – quando o cantor usa uma base pronta, ou não, e sai versos em improviso. Morello gostou do viu e convidou De La Rocha para montar uma banda.

Utilizando do mesmo artifício, o guitarrista viu Brad Wilk em um show e o convenceu a largar sua banda para entrar no futuro Rage Against the Machine. Mas aí faltava um baixista. Foi quando De la Rocha teve a ideia de chamar Tim Commerford, um amigo de muitos anos que tocava baixo. Com o grupo formado, faltava um nome. Uns afirmam que uma faixa composta pelo vocalista, outros que o nome foi retirado de uma fanzine chamada No Answers em 1989.


Depois de algumas apresentações ao vivo, várias gravadoras foram atrás para tentar um contrato, mas esbarravam na condição imposta pelos quatro: eles não abriam mão do controle criativo. E controle criativo leia-se tudo, desde as composições até o projeto gráfico do álbum. A única que concordou com todos os termos foi a Epic, e foi com ela que eles firmaram o primeiro contrato profissional. A liberdade que o selo deu resultou em um repertório totalmente político e cheio de letras sobre como a situação do povo é difícil.

A capa traz o monge Mahayana Thích Quảng Đức pegando fogo. Em Saigon, em 1963, em um protesto contra a opressão ao budismo que o governo de Ngo Đình Diệm estava exercendo, Quảng Đức ateou fogo em si mesmo. A foto, uma das mais icônicas do século 20, Malcolm Browne ganhou inúmeros prêmios e entrou para a história.

Uma das grandes estreias dos anos 1990 é lembrada até os dias de hoje. Seja pela mistura de ritmos, seja pelas composições políticas e afiadas contra o sistema, o fato é que o Rage Against the Machine conseguiu expressar em letras o sentimento de muitas pessoas do mundo.



Resenha de Rage Against the Machine

A introdução de "Bombtrack", com o baixo ditando todo ritmo até que a bateria cresce para o grito de Zack de la Rocha, já é uma das grandes coisas desse disco em uma das muitas letras de protestos da banda que ficaram famosas pelo mundo. Aliás, não é incomum ver essa faixa como trilha sonora de momentos tensos de filmes, documentários e de matérias sobre confrontos entre determinado grupo contra a polícia. O riff é uma das primeiras grandes coisas da carreira de Tom Morello, um especialista no assunto – a capa do single tem a foto de Che Guevara.



Com a letra proibida no encarte original, "Killing in the Name" e fala sobre brutalidade da polícia, racismo e ainda faz uma alusão a Ku Klux Klan. Muitas estações de rádio não tocaram a música pela quantidade de palavrões e palavras de ordem. É possível sentir a raiva de De la Rocha no vocal gritado enquanto a banda imprime um ritmo pesado, incluindo Morello e uma mostra mais concreta de seus reconhecidos solos.



Em "Take the Power Back", temos a letra mais direta no quesito movimento de esquerda contra o capitalismo, os Estados Unidos e a alienação, e é faixa em que, claramente, escancaram a insatisfação (um exemplo claro é o verso Ignorance has taken over/ We gotta take the power back/ Bam, here's the plan/ Mother fuck uncle Sam/ Step back I know who I am/ Raise up your ear, I'll drop the style and clear/ It's the beats and lyrics they fear/ The rage is relentless/ We need a movement with a quickness/ You are the witness of change and to counteract/ We gotta take the power back). Com teor pessoal e ainda mais raivosa que as anteriores, "Settle for Nothing" fala de abandono e de como era ser uma criança pobre sem pai. Não deixa de ser triste.



Depois das duas primeiras, "Bullet in the Head" foi outra que acabou ganhando imensa popularidade entre os fãs por falar sobre como o governo usa a mídia para controlar a população. Aqui é outro grande momento de Morello em outro solo inesquecível de guitarra, enquanto "Know Your Enemy" fala de conhecer bem o inimigo, no caso as grandes corporações e as figuras de autoridade, para tentar combatê-los. A canção conta com a participação de Maynard James Keenan nos vocais de apoio e no verso antes da parte final.



Ao insinuar que FBI tramou os assassinatos de Malcolm X e Martin Luther King Jr., "Wake Up" é a música que Rage Against the Machine fez para bater de frente com o governo americano, principalmente ao citar o discurso feito por MLK na pós-passeata entre Selma e Montgomery – e tema do filme Selma, lançado ano passado. Claro que isso lançou muita polêmica, principalmente para quem é mais à direta na questão política, mas não deixa de ser uma reflexão interessante.

Em mais uma que parece ser biográfica, "Fistful of Steel" tem um De La Rocha fazendo o que sabe de melhor: rimar com bastante raiva contra o sistema. E uma banda bem afiada na parte instrumental (o baixo é um absurdo), já "Township Rebellion" incentiva o povo a se rebelar em qualquer lugar do mundo para tentar melhorar suas vidas. Para encerrar, o grito de liberdade final é com "Freedom" – o clipe fala de Leonard Peltier, um dos líderes do Movimento dos Índios Americanos, preso em 1975 depois de matar um membro do FBI durante um conflito. Sua condenação é considerada uma das mais injustas da história dos Estados Unidos, pois alegam que as provas foram adulteradas para culpá-lo.

A estreia do RATM foi um tapa na cara da sociedade conservadora dos Estados Unidos. Esse então grupo de jovens levou a mensagem que eles acreditavam ao grande público, e muitos jovens compraram esse discurso e começaram a lutar por uma vida melhor para eles.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Bombtrack"
2 - "Killing in the Name"
3 - "Take the Power Back"
4 - "Settle for Nothing"
5 - "Bullet in the Head"
6 - "Know Your Enemy" (feat. Maynard James Keenan)
7 - "Wake Up"
8 - "Fistful of Steel"
9 - "Township Rebellion"
10 - "Freedom"

Todas as músicas foram compostas pelo Rage Against the Machine.

Gravadora: Epic
Produção: Garth Richardson e Rage Against the Machine
Duração: 52min52s

Tim Commerford: baixo e vocais de apoio
Tom Morello: guitarra
Zack de la Rocha: vocal
Brad Wilk: bateria e percussão

Convidados:

Maynard James Keenan: vocais em "Know Your Enemy"
Stephen Perkins: percussão em "Know Your Enemy"


Veja também:
Discos para história: Licensed to Ill, dos Beastie Boys (1986)
Discos para história: Funeral, do Arcade Fire (2004)
Discos para história: Help!, dos Beatles (1965)
Discos para história: Parallel Lines, do Blondie (1978)
Discos para história: On The Beach, de Neil Young (1974)
Discos para história: Led Zeppelin II, do Led Zeppelin (1969)
Discos para história: (What's the Story) Morning Glory?, do Oasis (1995)

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