Resenha: Vijay Iyer Trio – Break Stuff


Por Gabriel Carvalho

Vijay Iyer é um pianista norte-americano, filho de imigrantes indianos. Sua discografia solo, com início em 1995, é extensa, assim como a lista de colaborações – não só com outros artistas, mas também em diversos projetos, sendo um destes no departamento de música da Universidade de Harvard. Além dos trabalhos citados, o músico ainda consegue separar tempo para mais uma empreitada: o Vijay Iyer Trio, ao lado de Marcus Gilmore (bateria) e Stephen Crump (contrabaixo).

Break Stuff é o terceiro disco do trio – antes, vieram Historicity, de 2009, e Accelerando, de 2012. Por carregar o nome do pianista, já dá pra imaginar que é Iyer quem comanda as ações durante o disco, sendo o grande destaque. Em “Starlings”, Gilmore e Crump ditam o ritmo (com uma leve pitada de hip-hop) e marcam o caminho que Iyer segue na medida certa para aquilo que a canção pede. 

“Chorale” já tem um pouco mais de jazz, mas tempos complexos até mesmo para o gênero, com um solo brilhante de Iyer no final. Assim como “Diptych”, que tem o baixo de Crump marcando o ritmo para Iyer brilhar mais uma vez. “Hood” surge com uma levada de música eletrônica e é a faixa mais experimental do disco, ao lado de “Taking Flight” – esta, de difícil audição, com suas métricas não tão comuns às músicas mais tradicionais. Na faixa-título, Iyer mostra todo seu virtuosismo, mas há espaço para Gilmore e Crump brilharem também. 

Das doze músicas do disco, três são covers. E na hora de montar este repertório, o trio foi beber nas fontes clássicas: “Work”, de Thelonious Monk, não difere muito da versão original, a não ser pelo tom mais grave. “Blood Count”, de Billy Strayhorn – compositor e parceiro de Duke Ellington – é ainda mais singela aqui do que na execução de Ellington, talvez pela ausência de um naipe de metais (o que não deve ser entendido como um ponto negativo para nenhum dos lados, neste caso); “Countdown”, de John Coltrane, ganha praticamente um trecho novo até quase a metade da interpretação do trio, quando enfim o ouvinte a reconhece.

“Mystery Woman” soa como se houvesse um baterista nas canções de música clássica desde sempre; “Geeze”, após um início em que Crump traz um som diferente ao usar um arco e efeitos no contrabaixo, ganha doses generosas de hip-hop marcadas pela bateria de Gilmore; “Wrens” encerra o álbum como se o Vijay Iyer Trio quisesse dizer ao ouvinte: “Ei, você passou por uma experiência sonora intensa, tome uma dose de tranquilidade e relaxe”.

Break Stuff pode ser resumido assim: uma experiência sonora intensa. Nem tanto por experimentalismos em relação aos timbres, mas pela mistura de gêneros e uso de métricas complexas. Trata-se de um disco para ser digerido aos poucos, uma audição não é suficiente para apreciá-lo em sua plenitude. No fim das contas, esse “trabalho digestivo” traz uma bela recompensa.

Tracklist:

1 – “Starlings”
2 – “Chorale”
3 – “Diptych”
4 – “Hood”
5 – “Work”
6 – “Taking Flight”
7 – “Blood Count”
8 – “Break Stuff”
9 – “Mystery Woman”
10 – “Geese”
11 – “Countdown”
12 – “Wrens” 

Nota: 4,5/5



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