Resenha: Radiohead – A Moon Shaped Pool


Nono álbum de estúdio da banda foi lançado no último domingo

O Radiohead não precisava lançar nenhum novo disco de estúdio para mostrar qualquer coisa que fosse. Sinceramente, achei que a banda havia entrado em um hiato ao melhor estilo Los Hermanos, mas me enganei. Os últimos dias têm sido intensos para os fãs da banda, que viram o lançamento de A Moon Shaped Pool como uma grande surpresa. Com pompa e muita expectativa, o novo trabalho do grupo foi disponibilizado no último domingo no Tidal.

Esse novo trabalho deles começa com o primeiro single: "Burn the Witch" tem todo um clima estranho e diferente, mas bate muito com a proposta da banda no trabalho anterior – de experimentar muito – e com o que Thom Yorke e Jonny Greenwood vêm fazendo em seus projetos por aí. Dá para ouvir claramente a influência da música clássica nessa abertura, um ganho sempre bom quando bem usada.

"Daydreaming" abre o momento de melancolia profunda desenvolvido pelo Radiohead nos últimos anos. Mas até o melancólico tem sua beleza, exatamente o que a banda consegue passar ao público. A junção desse estilo de letra com essa escolha muito específica de instrumentos, barulhos e arranjos conseguem tocar o ouvinte mais atento – principalmente se for um fã com bastante conhecimento da discografia.

Em um Yorke com sua guitarra, o disco em si é uma peça para ser ouvida com cuidado. E "Decks Dark" traz isso de maneira sublime. Ouvida com atenção, a faixa mostra alguns conceitos musicais interessantes e ainda há o fato de não ser uma música fácil. Por isso, não estranho se as pessoas detestarem esse álbum. Até a influência da música folk aparece, no caso em "Desert Island Disk". Com efeitos leves ao fundo, ela tem uma toada muito bonita ao misturar o passado e o presente.

"Ful Stop" lembra muito o trabalho do disco anterior, The King of Limbs, pelo experimentalismo em excesso, já "Glass Eyes" tem um arranjo tocante e muito bonito, sendo o momento ideal para o ouvinte pensar nas músicas tocadas até aqui. E "Identikit" tem cara de próximo single – é a canção ideal para isso – por se aproximar bastante das duas primeiras faixas.

Todos os conceitos apresentado até aqui se encontram na ótima "The Numbers", o auge disso tudo e com bastante jeito de clássico da banda pelos próximos anos. Se "Present Tense" funciona bem em seu papel de anteceder a parte final disco, "Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief" é aquela para arrasar corações machucados sem a mínima piedade.

Falam por aí que a revisão de "True Love Waits" significa o final do grupo, que será a última música. Se for, é um belo encerramento, até mesmo um resumo da carreira do Radiohead. Revistar sua própria música e deixar ainda é melhor é fato raro até mesmo para boas bandas. Porque eles se dão ao luxo de lançar o que desejam fazer naquele momento, algo difícil mesmo para veteranos. O álbum é muito bom ao mostrar sensibilidade das composições, e eles mostram que cada vez mais aquele grupo que fez sucesso com guitarras altas está em um passado cada vez mais distante. O futuro é agora.

Tracklist:

1 - "Burn the Witch"
2 - "Daydreaming"
3 - "Decks Dark"
4 - "Desert Island Disk"
5 - "Ful Stop"
6 - "Glass Eyes"
7 - "Identikit"
8 - "The Numbers"
9 - "Present Tense"
10 - "Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief"
11 - "True Love Waits"

Nota: 4/5



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