Resenha: David Gilmour – Rattle That Lock


No último ano e meio, David Gilmour mostrou-se um cara com desejo de tocar uma carreira. Ao lançar um trabalho novo e encerrar as atividades de vez do Pink Floyd de maneira muito digna em The Endless River, ele não só conseguiu atrair os fãs da banda para o álbum como também viu uma boa chance de colocar um novo material de estúdio na praça. E assim nasceu Rattle That Lock, quarto trabalho em estúdio.

O início com tons de ópera de "5 A.M." mostra como Gilmour se especializou em mesclar o erudito e sua guitarra em um tipo de música fina e interessante de se ouvir, principalmente a medida que a melodia vai ganhando contornos e é possível entender o que está acontecendo após os segundos iniciais. Logo depois, vem a mais fácil de ouvir do disco: "Rattle That Lock". A curiosidade da faixa, composta por Polly Samson e inspirada no livro Paradise Lost, de John Milton (1608 – 1674), (sobre a justificativa de Deus aos homens usando exemplos bíblicos), é que ela foi gravada em um iPhone antes de ser mostrada aos músicos. A gravação simples se refletiu no disco, pois a segunda faixa do trabalho é, de longe, a mais radiofônica de todas.

"Faces of Stone" mantém o álbum dentro da linha mais erudita, a se destacar o belo arranjo de cordas que deixa toda música no trilho certo – aliás, já com três canções, é fácil perceber o tom Medieval, dando a impressão de que as letras poderiam virar uma bela peça de teatro sobre o século 17. A seguinte, "A Boat Lies Waiting", é menos encantadora do que a anterior e do que a próxima, a bonita "Dancing Right in Front of Me" e todos os seus atos de início, meio e fim.

Sempre em períodos tristes da humanidade, como no momento em que o Estado Islâmico está fazendo o que está fazendo, natural que surja um tipo de música que serve para refletir sobre isso. Talvez não seja o caso especifico de "In Any Tongue", mas, inevitavelmente, faz pensar fora do nosso umbigo e refletir alguns assuntos de uma perspectiva mais global. A etérea e instrumental "Beauty" antecede o standard "The Girl in the Yellow Dress", que soa uma volta aos bares dos anos 1940 – o solo de saxofone é de chorar de tão lindo.

"Today" soa música de igreja no primeiro minuto, mas isso muda bem quando Gilmour entra e dá a ela uma pega bem pop dançante (provavelmente, ganhará algum remix de algum DJ famoso). O disco encerra na instrumental "And Then...", mostrando todo talento de Gilmour no instrumento.

Com participações especiais de nomes como David Crosby, Graham Nash, o apresentador Jools Holland e até de Richard Wright (1943 - 2008), ex-Pink Floyd, o novo álbum solo de David Gilmour soa uma continuação do último disco de sua ex-banda, lançado no final de 2014. Deixando essa sensação no ar, fica claro que ele será lembrado por seu legado, que ele não faz o menor esforço de esconder e ainda o tem como base de sua carreira solo.

Tracklist:

Lado A

1 - "5 A.M."
2 - "Rattle That Lock" (Polly Samson)
3 - "Faces of Stone"
4 - "A Boat Lies Waiting" (Samson)
5 - "Dancing Right in Front of Me"

Lado B

6 - "In Any Tongue" (Samson)
7 - "Beauty"
8 - "The Girl in the Yellow Dress" (Samson)
9 - "Today" (Samson)
10 - "And Then..."

Nota: 3,5/5



Veja também:
Resenha: Keith Richards – Crosseyed Heart
Resenha: John Pizzarelli – Midnight McCartney
Resenha: Thee Oh Sees – Mutilator Defeated At Last
Resenha: Beirut – No No No
Resenha: The Libertines – Anthems for Doomed Youth
Resenha: BNegão e Seletores de Frequência – Transmutação
Resenha: Langhorne Slim and The Law – The Spirit Moves

Gostou do conteúdo? Compartilhe nas redes sociais! Isso ajuda pra caramba o blog a crescer e ter a chance de produzir mais coisas bacanas.