Lendas da música: Joey Ramone


"Estou cansado de não vender discos", disse Joey Ramone, em algum dia de 1979, tão baixo que só o atento repórter da revista Rolling Stone conseguiu pegar. "Quero chamar mais pessoas para os shows, fazer algo acontecer. Se o novo álbum não for um sucesso, eu vou me matar". O sentimento de não conseguir vender discos perdurou até os últimos dias de sua vida, mas ainda bem que o vocalista de, hoje, uma das bandas mais famosas do mundo conseguiu deixar um legado às gerações futuras. É sobre o vocalista de uma das grandes bandas dos anos 1970 o novo Lendas da Música.

Jeffrey Ross Hyman, nascido em 19 de maio de 1951, viveu boa parte de sua vida no Queens, em Nova York. Enquanto crescia, acabou sendo um daqueles garotos excluídos pelos outros sabe-se lá o motivo – talvez por ser alto, desengonçado e com Transtorno Obsessivo Compulsivo, o popular TOC. Como muitos garotos excluídos, ele acabou focando sua energia e bastante tempo livre na música. Fã de Beatles, David Bowie, Stooges e The Who, ganhou uma bateria aos 13 anos e aprendeu a tocá-la, o que deu a chance de ele e seus únicos amigos John Cummings e Thomas Erdelyi, futuros Johnny e Tommy Ramone, de fundarem o Tangerine Puppets – o meio tempo era dividido com o Sniper, banda em que o ainda Jeffrey era vocalista.



Quando o rebelde Douglas Colvin (Dee Dee Ramone) se mudou para região, logo ficou amigo dos Tangerine Puppets, e isso gerou um convite para ele tocar baixo. Com a recusa inicial de Erdelyi em fazer parte do grupo, a primeira formação dos Ramones teve Colvin nos vocais e no baixo, Cummings na guitarra e Hyman na bateria. E foi de Colvin a ideia de chamar a banda de Ramones, inspirado pelo pseudônimo que Paul McCartney usava quando queria viajar – Paul Ramon.

Dee Dee, durante os primeiros ensaios, descobriu que não conseguia tocar baixo e cantar ao mesmo tempo e foi convencido a abrir mão do posto de vocalista, que parou com o ainda baterista Joey. Mas havia outro problema: Joey não conseguia tocar bateria e cantar, então ele foi transferido de cargo e a bateria ficou vaga. Depois de algumas semanas, Thomas Erdelyi foi finalmente convencido, escolheu seu nome Ramone e entrou para banda. Assim estava feita a formação original dos Ramones, que faria história em noites para lá de épicas no CBGBs.



Tímido, demorou muito tempo até Joey virar um frontman de respeito e impor suas ideias na banda, comandada a pulso firme por Johnny até o último minuto de atividade. Por exemplo, nas primeiras entrevistas, Johnny, Dee Dee e Tommy dividiam as falas na hora de falar sobre o grupo. O garoto ainda não havia virado um adulto. O espírito do adolescente sobrevivia através de suas letras românticas, algo estranho para uma banda punk, mas não incomum para ele.

Seu vocal, muito diferente dos outros por ser cheio de gírias e sem treinamento algum, seria outra de suas marcas registradas e viraria uma das vozes mais reconhecíveis da música americana, e isso o ajudaria muito no estúdio. Segundo o empresário Seymour Stein, Joey entrava no estúdio parecendo “um burro de carga” e disposto a trabalhar várias horas por dias, gravando ou compondo, para entregar um resultado ao menos satisfatório aos envolvidos nas gravações dos álbuns. E ele ainda arrumava tempo para participar de passeatas e lutar pelos direitos civis.

Joey nunca reclamou publicamente de o grupo não conseguir boas posições nas paradas de sucesso, preferindo enaltecer o legado e a legião de fãs conquistados ao longo dos anos, apesar de, uma vez ou outra, demonstrar uma ponta de mágoa com relação ao assunto. Morador de Nova York, ele andava normalmente pelas ruas, ia a shows e nunca desprezou um fã quando encontrava com um. “Ele era atencioso”, disse David Fricke, hoje editor-sênior da Rolling Stone, no obituário do cantor.



Uma inevitável mancha é a briga com o então amigo Johnny, que, segundo depoimentos, roubou a namorada de Joey. A ferida ficou aberta até os últimos dias dos Ramones e não melhorou nada com o fim da banda. Os dois nunca mais se falaram, e foi até por isso, e outras coisas, que a banda resolveu encerrar suas atividades.

O último disco dos Ramones, lançado em 1995, abre com o clássico “I Don’t Want to Grow Up”, de Tom Waits, mostrando uma posição bem firme de Joey sobre sua vida. Nesse período, ele descobriu o linfoma, doença que o mataria em abril de 2001. Nos piores momentos, ele não ia ao estúdio por não se sentir bom o suficiente para gravar seu primeiro disco solo, lançado meses depois de sua morte. Em dezembro de 2000, ele caiu enquanto caminhava pela rua e deu entrada no hospital, saiu em fevereiro, mas retornou poucos dias depois. Ele não sairia mais de lá com vida.



Em uma de suas últimas entrevistas, ele disse: "Os Ramones eram, e são, uma puta banda do caralho. Quando nós tocávamos, era tudo muito intenso, tipo o The Who nos anos 1960. Quando coloquei Ramones no aparelho de som agora, nós ainda soamos muito bem. E isso sempre estará lá. Quando você precisar de motivação ou conserto, nós estaremos lá”.

Mais do que qualquer outra pessoa do rock and roll, Joey mostrou que a música aceita qualquer um, até mesmo os excluídos de alguma forma pela sociedade. Joey foi muito mais do que um cantor de uma banda, ele foi um super-herói de jaqueta de couro que mudou a vida de milhões de pessoas pelo mundo. É por isso que nunca será ‘é só uma música’ quando se fala dos Ramones. E nunca será ‘só um vocalista’ quando alguém falar de Joey Ramone.



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