Brasil, um país dos espertos

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Saiu na coluna do Lauro Jardim, no site da Veja, que o Lollapalooza Brasil vendeu 95% de seus ingressos para estudantes. Ou seja, o festival teve, quase em sua totalidade, estudantes que pagaram R$ 175. Temos muito para comemorar porque, pelo visto, somos uma potência na educação e temos um futuro brilhante pela frente como nação desenvolvida e próspera.

Só que não.

O que acontece, e não é a primeira vez e nem será a última, é que metade desses 95% tem carteirinha de estudante falsa e arrumaram um ‘jeitinho’ para entrar no festival pagando apenas meia-entrada.

A carteirinha de estudante foi criada para incentivar pessoas que estão estudando, seja na escola, faculdade ou cursinho técnico, a frequentarem teatro, cinema e shows por apenas 50% do valor. Ela, pagando a metade do preço das outras pessoas ‘normais’, tem todos esses benefícios. Mas isso mudou muito ultimamente.

Com a UNE [União Nacional dos Estudantes] cada vez mais próxima da política, a distribuição disso virou uma palhaçada eleitoreira e serve apenas para ganhar votos. E tente questionar. Eles vêm com 200 argumentos diferentes para explicar o motivo de isso seguir firme. Fora que existem os falsificadores profissionais. Por um precinho bem camarada, existem maneiras de conseguir uma carteirinha de estudante bem fiel a que é distribuída em faculdades e cursinhos.

Neste ano, os organizadores do Lolla Brasil afirmaram que o preço justo do ingresso é de, vejam bem, R$ 175. Isso mesmo, o valor da meia-entrada seria o ideal para assistir qualquer um dos três dias de shows. Mas sabendo dessa quantidade absurda de carteirinhas, é necessário inflacionar o preço para equalizar as contas.

Fico me perguntando como ficam esses 5% que pagaram o valor cheio do ingresso (R$ 350). Ficam com cara de trouxa, imagino. E é por essas e outras que as falsificações e mais e mais lugares, digamos, estranhos dão esse tipo de benefício, que só existe por aqui. Em outros lugares do mundo, pelo que sei, o preço cobrado é sempre justo, e os ingressos evaporam como água na chaleira. Um exemplo disso é o Coachella, que acontece neste final de semana. Mesmo sem a confirmação de atrações, as entradas acabaram no ano passado e o festival vai acontecer com lotação máxima nos três dias.

Apesar de ter uma carteirinha de estudante (fiquei sabendo apenas ano passado que cursos de idiomas entram na categoria curso técnico), sou totalmente contra isso que, repito, é uma ação totalmente eleitoreira que beneficia poucos e ajuda a proliferar as falsificações. Sou favorável a acabar com isso de uma vez. Acredito que seria até uma espécie de incentivo, uma vez que muitas pessoas que não detêm proveito disso poderiam voltar a frequentar cinemas, teatros e shows mais vezes na semana, e acabaria com a farra dos aproveitadores de plantão.

Comentários

  1. Simples. Se você é contra, não use sua carteirinha de estudante. Em 2011, eu comecei a fazer pós-graduação e larguei no meio. A carteirinha valia até o final de 2012. Eu simplesmente não usava, porque sou contra o mau uso da carteirinha. Meu salário não é tão ruim que me impeça de ir ao cinema pagando dobrada (que por marketing é chamada de inteira), por menos que eu goste disso. Mas eu SEI que quanto mais gente pagar meia indevidamente, pior fica o preço pra trouxas como eu.

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  2. Pois é, um país de estudantes que vai cada vez pior nas avaliações de educação quando se compara com outros países.
    Eu me pergunto se há interesse, de alguma parte: estudantes e estabelecimentos de acabar com a meia entrada.
    Se R$175,00 era o preço justo, então a meia-entrada seria R$87,50, algum esperto pagou esse preço? Não, 95% pagou o preço cheio, e 5% pagou o dobro. E se existe um mercado de carteirinhas falsificadas, os organizadores sabem que a chance de lotar os espetáculos são grandes, sendo assim, colocam o preço cheio como 1/2 entrada, e dobram o preço pros trouxas que ainda acham que a honestidade é um valor que se deve levar durante toda a vida. Eis o ciclo vicioso: o "estudante" continua falsificando, pq sabe que os organizadores jamais vão colocar o preço correto nos shows.
    Isso nos mostra que ser honesto custa caro. Eu não sabia que cursos de idiomas eram considerados técnicos agora, mas dessa forma tenho direito a pedir uma carteirinha verdadeira, porém não sei se um dia irei solicitá-la.

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  3. O errado não é existir a carteirinha de estudante. O errado é ter a carteira falsa. Então, uma solução seria, de alguma forma, fiscalizar as carteirinhas, ou os órgãos que as emitem. Um cadastro único de estudantes com informações fornecidas pelas instituições de ensino, no qual pode se verificar se tal pessoa é realmente estudante daquela instituição que consta na carteira, por exemplo. Maneiras de se fiscalizar existem. Agora deve pesar se vale a pena todo o investimento para a fiscalização das carteiras ou se é menos oneroso acabar com o benefício.
    Além disso, acabar com o benefício NÃO é garantia que o realizador do show reduza o preço dos ingressos.

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  4. Você apresentou bons argumentos. Realmente e infelizmente existe muitas carteiras falsas e muita gente se aproveitando disso e complicando a vida de outros. Mas não acho q deveria acabar não, pois diante de tudo isso, ainda existe gente honesta e que necessita desse "desconto" da meia passagem ou meio ingresso. Tem muita gente ainda que vende o almoço pra poder jantar. Acho que a solução seria existir (duvido) uma fiscalização mais rigorosa com a relação a confecção das carteiras.

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  5. Existe aí um outro lado da medalha. Já testemunhei muitos eventos (obviamente que não tão grandes quanto o Lolla) que cobravam "meia" de todos, só pra não ter que dar o desconto para o estudante, que, necessitando ou não, adquiriu este direito. Ora, se todo mundo paga "meia", a meia passa a ser inteira.

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  6. juridicamente seria possível cobrar meia de quem for brasileiro? Aí quem tiver ID seria só mostrar que teria o desconto que também seria valido para estudantes.

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  7. Esse é o problema de todos os documentos de "identificação" ou feitos para algum tipo de autenticação que existem hoje no Brazil. Carteira de motorista, RG, CPF, carteirinha de estudante, bilhete único e por aí vai. A autenticação hoje ainda usa um mecanismo mto antigo que depende dos olhos do "fiscalizador" e isso é um absurdo. Já existem N tecnologias que permitiriam uma validação eletrônica casada com a identidade do indivíduo...... só falta a boa vontade e querer fazer.

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  8. Engraçado... Será que os preços cairiam se acabassem com as carteirinhas??? Interessante como o pessoal perdeu a mão mesmo... Você dizendo que as carteirinhas são as culpadas pelos preços altos... É o discurso do empresário!!! Amigão, no exterior não existe carteirinha e o preço é da nossa 'meia'... Será que você não entende que a meia de hoje é a inteira de ontem??? Não estou querendo justificar a falsificação, mas empresário explorador tem que tomar na cabeça mesmo... Fica a pergunta: os preços baixariam caso a carteirinha acabasse??? Você acha mesmo isso???

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  9. Aliás... como fui ingênuo... é claro que o 'empresário' não perde nunca... pois os estudantes, reais e falsos, estão pagando o preço que seria o cheio... agora, cabe a pergunta: quem aceita pagar o preço em dobro??? Paga porque é realmente 'honesto' e não quer 'falsificar' uma carteirinha, pra bater no peito e dizer que tem moralidade? Se falsificassem estariam prejudicando quem, mesmo??? O empresário não é... os estudantes e os que pagam em dobro também não, pois os preços não vão baixar... estão apenas prejudicando o próprio bolso, mas estão felizes, porque são 'honestos' pagando o dobro na mão do empresário... parabéns! Vão para o paraíso de primeira classe, certeza...

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  10. A FIFA bateu o pé e disse que estudante só pagaria meia pra ver os jogos se a carteira de estudante viesse com chip com certificado digital. Se esse documento não fosse apenas mais um pedaço de plástico que sai na hora usando uma impressora qualquer, seria muito mais difícil vermos casos assim de uso indevido e falsificações.

    Se bem que não encontrei o tal chip na carteira emitida pela UNE. Já pensou se eu vou ao estádio e sou barrado?

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  11. Marcelo, achei muito boa sua posição! Porque pagamos de bons moços, mas adoramos quando o curso dá uma "meia-entrada estendida".

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  12. [...] última semana, escrevi um texto sobre o assunto da meia entrada. Entre muitos comentários, contra ou favoráveis, existiu um consenso de que é impossível [...]

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  13. […] O segundo efeito, consequência direta do primeiro, é o mais emblemático. Se você, organizador, empresário, produtor, não pode ter ideia do quanto seus clientes lhe pagarão (se X ou metade de X), só resta a você elevar o preço original do seu serviço de modo a minimizar o risco de prejuízo. E esse aumento tende a ser algo próximo de 100%. Ou seja, a metade do dobro. Basta pegarmos como exemplo o caso da última edição do Lollapalooza para entendermos o tamanho da bizarrice: nada menos que 95% do público pagou meia-entrada. […]

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  14. […] O segundo efeito, consequência direta do primeiro, é o mais emblemático. Se você, organizador, empresário, produtor, não pode ter ideia do quanto seus clientes lhe pagarão (se X ou metade de X), só resta a você elevar o preço original do seu serviço de modo a minimizar o risco de prejuízo. E esse aumento tende a ser algo próximo de 100%. Ou seja, a metade do dobro. Basta pegarmos como exemplo o caso da última edição do Lollapalooza para entendermos o tamanho da bizarrice: nada menos que 95% do público pagou meia-entrada. […]

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