Discos para história: Indianola Mississippi Seeds, de B.B King (1970)


Originalmente, a ideia da 87ª edição do Discos para história era outra, mas a morte de B.B King mudou os planos. Então, nada melhor do que falar de Indianola Mississippi Seeds, um dos clássicos da carreira do guitarrista.

História do disco

Já consagrado como Rei do Blues, B.B King vinha de um disco espetacular chamado Completely Well (1969), que tinha o single "The Thrill Is Gone", regravação da música composta por Roy Hawkins e Rick Darnell – sucesso e primeiro lugar no longínquo 1951. A regravação colocou King no 15º lugar das paradas americanas (terceiro lugar em R&B), tornado-se o primeiro grande sucesso do guitarrista, isso aos 44 anos. A canção também lhe garantiu um Grammy de Melhor Performance Masculina de R&B em 1970.

No embalo do sucesso do trabalho anterior, King entrou em estúdio no meio dos anos 1970 para gravar o que viria a ser Indianola Mississippi Seeds, seu 18º disco de estúdio. Antes mesmo de gravar o disco de fato, ele já tinha escolhido o nome, uma homenagem ao lugar em que nasceu e foi criado (apesar de ter nascido em outra cidade, King sempre considerou Indianola sua terra natal).
Um dos grandes feitos do disco foi a produção de Bill Szymczyk, que resolveu convidar músicos ilustres para trabalhar com o guitarrista, como Leon Russell, Carole King, Merry Clayton e Clydie King. Aliás, Szymczyk foi o responsável por convencer o guitarrista de que poderia deixar seu som, segundo ele próprio, “um pouco mais atraente para o público geral”. Esse novo disco era uma continuação do som feito no ano anterior, o primeiro ano do sucesso comercial de King – este acabou sendo o penúltimo disco que os dois trabalhariam juntos.


Lançado em outubro de 1970, Indianola Mississippi Seeds levou a música de B.B King para outro público que não os amantes do blues. Na parada pop, ele conseguiu a 26ª posição em sua primeira semana de vendas e a oitava e sétima posições nas paradas R&B e jazz, respectivamente. O crítico da Rolling Stone escreveu que o “álbum mostra a natureza vital e em constante desenvolvimento de King”.

Quase quatro décadas depois da homenagem ao lar, o cantor teve a retribuição da cidade, que abriu um museu em homenagem a ele com a missão de "preservar e compartilhar o legado e os valores de B.B King, celebrar a rica herança cultural do Delta do Mississippi, e promover o orgulho, esperança e o entendimento dessa cultura com programas educativos”.



Resenha de Indianola Mississippi Seeds

O início do disco começa com B.B King no piano, ao invés de sua habitual guitarra. "Nobody Loves Me But My Mother" é curta, pouco menos de um minuto e meio, mas é uma bela maneira de começar um álbum de blues – triste e com uma melodia pesada. O blues de verdade aparece em "You're Still My Woman", em que ele aproveita para mostrar seus poderosos solos e riffs enquanto fala do arrependimento de não ter a mulher que ama. Aqui, a pianista Carole King faz uma dupla e tanto com o outro King, e o arranjo de cordas está belíssimo na maior faixa do trabalho – pouco mais de seis minutos.

Outro que faz uma bela dupla no piano com o guitarrista é o pianista Leon Russell na cheia de ritmo e dançante "Ask Me No Questions", momento do álbum em que ele canta Because I like to feel arms around me/ And lips close, close to mine/ So I don't have to beg you to love me/ I don't have to beg you all the time (aqui Joe Walsh, do Eagles, toca guitarra). O que seria da música sem o blues de raiz, aquele blues tão triste, que toca sua alma tão fundo, que chorar é a única opção? "Until I'm Dead and Cold" entra tão bem nisso, que qualquer palavra não serve para descreva-la. Só ouvindo.



Walsh retorna na jam session instrumental colocada no álbum, chamada "King's Special", hora em que King não precisa falar absolutamente nada, mostrando toda sua habilidade com a guitarra. Mas, calma, o vocal retorna na ótima "Ain't Gonna Worry My Life Anymore", um R&B do mais alto nível, tendo a maior parte de seu tempo apenas instrumental.

"Chains and Things" traz o lado mais pesado do blues mais uma vez em uma canção melancólica e cheia de momentos que qualquer um de nós se identifica – como o trecho Got to work this morning/ Seems like everything is lost/ I got a cold hearted wrong doing woman/ And a slave driving ball/ I cant loose these chains that bind me/ Cant shake them loose these chains and things/ Just cant loose these chains and things.



Um cara cansado de não ter dinheiro, de trabalhar em excesso e cansado de ser desprezado é o personagem central de "Go Underground", faixa em que B.B King e a banda que o acompanhou trabalharam mais o lado jazz do blues. Depois de ser desprezado, tratado como lixo, praticamente humilhado, "Hummingbird" é a mensagem positiva – justamente no encerramento. A bela melodia acompanhada pelo piano traz um B.B King mais pop em uma canção que usa e abusa dos tons épicos do pop rock dos anos 1970. Tudo que ele quer se resume a When I see her in the morning sleeping/ Shes little and she loves me/ To my lucky day/ Hummingbird don’t fly away.

O homem B.B King nos deixou hoje, mas sua música estará aí nos acompanhando para sempre. É aquele caso: sai o homem, entra a lenda. E esse disco ensina mais sobre música do que qualquer curso, faculdade ou livro, sabe por quê? Porque ele foi feito por um dos melhores guitarristas da história, um dos últimos representantes do legitimo blues.



Ficha técnica

Tracklist:

1 - "Nobody Loves Me But My Mother"
2 - "You're Still My Woman" (B.B.King/Dave Clark)
3 - "Ask Me No Questions"
4 - "Until I'm Dead and Cold"
5 - "King's Special"
6 - "Ain't Gonna Worry My Life Anymore"
7 - "Chains and Things" (King/Dave Clark)
8 - "Go Underground" (King/Dave Clark)
9 - "Hummingbird" (Leon Russell)

Gravadora: MCA
Produção: Bill Szymczyk
Duração: 39min20s

B.B. King: guitarra, piano e vocais

Convidados:

Joe Walsh: guitarra
Hugh McCracken: guitarra
Carole King: piano e teclado
Leon Russell: piano
Paul Harris: piano
Bryan Garofalo: baixo
Gerald Jemmott: baixo
Russ Kunkel: bateria
Herb Lovelle: bateria
Jimmie Haskell: arranjo de cordas


Veja também:
Discos para história: Sticky Fingers, dos Rolling Stones (1971)
Discos para história: Music from Big Pink, da The Band (1968)
Discos para história: The Joshua Tree, do U2 (1987)
Discos para história: Siamese Dream, do Smashing Pumpkins (1993)
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Discos para história: Licensed to Ill, dos Beastie Boys (1986)
Discos para história: Funeral, do Arcade Fire (2004)

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