Resenha: Napalm Death - Apex Predator - Easy Meat



Bandas como o Motörhead e AC/DC atravessaram décadas construindo uma discografia de qualidade linear, em que os registros seguem praticamente o mesmo padrão sonoro. Se olharmos apenas superficialmente, não seria exagero afirmar que o Napalm Death também poderia ser "mais do mesmo" em seu 15º lançamento, mas a brutalidade é tamanha, e isso ainda surpreende, que o novo disco pode até buscar um espaço entre os clássicos da banda.

Formado em 1981, na encardida Birmingham, o Napalm Death é uma das maiores entidades quando o assunto é soar extremo. São os pais do grindcore e responsáveis por álbuns seminais de rapidez e crueza, como Scum (1987), From Enslavement to Obliteration (1988) e Harmony Corruption (1990). Houve muita instabilidade na primeira década da banda – músicos do naipe de Justin Broadrick, Bill Steer e Lee Dorrian tiveram rápidas passagens –, e apenas em 1991 foi fixada a formação que segue até hoje: Mark “Barney” Greenway (vocal), Mitch Harris (guitarra), Shane Embury (baixo) e Danny Herrera (bateria). Em 30 anos de estrada, eles nunca tiraram o pé do acelerador e sempre buscaram o mais extremo possível, seja na velocidade sonora caótica ou nas letras cheias de ácidas críticas sociais.

Essas letras, como de costume, são um grande destaque, e Barney ataca o hipercapitalismo e a crise do mercado de trabalho de exploração global. A história que influenciou o conceito do álbum foi o desabamento do edifício Rana Plaza, em Bangladesh, onde 1500 dos 3500 trabalhadores de cinco fábricas morreram. O motivo foi a construção de mais três andares no prédio, comprometendo a estrutura inicialmente planejada. Trabalhadores carentes e desesperados (Easy Meat - ou "Carne Fácil") foram literalmente esmagados pela ganância de megacorporações (Apex Predator - ou "Grande Predador").

A faixa que dá título ao álbum pode ser considerada experimental e é uma boa forma de introduzir o ouvinte ao que está por vir. Por ser formada por camadas de ruídos e centrada nos gritos de Barney, pode ser considerada ousada, mas não se engane, há a personalidade do Napalm Death em cada milésimo de segundo. A partir de "Smash A Single Digit", temos o tradicional trator de ódio que a banda faz com que destrua o que estiver pela frente - e o clipe desta música mostra que não há apenas agressão aqui, e sim uma mensagem a ser dita.

Tenha a certeza que isto é um rolo compressor aniquilando um terreno íngreme. Sendo assim, ataca nem sempre da mesma forma devido aos desníveis do terreno. Prova disso é "Dear Slum Landlord…", com passagens mais cadenciadas; "How The Years Condemn", com tons dissonantes e riffs rápidos; e a dura “Hierarchies”, que tem espaço até para alguns vocais limpos. A nota máxima é mais do que adequada aqui, já que estamos de frente com a nata de um gênero musical, que conseguiu seguir com o seu propósito sem olhar para trás.

Tracklist:

1 - "Apex Predator - Easy Meat"
2 - "Smash A Single Digit"
3 - "Metaphorically Screw You"
4 - "How The Years Condemn"
5 - "Stubborn Stains"
6 - "Timeless Flogging"
7 - "Dear Slum Landlord..."
8 - "Cesspits"
9 - "Bloodless Coup"
10 - "Beyond The Pale"
11 - "Stunt Your Growth"
12 - "Hierarchies"
13 - "One-Eyed"
14 - "Adversarial/Copulating Snakes"

Nota 5/5


Veja também:
Resenha: Pond - Man It Feels Like Space Again
Resenha: Peace – Happy People
Resenha: 24Pesos – Do The Right Thing
Resenha: Father John Misty - I Love You, Honeybear
Resenha: Pneu - Destination Qualité
Resenha: Jair Naves – Trovões A Me Atingir
Resenha: John Carpenter – John Carpenter’s Lost Themes


Siga o blog no Twitter, Facebook, Instagram, no G+, no no Tumblr e no YouTube

Gostou do conteúdo? Compartilhe nas redes sociais!