Resenha: Boygenius - The Record

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Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus formaram as Boygenius em 2018, lançaram o ótimo EP com o nome do trio e cada uma seguiu com a própria carreira solo em trabalhos muito bons. O que público e crítica não sabiam que, por baixo dos panos, elas estavam tramando um retorno com tudo desejado por quem acompanha a carreira delas: álbum de inéditas e turnê.

O anúncio da volta chegou como uma bomba na divulgação de três singles logo de cara e, depois, elas refizeram o famoso ensaio do Nirvana para 'Rolling Stone' e viraram a notícia do momento na música. "The Record" chegou cheio de expectativas. Afinal, elas soam muito amigas nas fotos publicadas nas redes sociais, a dinâmica é igual no disco? A resposta é: não, é ainda melhor. 

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"Without You Without Them" abre "The Record" e funciona como uma carta de intenções do trio ao ouvinte, um compromisso firmado em que o final do EP e o início do novo trabalho estão, de alguma forma, conectados. A segunda faixa, "$20", nasceu fora do âmbito do trio e tem Baker no vocal, mas logo entrou no repertório e ganhou muito com os gritos de Bridgers na parte final.

A melancólica balada "Emily I'm Sorry" veio de uma decepção amorosa em que o arranjo não a deixa como uma canção qualquer - tem algo a mais ali. A demo dessa canção foi importante para o retorno do grupo, quando Bridgers a mostrou para as outras duas e perguntou: "podemos ser uma banda de novo?". E, de propósito ou não, "True Blue" surge falando de lealdade de forma mais suave com Dacus. Aliás, ela canta cinco das 12 músicas do trabalho.

Inspirada em "The Boxer", de Simon & Garfunkel, "Cool About It" traz as Boygenius fazendo uma bonita homenagem à dupla ao abordar o fim de um relacionamento em consequência da falta de comunicação entre as partes, mas logo o trabalho retoma o ritmo normal em "Not Strong Enough", a segunda seguida do trio dividindo o vocal com um refrão crescente até atingir o auge.

Bridgers está melancólica nesse trabalho e a balada no violão "Revolution 0" comprova isso, e Dacus retorna na homenagem a Leonard Cohen chamada... "Leonard Cohen", nascida no dia em que elas estavam conversando sobre ótimas canções sem refrão - especialidade do compositor e poeta canadense. Depois vem "Satanist", mais cheia de guitarras e um pouco mais rebelde.

Caso o disco tivesse outro nome, seria obrigação colocar de "We're in Love". Composta e cantada por Dacus, a letra trata da amizade entre elas e da importância dessa conexão feita entre essas três mulheres e da exposição disso para o mundo, de como é fundamental mulheres apoiarem as outras, em uma prova genuína do amor mais profundo ao aceitar os defeitos e exaltar as qualidades.

"Anti-Curse" surge para Baker falar da experiência de quase morrer afogada em uma praia em Malibu do jeito preferido: etéreo e recheado de guitarras. E a emocionante "Letter to an Old Poet" traz a homenagem do trio ao livro "Cartas a um jovem poeta", de Rainer Maria Rilke, no momento de aclamação do álbum, quando todas as peças se unem para o momento final.

Com cada uma das integrantes com a carreira solo consolidada, "The Record" faz das Boygenius uma certeza como um trio pronto para não ser apenas um projeto paralelo. O repertório mira na melancolia, mas acerta na esperança, principalmente na mensagem de união das três em uma bonita amizade. Inspiradas, elas conseguiram apresentar o melhor de cada uma e se complementar, quase virando uma coisa só.

Tracklist:

1 - "Without You Without Them"
2 - "$20"
3 - "Emily I'm Sorry"
4 - "True Blue"
5 - "Cool About It"
6 - "Not Strong Enough"
7 - "Revolution 0"
8 - "Leonard Cohen"
9 - "Satanist"
10 - "We're in Love"
11 - "Anti-Curse"
12 - "Letter to an Old Poet" 

Avaliação: ótimo 

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