Resenha: Miley Cyrus - Endless Summer Vacation

Há muito tempo, Miley Cyrus não é mais só a filha de Billy Ray Cyrus, um dos grandes astros do country americano. Também não é mais só a estrela da série "Hannah Montana", mais de uma década fora do ar. Perdida como muitos astros infanto-juvenis quando a onda passa, ela demorou para se achar profissionalmente - e, aparentemente, pessoalmente também.

Mas ela seguiu tentando, explorando sonoridades. Do pop mais sem vergonha possível feito para tentar agradar todo mundo até o experimento em trabalhar com o Flaming Lips, Cyrus encontrou um caminho quando explorou o pop rock oitentista em "Plastic Hearts" (2020). Enfim, ela encontrou um caminho, melhor delimitado em "Endless Summer Vacation", lançado há alguns dias.

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A grande pergunta feita logo após o lançamento de "Flowers", primeiro single do trabalho, era: a cantora conseguiria manter o ritmo do trabalho após um single tão bom e estrondoso como esse? A resposta é sim. A primeira faixa é uma dessas armadilhas do pop em que dificilmente você escapa quando cai nela. O refrão é ótimo, o andamento eletrônico com o arranjo de cordas foi uma ótima sacada e ela soa melhor do que nunca.

Especialista em canções confessionais, Cyrus surge com a forte balada "Jaded", em que explora a própria melancólica em uma faixa que traz o refrão a potência para fazer dela algo marcante para os fãs, assim como o refrão de outra balada, chamada "Rose Colored Lenses". O pop mais pragmático aparece na colaboração com Brandi Carlile em "Thousand Miles", quando a batida eletrônica domina as ações quase o tempo inteiro.

Também especialista em declarações de amor, a cantora explora a própria voz na bonita "You". A canção começa como no piano, mas logo ganha uns efeitos estranhos e fica original à sua maneira, não sendo brega demais, nem estranha demais. A estranheza surge na sensual e experimental "Handstand", única do tipo do trabalho e acaba soando deslocada.

Os anos 1980 chegam na dançante "River", quando os sintetizadores dão vida ao refrão motivacional e cheio de energia ("You're just like a river/ That's what you are") e continuam com tudo em mais uma de amor, chamada "Violet Chemistry". E a cantora Sia surge colaborando no desabafo "Muddy Feet", recheado de palavrões, gritos e um coral na parte final.

"Wildcard" traz a cantora refletindo sobre a nova paixão e como isso a muda profundamente, enquanto "Island" apresenta a seguinte reflexão: o mundo em que ela vive é um paraíso próprio ou uma ilha solitária? Perto dos 30 anos, esse pensamento pega fundo na alma, principalmente por tudo que ela passou desde muito jovem, refletido em "Wonder Woman", faixa que encerra o trabalho.

Miley Cyrus encontrou um caminho próprio no pop ao não se prender em gêneros ou qualquer coisa do tipo. "Endless Summer Vacation" apresenta uma cantora firme nas próprias composições ao buscar as melhores soluções para as próprias ideias. Com uma primeira metade mais forte, a segunda entrega menos, mas, no geral, ela parece ter encontrado um rumo. E isso é ótimo.

Tracklist:

1 - "Flowers"
2 - "Jaded"
3 - "Rose Colored Lenses"
4 - "Thousand Miles" (featuring Brandi Carlile)
5 - "You"
6 - "Handstand"
7 - "River"
8 - "Violet Chemistry"
9 - "Muddy Feet" (featuring Sia)
10 - "Wildcard"
11 - "Island"
12 - "Wonder Woman"

Avaliação: muito bom

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