Resenha: John Cale - Mercy

John Cale ficou conhecido por anos com a parceria com Lou Reed no Velvet Underground. Quando a banda acabou, ele partiu para novas experiências musicais ao começar a carreira solo em "Vintage Violence", de 1970, trabalhar com outros artistas e em trilhas sonoras. Com o passar dos anos, o nome dele foi colocado na prateleira dos melhores e mais criativos músicos daquela geração surgida nos anos 1960.

Após lançar o último disco de estúdio, "M: Fans", em 2016, ele havia prometido um novo trabalho ainda no final daquele ano. Ele adiou para 2017. E adiou de novo para 2018. E para 2019. E veio a pandemia e tudo foi paralisado de vez. Agora, seis anos depois, ele cumpre a promessa com "Mercy", 17º trabalho solo.

Leia também:
Resenha: Ryuichi Sakamoto - 12
Resenha: Belle and Sebastian - Late Developers
Resenha: Iggy Pop - Every Loser
Duas resenhas: Christine and the Queens e Metronomy
Duas resenhas: Björk e Gaye Su Akyol
Resenha: Weyes Blood - And in the Darkness, Hearts Aglow

Estou no Twitter e no Instagram. Ouça o podcast, compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

"Mercy" é solo só na categoria, porque Cale só está sozinho em três das 12 canções espalhadas em pouco mais de 70 minutos de duração. E o álbum começa logo na faixa-título a mostrar todo poder criativo e musical dele em sete minutos e por aquele tipo de música que só mesmo ele poderia fazer e ninguém acha estranho, bem diferente da realmente estranha e experimental "Marilyn Monroe's Legs (Beauty Elsewhere)".

Mas é na primeira faixa sozinho que Cale brilha. "Noise of You" traz um arranjo de orquestra misturado com sintetizadores e experimentos sonoros e um refrão muito repetitivo. Ele também brilha na parceria com a cantora Weyes Blood chamada "Story of Blood", canção futurista que parece ter sido retirada diretamente de alguma cena de "Blade Runner".

"Time Stands Still" não chama tanta atenção, mas "Moonstruck (Nico's Song)" é dessas que tem enorme potencial para fazer parte de algum filme ou algo do tipo porque o clima dramático já está pronto e, somada a interpretação de Cale, a transforma em uma dessas coisas únicas. Outra que chama bastante atenção é "Everlasting Days", parceria com o Animal Collective. Mais eletrônica do que as outras, a faixa beira o psicodélico em alguns momentos.

Cale aparece sozinho na sequência formada pela ótima "Night Crawling" e pela etérea e sombria "Not the End of the World". Aliás, o tom da última é mantido em "The Legal Status of Ice", mas um dos grandes momentos do trabalho está em "I Know You're Happy". Parceria com a cantora Tei Shi, ele lança uma canção quase - eu disse quase - de teor pop. E encerra com a potente "Out Your Window".

Perto de completar 81 anos, John Cale lança um trabalho cheio de colaborações com artistas da nova geração e mostra ao mundo estar mais em forma do que nunca. Apesar da longa duração, "Mercy" mostra a essência musical dele do primeiro ao último minuto. É um privilégio tê-lo conosco.

Tracklist:

1 - "Mercy" (featuring Laurel Halo)
2 - "Marilyn Monroe's Legs (Beauty Elsewhere)" (featuring Actress)
3 - "Noise of You"
4 - "Story of Blood" (featuring Weyes Blood)
5 - "Time Stands Still" (featuring Sylvan Esso)
6 - "Moonstruck (Nico's Song)"
7 - "Everlasting Days" (featuring Animal Collective)
8 - "Night Crawling"
9 - "Not the End of the World"
10 - "The Legal Status of Ice" (featuring Fat White Family)
11 - "I Know You're Happy" (featuring Tei Shi)
12 - "Out Your Window"

Avaliação: muito bom

Comentários