Resenha: Ryuichi Sakamoto - 12

Ryuichi Sakamoto é uma dessas dádivas que surgem na música a cada século, músico de alto nível que atingiu o topo sem fazer concessão alguma ao próprio trabalho e ao processo criativo. Com 71 anos recém-completos e enfrentando um tratamento brutal contra um câncer no reto pouco tempo após enfrentar um problema parecido na garganta, ele disponibilizou "12", 20º álbum de estúdio da carreira e o primeiro desde "Async" (2017).

Dá para afirmar com tranquilidade, após ouvir "12" ao longo de cinco dias seguidos, que Sakamoto vai até o limite pessoal e intelectual na hora de explorar as sonoridades compostas no disco. Com as músicas levando no nome dos arquivos as datas da finalização, ele mostra como o trabalho em si não é difícil de ser terminado, mas é um processo longo e, muitas vezes, doloroso (como bem mostram os memes envolvendo Hayao Miyazaki, diretor e animador do Studio Ghibli).

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O trabalho começa com música bem longas, variando entre mais de cinco e pouco mais de nove minutos, em momentos bem contemplativos em que um fone de ouvido de ótima qualidade e um streaming de música preocupado com o som ajudam a colocar a pessoa dentro dessa contemplação, e vai diminuindo com o passar do tempo até acabar. E usando o piano como instrumento principal, ele consegue criar um clima muito melancólico em pouco mais de uma hora de trabalho - o disco tem exatos 60 minutos e 1 segundo.

Ele também se sobressai quando usa o sintetizador, instrumento descoberto quando entrou na universidade e passou a explorar as possibilidades sonoras dessa mistura - "20220202" é uma faixa muito tensa, beirando um filme de terror. Ou ainda na mega experimental, mas bem suave, "20220214".

Sakamoto faz de "12" uma reflexão sobre o próprio momento da vida, ao passado e, por que não, ao futuro. Com uma carreira sublime, respeitada e reconhecida da música pop ao erudito e passando pela vitória nos Oscar em 1988 pela trilha sonora de "O Último Imperador", o músico apresenta o novo trabalho como algo quase sentido no ar de tão profundo e intenso. Poucos artistas chegam nesse nível de maturidade sobre o próprio material e ele conseguiu não só chegar, como traduzir isso em música. "12" soa como despedida, homenagem e tudo mais para celebrar uma carreira bastante celebrada.

Tracklist:

1 - "20210310"
2 - "20211130"
3 - "20211201"
4 - "20220123"
5 - "20220202"
6 - "20220207"
7 - "20220214"
8 - "20220302 (sarabande)"
9 - "20220302"
10 - "20220307"
11 - "20220404"
12 - "20220304"

Avaliação: ótimo

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