Resenha: China - Manual de Sobrevivência Para Dias Mortos


Nos últimos anos, China ficou bastante conhecido por trabalhar nas transmissões dos festivais em que o Grupo Globo é parceiro -- seja o Lollapalooza, seja o Rock in Rio -- e por ter sido VJ da MTV Brasil nos momentos finais da emissora. Mas ele, com todo seu carisma, é um ótimo 'frontman' que consegue segurar o público com um repertório muito variado. Da banda de hardcore Sheik Tosado até cantar Roberto Carlos, China também tem uma sólida carreira na música, que retornou agora após cinco anos do lançamento de "Telemática" (2014). "Manual de Sobrevivência Para Dias Mortos" é o quarto trabalho solo, disponibilizado no primeiro semestre desse ano.

O cantor e compositor não tem medo de misturar gêneros musicais, e isso fica muito claro nesse trabalho. Em "Vivo?", ele une uma letra de protesto sobre momentos vividos pelas camadas mais pobres da população com manguebeat, subgênero eternizado por Nação Zumbi e Mundo Livre S/A nos anos 1990. A segunda faixa é a bonita e poética "Moinhos de Tempo" sobre como o tempo pode curar as coisas.

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"Subdesenvolver" surge como o primeiro de dois interlúdios. Se o primeiro é inteiramente instrumental, "Fascismo Tupinambá" chuta completamente o pau da barraca ao chamar as coisas pelo nome. Entre as duas tem a potente e furiosa "O Selvagem" e a balada suave de tom religioso afro-brasileiro "Ofertório". A melhor faixa do álbum, "Consumo", surge usando a base eletrônica para mostrar como o Deus Mercado trata o povo ("Você vale o que consome / Nenhum centavo a mais").

A balada "Mareação" é mais distante a fúria de boa parte do álbum e a participação de Natália Matos no vocal de apoio ajuda muito a criar esse clima mais suave, e a melancólica "Pó de Estrela" encaminha o ouvinte para o final também usando esse lado melódico mais leve -- a letra é das mais bonitas. O fim reserva espaço para um recado em "Entre Coronéis" e o retorno da potência em "Frevo e Fúria", essa com participação do guitarrista do Sepultura Andreas Kisser.

China demorou cinco anos para lançar um disco solo novo. E que disco! Potente e melancólico na medida certa, consegue mostrar as várias pontas de um Brasil que passa por um momento muito complicado em que o descrédito das instituições gerou tudo isso. Ao lançar um trabalho corajoso, ele levanta a voz num momento em que ficar calado não é mais uma opção.


Tracklist:

1 - "Vivo?"
2 - "Moinhos de Tempo" (feat. Bell Puã)
3 - "Subdesenvolver"
4 - "O Selvagem"
5 - "Ofertório"
6 - "Fascismo Tupinambá"
7 - "Consumo"
8 - "Mareação" (feat. Natália Matos)
9 - "Pó de Estrela" (feat. Uyara Torrente)
10 - "Entre Coronéis"
11 - "Frevo e Fúria" (feat. Andreas Kisser)

Avaliação: ótimo



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