Resenha: Daniel Menche & Mamiffer – Crater


Por Giovanni Cabral 

Era nítido que, mesmo estando à frente de bandas como o Old Man Gloom, Sumac e House of Low Culture, Aaron Turner focaria suas atenções no Mamiffer após o fim do Isis. Afinal de contas, recusar entrar na banda liderada por sua esposa – Faith Coloccia – não era uma das escolhas mais lúcidas a serem feitas. Mas, obviamente, Turner, também dono da gravadora Hydra Head e um dos mais incansáveis nomes do metal alternativo dos últimos 15 anos, não encararia levar o projeto simplesmente por questões matrimoniais.

Mamiffer é realmente um projeto único, em que sua essência básica é criar sensações desesperadoras. Coloccia geralmente está por trás do núcleo de cada composição, graças a um astuto piano com uma enorme atenção melódica, porém com ruídos, drones e climas pesados e desconfortantes que se entrelaçam naturalmente a ele. E na busca por uma não estagnação de ideias, juntaram-se a nomes como Locrian, Pyramids e Merzbow, em colaborações que certamente acrescentaram na musicalidade do Mamiffer.

Com Daniel Menche não foi muito diferente. O americano, que desde os anos 1990 trabalha ininterruptamente em criações ambient e noise, esteve por quatro anos junto ao projeto na composição dos sons aqui presentes. O resultado disso é um registro que vai da contemplação de paisagens sonoras admiráveis para uma descida claustrofóbica às profundezas escuras e gélidas sob drones perturbadores. Este caminho – entendido como uma descida até a cratera – ocorre de forma meditativa, sem nenhuma turbulência, em que se sabe o porquê de cada passo ser no escuro.

"Calyx" e "Maar", as peças mais curtas do álbum, foram muito bem pensadas, tanto para abrir quanto para fechar a audição. Ambas trazem o toque sutil do piano de Coloccia e da guitarra de Turner, jogadas a um processamento de distorções por parte de Menche, representando uma maneira bela de chegar ao caos. O núcleo do disco é ainda mais dinâmico e explora as field recording – o barulho de água corrente em "Exuviae" ou o som de pedras que introduz "Alluvial" – que combinados aos experimentos eletrônicos de Menche explanam o que há de melhor aqui: transmitir um sentimento penetrante e de fascinação.

Tracklist:

1 – “Calyx”
2 – “Husk”
3 – “Alluvial”
4 – “Breccia”
5 – “Exuviae”
6 – “Maar”

Nota: 4/5



Veja também:
Resenha: Seinabo Sey – Pretend
Resenha: Julia Holter – Have You In My Wilderness
Resenha: The Arcs – Yours, Dreamily
Resenha: Silva – Júpiter
Resenha: Adele – 25
Resenha: Kurt Cobain – Montage of Heck: The Home Recordings
Resenha: Killing Joke – Pylon

Gostou do conteúdo? Compartilhe nas redes sociais! Isso ajuda pra caramba o blog a crescer e ter a chance de produzir mais coisas bacanas.

Meu sonho é que o Music on the Run, que começou como hobby, vire uma coisa mais legal e bacana no futuro, com muito conteúdo em texto, podcast e mais coisas, porque eu acredito que dá para fazer mais e melhor com o apoio de quem lê o blog. Apoie:
Você não quer se comprometer em uma assinatura? Não tem problema, pode doar qualquer valor em reais via PagSeguro: