Resenha: Kyle Eastwood – Timepieces



A primeira pergunta que surge na mente do leitor pouco afeito ao cenário do jazz no momento em que se depara com o nome do artista objeto desta resenha é, sem dúvida, se o baixista Kyle Eastwood tem algum grau de parentesco com Clint Eastwood ou o sobrenome é apenas uma coincidência. Pois bem, não se trata de uma obra do acaso: Kyle é um dos filhos do veterano ator/diretor e está na ativa há 17 anos, com seis álbuns lançados. Além da carreira no jazz, o músico colaborou na trilha sonora de oito filmes dirigidos pelo pai – a última parceria entre os dois (até agora) se deu no longa Invictus, lançado em 2009.

Em Timepieces, sétimo e mais recente disco da carreira do baixista, oito canções são autorais e duas são regravações: “Blowin’ The Blues Away”, de Horace Silver, e “Dolphin Dance”, de Herbie Hancock – versões que não diferem tanto das originais e figuram no disco como uma homenagem de Eastwood a dois artistas que o influenciaram e por ele são reverenciados.

A coisa fica realmente interessante em Timepieces quando Kyle apresenta as próprias canções, dando ao jazz pitadas de modernidade – sem deixar de lado as facetas dos sons que formaram o ‘caráter musical’ do baixista. “Caipirinha”, que abre o registro, é um bom exemplo disso. Eastwood empunha um baixo elétrico, a bateria tem um approach um pouco mais intenso do que no jazz tradicional. Com doses consideráveis de groove e solos de baixo, sax, trompete e piano, a faixa é daquelas que conquista o ouvinte já na primeira audição.

Após as regravações das canções de Silver e Hancock, surge a funkeada “Prosecco Smile”, dominada em grande parte pelos metais – mas com espaço para um solo interessante de Eastwood no contrabaixo. “Vista”, assim como faixa que a antecede, tem protagonismo dos metais em grande parte, mas o tom aqui é mais intimista. Trompete e piano se destacam nesta faixa, em belíssimos solos. O nome de Horace Silver volta à tona em “Piece of Silver”, faixa dedicada ao músico (morto em junho de 2014, enquanto Kyle gravava Timepieces). Este é, sem dúvida, o melhor momento do disco: uma melodia contagiante e cheia de groove, com um interlúdio protagonizado pelo piano no meio.

“Incantation” é um jazz suave, com a melodia principal marcada pelo baixo e pelo piano. O solo de sax é o grande momento desta faixa. Outra canção que não é inédita é “Letter from Iwo Jima”, em que Eastwood faz uma releitura da própria canção – lançada em “Letters from Iwo Jima”, filme dirigido por Clint Eastwood – com um arranjo somente para piano e baixo. Para o filme, esta versão não teria o mesmo impacto. No contexto do disco, contudo, ela funciona bem. “Nostalgique” mantém o clima calmo das duas canções anteriores, com toques de smooth jazz. 

Para encerrar o registro, no entanto, Kyle opta por trazer de volta ritmos dançantes. “Bullet Train” é um jazz acelerado e cheio de suingue, com o baixista marcando o ritmo junto com a bateria, fazendo a “cozinha” para solos de sax, trompete e piano. Depois bateria e baixo entram em uma dobradinha de encher os ouvidos – e que mostra o entrosamento e capacidade dos músicos – pouco antes do fim da canção.

Timepieces mostra um Kyle Eastwood maduro, mais solto e confiante. O resultado dessa evolução é um disco de bom pra ótimo, com momentos excelentes.

Tracklist:

1 – “Caipirinha” 
2 – “Blowin' the Blues Away” 
3 – “Dolphin Dance” 
4 – “Prosecco Smile” 
5 – “Vista” 
6 – “Peace of Silver” 
7 – “Incantation” 
8 – “Letter from Iwo Jima” 
9 – “Nostalgique” 
10 – “Bullet Train” 

Nota: 4/5


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