Rock in Rio é micareta maquiada de festival de música

Chic e Nile Rodgers fizeram o melhor show da primeira semana (Crédito da foto: Rock in Rio/Facebook)

Atrações nos palcos viraram pretexto para outras coisas

As micaretas são muito comuns no carnaval, quando centenas de milhares de pessoas vão atrás do trio elétrico para se divertir até cair de bêbado - ou não, caso você prefira ficar sóbrio ou usar qualquer erva de sua preferência. Ótimo. O fundamental desse raciocínio é entender que os organizadores não mentem para o público e todos sabem os perrengues que terão pela frente. Na última sexta-feira (15), começou a sexta edição do Rock in Rio que, oficialmente, virou uma mistura de micareta com karaokê a céu aberto. Um produto embalado para TV e feito para selfies em profusão nas redes sociais.

Como bem lembrou André Barcinski, abrir um festival, com propaganda até no banheiro, usando "Imagine", de John Lennon, foi quase um crime. E é ofensivo que Fergie esteja como atração no Palco Mundo. Nada contra a moça, que parece ser muito gente boa, mas ela fez um dos piores shows do Rock in Rio – e olha que esse páreo é duro. Maroon 5 tocar duas vezes e só mudar a ordem das músicas é um escárnio. Frejat anunciar um show "novo" e tocar as mesmas músicas de 30 anos atrás não fica muito atrás. Toda hora um artista brasileiro falar do tal projeto do Rock in Rio na Amazônia soa roteirizado e pura peça propaganda, gerando o ótimo momento para o público gritar "Fora, Temer", enquanto quem está com o microfone fica calado – uma ótima maneira de ficar bem com todo mundo.

Veja também:
O novo círculo vicioso na música
Especulações sobre Lee Lifeson Project só mostram tamanho do Rush
Morte de Chester Bennington é relembrar como Linkin Park fez parte da minha vida
Nunca te esqueceremos, Chris Cornell
Chuck Berry teve a coragem de me sacanear
Chico Science merece ser celebrado 20 anos depois de morte


O Rock in Rio virou uma marca que gera milhões de reais aos donos todos os anos. E se a música era o principal mote do festival no seu início, hoje é apenas uma das muitas coisas para se fazer no evento, virando uma espécie de chamariz para o resto. Por isso que tanto faz quem sobe ao palco: pode ser a Fergie, o Frejat ou outro que o público saiba quem é. E se o público vai de qualquer jeito, para que ter o mínimo de cuidado na curadoria do principal palco? Contrata o que der certo ou estiver disponível no momento e tudo certo.

Mas, como não tem como errar em tudo, foram dois golaços trazer Pet Shop Boys e o Chic com Nile Rodgers no Palco Sunset, sempre a melhor coisa do festival. Em três dias de pura tortura musical e pouca coisa realmente boa, essas duas atrações foram um alento no meio de tudo. Se o primeiro mostrou o motivo de ser um patrimônio da música eletrônica do fim do século 20, o Chic não enganou ninguém com essa balela de "show novo". Foi lá e enfileirou hits, deles e os produzidos por Rodgers em sua carreira, sem o menor constrangimento. Não há problema em karaokê a céu aberto, problema é fazer quem está vendo de otário.

Assim eles agradam a todos: aos críticos, que vão elogiar essas escolhas, e o público, que pagará para ver qualquer coisa no Palco Mundo. Como precisar ver o péssimo Walk the Moon para ser recompensado por uma aula de carisma de presença de palco de Justin Timberlake, último show da primeira semana.

A segunda semana começa na quinta (21) e tem, no sábado, o crime do The Who abrindo para o Guns N' Roses. O festival ainda terá Bon Jovi e Aerosmith, prontos para agradar ao público com suas populares baladas. Red Hot Chili Peppers fecha o Rock in Rio mesclando os sucessos do século passado com as músicas novas que ninguém conhece. Esperamos melhoras, pelo menos para ver de casa.

Saiba como ajudar o blog a continuar existindo

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!