Resenha: Dead Fish – Vitória


Para quem tem a minha idade, ou pelo menos uma boa parte dessas pessoas, era muito difícil não ouvir CPM 22, Hateen, Dead Fish, Fresno e outras bandas que nasceram entre o meio e o fim dos anos 1990 e fizeram muito sucesso na década seguinte (o documentário Do Underground ao Emo é exemplar ao contar essa história).

Todas as bandas citadas seguem em atividade, mas retornaram ao underground. E foi por isso que a arrecadação de mais de R$ 200 mil do Dead Fish para fazer e lançar Vitória, o sucessor de Contra Todos. Ficar sem gravadora não é novidade, mas ter esse apoio mostra a grandeza do grupo na vida de muitas pessoas. E é até por isso que o sétimo álbum de estúdio merece ser visto de maneira diferente e, além disso, não deixa de ser um momento histórico na música brasileira.

Uma banda do tamanho do Dead Fish já acumulou carga suficiente para fazer o que quiser. Ou seja, eles não mudaram nada desde o início. A pedrada “Selfegofactóide" dá uma baita paulada na sociedade atual e como ela está obcecada em si mesma. Hardcore da mais alta qualidade, "Jogojogo" tem uma parte instrumental que deixará qualquer moleque de 14 anos empolgado.

Primeiro single do álbum, "912 Passos" traz o que de melhor foi feito pela banda em toda sua carreira (uma letra política, um refrão bom de ser gritado e um grupo imprimindo uma ótima velocidade no andamento), enquanto "Nous Sommes Les Paraibes" tem aquela pegada punk maravilhosa de se ouvir sempre – um conselho aos jovens: ouçam punk todos os dias.

Outra que parece ter saído de algum momento da banda de nove, dez anos atrás é "Sem Sinal", faixa bem melódica e um tanto mais leve do que as duas anteriores, e também com um refrão bem grudento. Com quase todas as canções com menos de três minutos, é possível manter um bom ritmo. A sequência "Lupita", "Cara Violência", "Obsoleto" e "Kryptonita" são uma boa mostra de punk, hardrock e hardcore – melódico ou não.

Faixa-título do álbum, “Vitória” tem quase três minutos e meio e começa dando a impressão de que será a mais leve de todas, mas não. No quesito letra, é a mais pesada e reflexiva de todas. Um tapa de cara de muita gente. Em compensação, "Procrastinando" tem menos de um minuto de duração e é uma aula de como fazer uma música rápida.

"Sausalito" lembra bastante o início do Dead Fish, quando cantar uma mistura de inglês e português fazia parte de tentar o sucesso com o público. A política não poderia ficar de fora na ótima "Gigante e Inseguro", uma bela maneira de ver o que vem acontecendo no Brasil nos últimos anos, e "Pontilhão" encerra o trabalho ao melhor estilo deles: forte e pesado.

Tem guitarras altas, bateria pesada, baixo dando ritmo, letras para todos os gostos, solos, punk, hardcore, tons de metal. Enfim, o novo disco do Dead Fish não foge em nada do que eles quiseram ser: uma banda com uma mensagem definida desde sempre. A diferença é que, batendo os 40 anos, tudo está melhor e mais maduro. Que sigam assim.

Tracklist:

1 - "Selfegofactóide"
2 - "Jogojogo"
3 - "912 Passos"
4 - "Nous Sommes Les Paraibes"
5 - "Sem Sinal"
6 - "Lupita"
7 - "Cara Violência"
8 - "Obsoleto"
9 - "Kryptonita"
10 - "Vitória"
11 - "Procrastinando"
12 - "Sausalito"
13 - "Gigante e Inseguro"
14 - "Pontilhão"

Nota: 4/5


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