Resenha: John Coltrane - Offering: Live at Temple University


Por Giovanni Cabral

Lançado no dia 23 de setembro, este é um novo trabalho póstumo do músico registrado a partir de fitas encontradas recentemente.

Para os desentendidos, Coltrane foi simplesmente o maior saxofonista da história do jazz, tendo uma gigantesca influência nos modelos mais experimentais do gênero, no nascente fusion, no rock e na música erudita. Sua discografia é bem longa, com mais de 100 registros entre estúdio e ao vivo, mas aqui é um retrato da fase mais ‘free’ do fim de sua vida.

John Coltrane começou a sua trajetória de sucesso em 1955, ao ser convidado por Miles Davis a fazer parte do seu quinteto. Ao lado do genial trompetista, esteve em 21 registros oficiais, dentre eles Kind of Blue, a obra mais impactante da história do jazz. Logo após Live at the Village Vanguard, ele ficaria conhecido como o mais representativo nome do avant-garde jazz e do free jazz, contendo longas improvisações e com solos técnicos e longos. Sua vida teve um fim prematuro: vítima de câncer de fígado, ele morreu em 1967 aos 40 anos.

Nesta apresentação de 1966, Coltrane é acompanhado pela sua mulher Alice Coltrane, no piano; Pharoah Sanders, no sax tenor; Rashied Ali, na bateria; e Sonny Johnson no baixo (que tocou somente neste show substituindo Jimmy Garrison). Além disso, participaram os percussionistas Umar Ali, Algie DeWitt, Charles Brown e Robert Kenyatta, e os jovens saxofonistas Arnold Joyner e Steve Knoblauch. São cinco músicas em 90 minutos de improvisos e técnica. Se há algum defeito, talvez seja a mixagem, em que claramente os saxes têm uma nitidez sonora muito grande e os instrumentos de percussão soam abafados.

"Naima", cuja gravação de estúdio é de 1959, é extremamente mais livre que a original, prova disso são os seis minutos introdutórios. Aqui há uma improvisação feroz e viajante, com um bom solo melódico de Alice no piano. “Crescent” é explosiva. Incríveis 26 minutos de sons profundos e frenéticos, em que Pharoah Sanders aparece pela primeira vez no sax. “Leo” traz ritmos repetitivos, e John se divide entre o sax soprano e delirantes linhas vocais que ecoam sem direção.

“Offering” tem apenas quatro minutos, mas soa talvez como a mais experimental, momento de Coltrane explorar suas habilidades. “My Favorite Things” é arrepiante desde a introdução de baixo, crescendo e crescendo, o mestre vai conduzindo a sua banda em ritmos intensos, até enfim usar os seus poderes para fazer com que as partículas sonoras rasguem a escuridão.

Ravi, filho de Coltrane e o responsável pela recuperação do registro, explica: "Para mim, a gravação de Temple University é uma afirmação de que, não, ele não esgotou o saxofone. O saxofone foi apenas uma ferramenta, sobre a qual ele teve o comando de mestre. Sua voz era uma extensão do saxofone como o saxofone era uma extensão da sua voz".



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