Resenha: D’Angelo – The Black Messiah


Um cantor que faz um dos melhores discos do início dos anos 2000 simplesmente fica 14 anos sem gravar nada. Não é surpresa alguma se 70% das pessoas que lerem essa resenha não terem ideia de quem é D’Angelo e o que ele fez para ficar tão famoso. Muito antes disso, em 1994, ele apareceu ao mundo como uma espécie de mistura entre Michael Jackson e Prince, a união ideal de dois mundos. Seu R&B com tons de pop rock encantou a todos logo de cara. Mas ele só lançaria um novo disco em 2000.

E foi em Voodoo que ele explodiu de vez ao ganhar público e crítica com dos grandes álbuns feitos na última década do século 20. Mas ele sumiu por longos 14 anos. Muito tempo para se manter na mídia, tempo suficiente para alimentar uma espécie de lenda. O que ele estaria fazendo de tão importante para não lançar nada nesse período? Inúmeros problemas pessoais acontecerem, desde o rompimento de um longo namoro e um grave acidente de carro ao fim de contrato com sua antiga gravadora.

D’Angelo chegou a colaborar com diversos músicos no período, porém nada que levassem a pistas sobre algum material inédito. Questlove, baterista do The Roots, deu algumas pistas ao falar de como andava os trabalhos. E ele veio. Na última segunda-feira, de surpresa, o cantor lançou The Black Messiah, seu terceiro álbum de estúdio e, enfim, voltou à ativa.

Logo de cara, em "Ain't That Easy", dá para ver toda influência de R&B feito por Prince. O baixo domina a faixa, deixando o ar sombrio da letra mais evidente. Aliás, com todos esses protestos diante dos casos ocorridos em Ferguson e Nova York, esse álbum chega em boa hora. A "1000 Deaths” é pesada e não sai do ritmo, e parece ter sido composta para sair em momentos como o que estamos vendo. O ar pop não impede de "The Charade" de soar misteriosa e cheia de nuances – o vocal de D’Angelo parece melhor do que nunca.

Se não soubesse que "Sugah Daddy" era deste álbum, poderia jurar que era Prince cantando. A qualidade musical da faixa, um R&B empolgante, é incrível que a vontade é dançar até o dia clarear. Depois de um começo pesado, não poderia faltar uma balada romântica. E é assim que "Really Love" se apresenta, já "Back to the Future (Part I)" é uma aula de como fazer um verdadeiro funk à James Brown. Impecável.

Uma das mais curtas do álbum, "Till It's Done (Tutu)" é uma verdadeira aula de baixo para qualquer um, amador ou não, que deseja melhorar sua habilidade no instrumento. "Prayer" é outra que pode ser encaixada como música de protesto com sua mistura entre o funk e o reggae, enquanto "Betray My Heart" parece uma jam session gravada e colocada no álbum. "The Door" e "Back to the Future (Part II)" têm um quê de anos 1960, com a mistura entre o gospel e o R&B – aliás, uma bela mistura. "Another Life" encerra o disco com a esperança de momentos melhores na vida. Aliás, esperança que vive em cada um de nós.

The Black Messiah é desses discos que aparecem em momentos necessários, especialmente quando o racismo e preconceito aparecem nos noticiários (só assim para chamar atenção, né?). O retorno de D’Angelo deve ser celebrado, muito mais do que qualquer outro retorno que tenha acontecido no mundo da música neste ano. Diferente deles, a música escrita e tocada por esse cara ainda é um necessário tapa na cara de muitas pessoas. Que disco.

Tracklist:

1 - "Ain't That Easy"
2 - "1000 Deaths"
3 - "The Charade"
4 - "Sugah Daddy"
5 - "Really Love"
6 - "Back to the Future (Part I)"
7 - "Till It's Done (Tutu)"
8 - "Prayer"
9 - "Betray My Heart"
10 - "The Door"
11 - "Back to the Future (Part II)"
12 - "Another Life"

Nota: 4,5/5



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