Resenha: Marianne Faithfull – Give My Love To London


A carreira de Marianne Faithfull tinha tudo para ser brilhante. Excelente cantora, ela conseguiu fazer um sucesso estrondoso nos anos 1960. Com ajuda do empresário dos Rolling Stones, Andrew Loog Oldham, Faithfull gravou “A Tears Go By” e explodiu. Mas tudo desandou quando abandonou o marido para ficar com Mick Jagger.

Jagger era um exemplo de postura dentro do palco, mas não fora dele. As recorrentes escapadas acabaram deixando Faithfull sozinha por muito tempo. Ela acabou amiga de Brian Jones e Anita Pallenberg e se viciou em maconha. Como diria o outro, isso foi apenas o pequeno passo para drogas mais pesadas e abuso de álcool. Depois de largar Jagger, a cantora tentou retomar sua carreira, mas sem sucesso – entre idas e vindas de várias clínicas durante os anos 1970 e 1980.

Nos últimos dez anos, Faithfull, enfim, conseguiu retomar a carreira de cantora com mais firmeza e Give My Love To London é seu 20º disco de estúdio. Começando pela faixa-título, ela mostra que está com a voz em dia em uma canção que parece inspirada nas cantigas celtas tradicionais. Gostei da melodia, bem arrumada e competente.

Roger Waters está muito mais ligado à ópera do que ao mundo pop atualmente, mas ele acabou não só compondo uma canção para Faithfull como tocou baixo em "Sparrows Will Sing". Por ter esse toque de um ex-membro do Pink Floyd, não é difícil imaginar que seja boa. E é mesmo. Ela reflete bem o atual momento de Waters por criar um clima típico das apresentações, além de instrumentos usados no momento certo – outra que a melodia é brilhante.

Em "True Lies" é possível ver uma verdadeira interprete, daquelas clássicas dos anos 1950 e 1960, mas é na balada romântica baseada no violão "Love More or Less" que vemos como o poder de interpretação dela é acima da média. Outro que contribuiu com uma composição solo e uma parceria foi Nick Cave. "Late Victorian Holocaust" é densa como a história das guerras internas no Reino Unido pelo trono durante os séculos.

Faithfull é uma ótima cantora e tudo mais, mas faltou voz em "The Price of Love", um clássico de Donald Everly e Phil Everly, do Everly Brothers. Mais uma vez a parte instrumental é ótima, porém não compensa a falta do vocal. A sétima faixa, "Falling Back", é o encontro entre a velha geração e a nova, representada por Anna Calvi. E a canção parece ter sido escrita por Leonard Cohen de tão pesada e poética. "Deep Water" é densa por ter praticamente só a voz, enquanto "Mother Wolf" entra na conta da excelente melodia.

"Going Home", de Cohen, ganhou uma ótima interpretação. Se a versão original conta com vocais femininos de apoio e voz grossa do cantor dando um ar dramático, com Faithfull ela ficou mais leve e menos tensa, porém ganhou em melancolia. Com isso, "I Get Along Without You Very Well" acabou não sendo a melhor escolha para encerrar o disco. Criou um clima pesado desnecessário no final.

Como um disco de interpretações, a cantora saiu-se muito bem na missão em fazer releituras de alguns sucessos da música mundial. Mesmo com deslizes aqui e ali, ela compensa algumas coisas. Só não consegue compensar a falta de voz, que está chegando – ela tem quase 70 anos e passou por muita coisa quando jovem. Give My Love To London é um bom álbum para mostrar às cantoras e hoje e falar: “isso é uma interprete de verdade, não o que toca na rádio”.

Tracklist:

1 - "Give My Love to London" (Marianne Faithfull/Steve Earle)
2 - "Sparrows Will Sing" (Roger Waters)
3 - "True Lies" (Dimitri Tikovoï/Ed Harcourt/Marianne Faithfull)
4 - "Love More or Less" (Marianne Faithfull/Tom McRae)
5 - "Late Victorian Holocaust" (Nick Cave)
6 - "The Price of Love" (Donald Everly/Phil Everly)
7 - "Falling Back" (Marianne Faithfull/Anna Calvi)
8 - "Deep Water" (Nick Cave/Marianne Faithfull)
9 - "Mother Wolf" (Marianne Faithfull/Patrick Leonard)
10 - "Going Home" (Leonard Cohen/Patrick Leonard)
11 - "I Get Along Without You Very Well" (Hoagy Carmichael)

Nota: 3,5/5



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