Regina Duarte na Secretaria Especial de Cultura: de pedra a vidraça

Foto: Agência Brasil/Marcos Corrêa/PR

Ontem (29), Regina Duarte foi confirmada oficialmente pelo atual governo para assumir a Secretaria Especial de Cultura. Ela chega para ocupara a vaga de Roberto Alvim, demitido após reproduzir parte do discurso do secretário nazista Joseph Goebbels (1897-1945) em um pronunciamento na TV. Mesmo sendo declaradamente uma apoiadora de Jair Bolsonaro, a atriz entrou em uma bela enrascada que já teve o primeiro resultado prático: a TV Globo, através de nota lida por William Bonner no Jornal Nacional, anunciou a suspensão do contrato e o início da negociação para rescisão.

E entrar nesse governo é uma bela enrascada para ela pelo simples fato de a pasta, hoje atrelada ao Ministério do Turismo (que tem Marcelo Álvaro Antônio investigado por um suposto esquema de candidaturas falsas), é um dos principais alvos da ala ligada a Olavo de Carvalho para combater o moinho de vento do "marxismo cultural". Por ser uma atriz famosa e lidar há anos com a classe, Regina Duarte pode até surgir como uma esperança de melhora para seus colegas, mas sabemos que pode ser demitida a qualquer momento se não atender determinadas exigências dessa ala que gosta de usar os bastidores para pressionar quem não realiza suas vontades de forma imediata.

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Outro ponto que causa questionamento é o que ela fará na pasta. Ser uma atriz de sucesso não significa saber lidar com a administração da Secretaria. É quase como se um clube desesperado contratasse um ex-jogador muito famoso para ser o treinador e assumir todas as responsabilidades, enquanto o chefe se descola complemente do assunto. Vai gerar notícias, debates intermináveis e várias outras coisas, mas a coisa muda de figura quando o serviço começar de fato e decisões tomadas podem agradar ou irritar grupos interessados. Ela vai deixar tudo como está? Vai tentar dar uma cara própria ao trabalho? Vai arrumar confusão com pessoas com influência dentro do governo para bancar certas decisões?

É até difícil saber se Regina Duarte terá carta branca para trabalhar da maneira que acha melhor. Se até mesmo Sergio Moro, chamado de super-ministro, tem seus ruídos com o presidente, é difícil não imaginar que a agora chefe da Cultura no Brasil não terá. Ou ela será simplesmente uma espécie de rainha decorativa apenas para gerar uma cortina de fumaça em meio ao fracasso do ENEM, da demissão de mentira do secretário (que virou de verdade na manhã desta quinta-feira) e de outros grandes problemas que surgem quase diariamente? É quase impossível fazer uma previsão do que acontecerá com a pasta a partir de agora.

Regina Duarte deu uma imensa contribuição para cultura brasileira em papéis em novelas até hoje lembrados por muita gente. Mas agora tudo mudou. A "Namoradinha do Brasil" deixou de ser pedra para ser vidraça. E em um governo que gosta de inimigos imaginários, ela pode sair muito queimada caso não aja exatamente como alguns desejam ou decepcionar quem espera algo dela na classe artística. Ela já disse que é conservadora, mas não sei até que ponto ser conservador significa apoiar esse governo como ela está fazendo.

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