Resenha: Amanda Palmer - There Will Be No Intermission (NSFW)


Novo disco de estúdio da cantora foi, assim como os outros, financiado pelos fãs

Amanda Palmer já era uma pessoa de certo sucesso em um nicho musical quando explodiu mundialmente com sua palestra no TED Talk e com sua autobiografia chamada "A Arte de Pedir" (Ed. Intrínseca, R$ 20 em média). Mas, apesar de ter explodido com seu discurso de autoajuda, Palmer é uma artista nata e a música é a forma encontrada para colocar para fora todos os seus sentimentos. Graças ao público que a financia via Patreon, ela pode lançar seus trabalhos da maneira como quer. E foi graças a eles que "There Will Be No Intermission", novo disco de estúdio, foi financiado e disponibilizado no início do mês.

Esse novo disco é o maior em duração, com 78 minutos cravados, e traz as canções no meio de peças com duração entre menos de 30 segundos até quase dois minutos. Ou seja, é um trabalho conceitual e também um crescimento da cantora. Vinda do punk cigano, ela foi inserindo um lado mais artístico nos singles e discos. O resultado disso começa na introdução feita por "All the Things" para abrir o álbum de fato com "The Ride", em que a compositora compara a vida com uma montanha-russa com duas opções: entrar e aguentar os altos e baixos ou ficar do lado de fora e olhar. Toda no piano, é uma canção muito melancólica e muito bonita.

Veja também:
Resenha: Rival Sons - Feral Roots
Resenha: Stephen Malkmus - Groove Denied
Resenha: Meat Puppets - Dusty Notes
Resenha: The Claypool Lennon Delirium - South of Reality
Resenha: Weezer - Weezer (Black Album)
Resenha: Gary Clark Jr. - This Land


Primeiro single, lançado no segundo semestre de 2018, "Drowning in the Sound" fala sobre como as pessoas estão se afogando cada vez mais na solidão e passam a acreditar em várias coisas para tentar sair dela. É um tipo de canção que apresenta o lado mais artístico da cantora, enquanto "The Thing About Things", lançada em 2013 quando Palmer decidiu não guardar mais canções para álbuns, traz a cantora com seu velho ukulele para declamar uma letra de tom muito pessoal sobre o avô.

E a partir dessa parte, o trabalho começa a soar mais como um diário musicado. "Judy Blume" aposta e ganha ao apresentar um arranjo mais soturno e um vocal bem baixo, e Bigger on the Inside", a melhor de "There Will Be No Intermission", é um relato com o acompanhamento do ukulele de como a fama e os problemas pessoais explodiram em 2013 e como ela precisou enfrentar tudo isso -- no que ela chamou de virar adulta de fato por não conseguir escrever música de tão travada que ficou. "Machete" é uma homenagem ao amigo Anthony, morto em decorrência de uma leucemia em 2015. Diferente das anteriores, é mais agressiva e lembra o material do Dresden Dolls, pelo menos no primeiro minuto, até ganhar melancolia.

O lado pesado do trabalho continua em "Voicemail for Jill", uma canção sobre aborto e como muita gente lamenta a morte do bebê, mas pouco se lembra de dar conforto à mãe. E apesar do ar dramático, "A Mother's Confession" tem certo tom de humor ao ouvir Palmer cantando sobre os acidentes que teve com o filho nos primeiros meses de vida, desde deixá-lo cair no chão até esquecê-lo em uma cafeteria. A letra também traz o questionamento: "será que eu deveria ser mãe?". A parte final traz a dramática "Look Mummy, No Hands", um relato da infância de Palmer, e "Death Thing" é o final dramático que uma peça de teatro teria como auge das coisas ditas até aqui.

As introduções funcionam como uma porta para a letra que virá a seguir. E o que vem não é brincadeira, pelo menos para quem não acompanha a carreira de Amanda Palmer. Quem é fã ou sabe das histórias, ouvirá esse trabalho e se conectará com ela exatamente da forma como sempre fez: ouvindo histórias verdadeiras de uma pessoa muito verdadeira, que abriu seu mundo para os fãs e não se arrependeu disso. Esse disco é mais um diário de Palmer, musicado para fazer ver que ela tem problemas como qualquer um. E está disposta a contá-los ao mundo para mostrar que existem soluções. E se não existir, sempre haverá um abraço afetuoso como consolo.

Clique aqui e leia a resenha de "You Got Me Singing", disco de Amanda Palmer com o pai, Jack.

Clique aqui para ouvir o disco na íntegra.


Tracklist:

1 - "All the Things"
2 - "The Ride"
3 - "Congratulations"
4 - "Drowning in the Sound"
5 - "Hold on Tight, Darling"
6 - "The Thing About Things"
7 - "Life's Such a Bitch Isn't It"
8 - "Judy Blume"
9 - "Feeding the Dark"
10 - "Bigger on the Inside"
11 - "There Will Be No Intermission"
12 - "Machete"
13 - "You Know the Statistics"
14 - "Voicemail for Jill"
15 - "You'd Think I'd Shot Their Children"
16 - "A Mother's Confession"
17 - "They're Saying Not to Panic"
18 - "Look Mummy, No Hands"
19 - "Intermission Is Relative"
20 - "Death Thing"

Avaliação: muito bom



Siga o blog no Twitter e no Facebook e assine o canal no YouTube. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

Saiba como ajudar o blog a continuar existindo

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!

Continue no blog: