Dez discos de metal lançados em maio que merecem sua atenção (com bônus)


Por Rodrigo Carvalho 

Musicalmente, maio foi um mês deveras confuso.

Não tem como explicar direito, mas talvez os álbuns lançados consigam exemplificar o que quero dizer.


Arcturus - Arcturian

Os desbravadores noruegueses passaram praticamente uma década vagando inertes e congelados pelo espaço depois de explorar do inferno às realidades paralelas, sempre empurrando a si mesmo (não apenas o black metal, mas todo estilo) algumas milhas a frente por terrenos desconhecidos. Arcturian é o atracar em sua terra, descarregar as toneladas de bagagens e sentar-se com a família na mesa para contar sobre as experiências que viveu enquanto esteve fora, e revisitar cada episódio de sua história. Fica a dúvida apenas se este é o encerramento definitivo da jornada.


Cave of Swimmers - Reflection

O Cave of Swimmers é formado por dois venezuelanos que cresceram cercados tanto pelos clássicos como Rush e Black Sabbath quanto por música latina, o que é importante para entender o doom metal limpo e simples, mas também bem profundo graças as influências de suas raízes. Se o Candlemass com Messiah Marcolin fosse da América do Sul, talvez eles soassem assim.


Kamelot - Haven

Se o sentimentalismo do Kamelot soa por vezes exagerado, é indiscutível que a banda trouxe novas interpretações para o power metal e criou todo um universo, que se torna mais e mais amplo a cada trabalho desde The Fourth Legacy. A evolução pode ser sutil, mas Haven soa muito mais confortável e dinâmico, sem o assombro deixado pelo fantasma da saída de Roy Khan, mas mantendo aquela atmosfera singular que flutua entre o romantismo soturno e o steampunk.


Kore – EvolvE

Como soaria o Opeth se eles fossem absolutamente fissurados por "2001 – Uma Odisseia no Espaço" e não muito ligados na atmosfera de "O Iluminado". Às vezes a simplicidade é a única forma de tentar explicar algo complexo (e continuar falhando miseravelmente).


Korpiklaani - Noita

Talvez estes beberrões finlandeses estejam celebrando a sua própria história há muito tempo. Talvez eles já estejam naquele ponto em que acordam e se embriaguem dia após dia da mesma forma que saímos de casa e vamos trabalhar. Talvez Noita continue soando como um dia de feira naquele vilarejo infestado de maltrapilhos, sujeitos com violinos e acordeões, que depois se torna um grande ritual ao redor da fogueira. Talvez celebrar a própria vida da forma que o Korpiklaani está fazendo seja o verdadeiramente correto.


Leprous - The Congregation

Imagine que você compra um ingresso para assistir aquele novo blockbuster, de enredo furado, explosões absurdas e perseguições implacáveis. Ao entrar na sala e se sentar, em vez do filme, se depara com um grupo de dança, esvoaçante, sincronizado de forma orgânica com o ritmo de uma música densa, que martela incessantemente. Você pode não fazer ideia do que está acontecendo, mas por alguma razão seus olhos não conseguem desviar de cada movimento, e a percepção parece presa a cada nota da melodia incômoda. Sem exageros, é mais ou menos assim que você deve se sentir cada vez que ouve a nova obra destes noruegueses.


Orakle - Éclats

Quando se trata de música extrema francesa, imediatamente se pensa na ecologia groove do Gojira ou nos nostálgicos planos do Alcest (e nas infinitas bandas inspiradas nestes). O Orakle foge completamente ao conceito: muito mais próximo do que seria a união entre o Opeth e o Borknagar, o apresentado em Éclats, seu terceiro álbum, são os elementos em busca da quintessência. Jazz, power metal, gothic, rock progressivo, todos envoltos por uma aura teatral que une toda a heterogeneidade em um resultado sólido, estável e belíssimo.


Pitbulls in the Nursery – Equanimity

Que o technical death metal já está estagnado há algum tempo, não é novidade nenhuma. Mas verdade seja dita, algumas bandas ainda insistem no estilo e conseguem fazer funcionar. A francesa Pitbulls in the Nursery é uma delas. Mais interessante ainda é que não é a atmosfera vinda de algum lugar entre Sepultura, Korn e Susperia que paira sobre Equanimity, nem as inserções bruscas de jazz, mas sim que um grupo com um nome tão horroroso como esse consegue restaurar o interesse em todo um estilo.


Secrets of the Sky - Pathway

Pathway é o decorrer de um dia depois do fim do mundo. É como viver ao longo das horas em um planeta quase abandonado, em que boa parte da vida supostamente inteligente não existe mais, por conta de seus próprios erros. O silêncio ao redor, quebrado apenas pelos sons naturais e pelo turbilhão de reflexões encarnados na forma de uma fantasmagórica amálgama de doom, sludge e post metal, com a narração de Garett Gazay interpretando desde as delicadas camadas ambientes às densas trovoadas que tomam conta do céu com o escurecer. Vivenciar o segundo álbum do Secrets of the Sky é uma experiência solitária. E ao mesmo tempo uma das mais surpreendentes.


Valkyrie – Shadows

Aparentemente o tempo de reclusão de Peter Adams após os acontecimentos trágicos com o Baroness em 2012 foi em alguma cabana remota no meio do Arizona, onde as únicas coisas para passar o tempo eram um barril de whisky vagabundo e o Master of Reality, do Black Sabbath. Ingredientes mais do que essenciais para o Valkyrie soar como soa em seu retorno em Shadows.


E como já de costume, mais alguns que não podem ser esquecidos:

Civil War – Gods and Generals

Os renegades do Sabaton parecem estar formando uma unidade com poder de fogo superior aos heróis suecos. Há uma guerra cada vez mais evidente acontecendo.

King Parrot – Dead Set

Tão agradável quanto levar um soco inesperado enquanto atravessa um beco escuro e úmido no meio da noite.

Lucifer – Lucifer I

O guitarrista do Cathedral com a vocalista do The Oath, lançado pelo Lee Dorian. Você com certeza já deve saber como soa.

Magic Pie – King for a Day

Pois de vez em quando um bom disco de rock progressivo basta apenas seguir os clichês do estilo. Por mais incoerente que isso possa soar.

Pyramaze – Disciples of the Sun

Há vida após Matthew Barlow. E muito mais do que se poderia esperar.

Sun & Sail Club – The Great White Dope

Pois hardcore e stoner definitivamente podem coexistir na mais completa harmonia.

Tau Cross – Tau Cross

Um emaranhado de galhos de punk e heavy metal que brotou da união regada pelo crust entre Amebix e Voivod.

Ten Foot Wizard – Sleeping Volcanoes

Stoner blues extraído de uma vala no meio de rochas desérticas, tão despretensiosa que foge do comum e nem se preocupa com o oculto ou com a erva entranhada ali.

Veil of Maya – Matriarch

Mais simples. Mais melódico. Definitivamente o passo adiante que faltava em direção ao equilíbrio no formato de uma ode a importantes figuras femininas da ficção.


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