Resenha: Johnny Cash – Out Among The Stars


Johnny Cash morreu há dez anos, mas seu legado na música mundial é dos mais respeitáveis. Contemporâneo de Elvis Presley, Carl Perkins e Jerry Lee Lewis, o cantor passou por diversos problemas pessoais nos anos 1960 e ao conseguir dar a volta por cima, mostrou que não estava acabado. Um segundo retorno aconteceu no início dos anos 2000, quando o produtor Rick Rubin conseguiu extrair um último suspiro musical dele, mostrando às novas gerações o talento de um grande intérprete.

Abrindo o disco com a faixa-título, a produção mostra o resultado de um ano de trabalho nas demos gravadas entre 1981 e 1988. O country leve e dançante de "Out Among the Stars" mostra bem como Johnny Cash não havia perdido a mão na hora de compor uma música acima da média. O dueto com sua mulher June Cash Carter só mostra como ele conseguia aliar bem sua voz potente com a delicadeza de June em "Baby Ride Easy".

Em "She Used to Love Me a Lot" temos uma melodia mais densa que ganha muito com o coro, a segunda voz feminina e os instrumentos de corda, enquanto "After All" coloca Cash cara-a-cara com ele mesmo ao cantar uma letra com toques autobiográficos – quem viu o filme Johnny e June (Walk The Line [2005]) sabe do que estou falando.


O dueto com Waylon Jennings deu força a "I'm Movin' On", mais uma canção country dançante do repertório com uma melodia ótima. Com toques folk, "If I Told You Who It Was" tem letra fácil e é outra que entra no grupo das canções felizes do repertório. Mas, diferente de outras, tem uma pegada mais contadora de uma história. Já “Call Your Mother”, pode não parecer pelo nome, fala da separação de um casal logo no verso inicial (When you get a chance/ Would you please call your mother/ And thank her for the good years that we had?/ Gently break the news that you don't love me/ And give my best regards to your good old dad), e isso toca a faixa até o final.

Semelhante ao trabalho que fez nos primeiros dez anos de carreira, Cash empunha o violão em "I Drove Her Out of My Mind" e em "Tennessee", músicas que têm temáticas semelhantes, mas estilos diferentes – uma é bem característica dele, outra é um blues rock de alto nível, gravado ao vivo, que tem um coro de crianças muito bom na parte final.

"Rock and Roll Shoes" é daquelas que rementem aos anos 1950 e aos tempos em que as turnês não eram glamurosas e, dificilmente, fica fora de alguma trilha sonora de filme sobre aquela época. June aparece mais uma vez no bom country folk "Don't You Think It's Come Our Time"; por fim, "I Came to Believe" encerra o disco póstumo de Johnny Cash de maneira melancólica, mas com aquele toque de esperança de que o personagem da saga será salvo por alguma divindade e que tudo ficará bem.

Um trabalho póstumo é sempre tratado como algo para os herdeiros ganharem algum dinheiro com as canções de seus parentes – em alguns casos, isso é verdade absoluta. Não sei se é esse o caso, mas Cash não deveria ter guardado essas belíssimas canções. No geral, é exatamente o álbum que esperava dele: blues, country e folk de alto nível. Teria sido um dos melhores lançamentos do ano em qualquer década.

Tracklist:

1 - "Out Among the Stars"
2 - "Baby Ride Easy" (feat. June Cash Carter)
3 - "She Used to Love Me a Lot"
4 - "After All"
5 - "I'm Movin' On" (feat. Waylon Jennings)
6 - "If I Told You Who It Was"
7 - "Call Your Mother"
8 - "I Drove Her Out of My Mind"
9 - "Tennessee"
10 - "Rock and Roll Shoes"
11 - "Don't You Think It's Come Our Time" (feat. June Cash Carter)
12 - "I Came to Believe"
13 - "She Used to Love Me a Lot" (JC/EC Version)

Nota: 3,5/5



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