Resenha: Chris Lightcap's Bigmouth - Epicenter


Por Gabriel Carvalho

Chris Lightcap é mais um exemplo de músico que constrói carreira e reputação sólidas atuando – em estúdio e nos palcos – para outros artistas e, num determinado momento, decide que é hora de se lançar como líder de uma banda. Este nativo da cidade de Latrobe, no estado norte-americano da Pensilvânia, lançou os dois primeiros discos como Chris Lightcap Quartet – Lay-Up, em 2000, e Bigmouth, em 2003 – sempre acompanhado pelo baterista Gerald Cleaver e pelos saxofonistas Tony Malaby e Bill McHenry.

A partir do terceiro registro, Deluxe, as coisas mudaram: McHenry foi substituído por Chris Cheek e o pianista/tecladista Craig Taborn se juntou à trupe. Por ter se tornado um quinteto, a mudança no nome também se fazia necessária. Foi então que surgiu a Chris Lightcap’s Bigmouth. Cinco anos após o lançamento de Deluxe, Lightcap e companhia vêm agora com Epicenter, quarto disco do baixista como líder e o segundo com o quinteto.

O registro tem oito faixas, sendo sete delas inéditas. O único cover do disco é a excelente versão de “All Tomorrow’s Parties”, do clássico The Velvet Underground & Nico, estreia do grupo liderado pelo lendário Lou Reed. A canção soa como o encerramento perfeito para o que vem nas faixas anteriores. As sete canções inéditas do disco formam uma espécie de suíte, para a qual o quinteto deu o nome “Lost and Found: New York”, uma homenagem a alguns bairros da cidade que o baixista escolheu para viver.

Tudo começa em “Nine South”, um jazz vigoroso e de tempos quebrados, protagonizado de forma brilhante por Taborn. A curta “White Horse” começa com Lightcap fazendo um dedilhado de violão acompanhado por Taborn no órgão, enquanto bateria e os dois saxofones entram progressivamente, dando à faixa um ar profundo e intenso, funcionando como um interlúdio para o que vem na sequência. A faixa-título é uma jam com partes distintas: começa com o baixista protagonizando no contrabaixo, seguido pelo pianista em um solo preciso. Depois, quem entra são os saxofonistas – e então fica bem evidente a diferença entre os timbres de Cheek e Malaby: o primeiro, mais ‘limpo’ e ‘suave’, enquanto o segundo é mais ‘sujo’ e ‘agressivo’.

“Arthur Avenue” é uma faixa mais tranquila e uma prova da sensibilidade dos músicos, que colocam a intensidade necessária para a faixa, sem arroubos de virtuosismo. Aqui, mais do que em qualquer outro momento do disco, o ouvinte é convidado a colocar os fones de ouvido, sentar em uma cadeira confortável e se ‘desligar’ do mundo. “Down East” é mais uma que funciona como interlúdio, mas com características bem diferentes de “White Horse”: uma pegada rock, em que Taborn ataca as teclas do piano com vigor e faz a base para os solos de saxofone.

Após o breve momento rock, “Stillwell” traz o jazz de volta na faixa mais longa do registro, com pouco mais de dez minutos. Um trabalho melódico excepcional, timbres e solos precisos, banda afiadíssima. Uma aula de composição e execução. O nível segue o mesmo – ou seja, lá em cima – em “Stone By Stone”, faixa com um tom um tanto quanto melancólico, como se o quinteto estivesse dizendo ao ouvinte “infelizmente (para nós também) o disco está se aproximando do final", que vem depois com o cover do The Velvet Underground.

Os três discos anteriores do grupo liderado por Chris Ligthcap sempre receberam boas críticas. Epicenter tem tudo para, no mínimo, receber críticas tão positivas quanto os seus predecessores e para figurar na lista de melhores lançamentos de jazz em 2015 – a disputa pelo top-10 tende a ser acirradíssima.

Tracklist:

1 – “Nine South”
2 – “White Horse”
3 – “Epicenter”
4 – “Arthur Avenue”
5 – “Down East”
6 – “Stillwell”
7 – “Stone by Stone”
8 – “All Tomorrow's Parties”

Nota: 5/5



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