Resenha: Jair Rodrigues - Deixa que Digam, de Rubens Rewald


Filme está presente na programação da 25ª edição do festival É Tudo Verdade, que acontece entre os dias 23/9 e 4 de outubro

"Jair só ficava calado quando assistia Chaves porque ele gostava muito", contou a viúva do cantor Claudine Mello em depoimento ao documentário "Jair Rodrigues - Deixa que Digam", dirigido por Rubens Rewald. Essa curta e emblemática frase serve para mostrar como o cantor, morto em 2014, era música pura todo dia, o dia inteiro. E isso é uma das primeiras coisas que o documentário mostra: Jair Rodrigues era música.

Os primeiros minutos servem para entender que Rewald e o cantor haviam conversado sobre a ideia de fazer um longa para contar uma incrível história de vida, mas Jair acabou morrendo e os planos foram adiados -- não esquecidos. "Jair Rodrigues - Deixa que Digam" ajuda a entender esse homem feliz e sempre disposto a cair nos braços do público que sempre amou do primeiro ao último minuto de vida.

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Os depoimentos de familiares, amigos e de gente da música ajudam a construir essa imagem de alguém que deixou de ser alfaiate para tentar ganhar a vida como artista em São Paulo como crooner em boates. E existia uma regra não falada sobre essa profissão: era necessário saber cantar de tudo um pouco. Do samba dançante ao samba-canção, passando pelos clássicos do auge da influência da rádio nas grandes cidades, Jair Rodrigues tinha um vasto repertório para cantar e, se necessário, sair de qualquer enrascada que as intempéries da vida o colocassem.

Seus grandes momentos aconteceram nos anos 1960, quando fez uma parceria inesquecível com Elis Regina no programa "O Fino da Bossa", na antiga TV Record, e quando ganhou, ao lado de Nara Leão e Chico Buarque com "A Banda", o II Festival da Música Popular Brasileira, de 1966, com a histórica interpretação de "Disparada".

O documentário tem muito bom gosto para contar as histórias sobre Jair Rodrigues através das entrevistas como a participação de Jair Oliveira, filho do cantor e também músico, a interpretar as histórias do pai ajudam entender seu estilo para cima e cheio de energia. E o longa também tem um importante papel ao falar sobre o repertório dele, principalmente para revelar o jeito de ele exaltar a cultura negra brasileira, e sobre a ditadura e o seu não envolvimento com os protestos.

Como quase todo artista brasileiro, Jair Rodrigues chegou a ser esquecido em um bom período da vida, mas conseguiu manter a alegria mesmo em alguns dos piores momentos. Ele era música e alegria o tempo inteiro, isso fica muito claro. E adorava estar na estrada nos braços do povo, quase que literalmente em todos os shows.

"Jair Rodrigues - Deixa que Digam" é um ótimo documentário sobre um dos melhores cantores brasileiros do século 20 e emociona ao relembrar que a alegria da música no Brasil morreu um pouco quando ele se foi.


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