Festival: In-Edit Brasil 2017


Evento conta com 60 filmes, palestras e diversas atividades

Começou a nona edição do In-Edit Brasil, festival de documentários musicais. Desde o último dia 14 até o dia 25, são 60 documentários e atividades ao longo dos dias. Cobertura já começou e, como sempre, não prometo nada em quantidade. Vamos não ter meta para depois dobrá-la.

Clique aqui e veja a programação, aqui para ouvir a playlist montada pela organização e aqui para ver como foi a cobertura no ano passado.


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On the Road (2016) 

Direção: Michael Winterbottom. Duração: 121 min. Elenco: Shirley Henderson, Paul Popplewell, James McArdle. País: Reino Unido. 

O Wolf Alice é uma banda com apenas um disco cheio, mas já tem uma sólida base de fãs. Isso é possível ver em On the Road, primeiro documentário assistido na nona edição do In-Edit Brasil. O 'plot' é dos mais promissores: uma jovem banda em turnê pelo Reino Unido colhendo os frutos do sucesso do disco recém-lançado e com o apoio de duas bandas iniciantes prontas para dar o sangue e ser o Wolf Alice do verão seguinte.

Mas o documentário é uma decepção só. Não acontece nada entre a banda basicamente. Não que estivesse esperando carreiras de cocaína sendo cheiradas ou noites alucinantes de sexo com golfinhos, mas o Wolf Alice é um exemplo de como o mundo da música mudou muito em vários aspectos. Eles chegam, fazem a passagem de som, umas fotos, esperam a hora do show, tocam com muita energia (isso é uma qualidade e tanto), entram no ônibus e seguem. É isso, basicamente.

Os momentos de mais emoção são do caso entre uma moça e um rapaz. Tem até umas cenas de sexo explícito, que espantou uma velhinhos no Centro Cultural, porém soa tudo muito forçado e falso – em casa, descobri que ambos são atores. Se o diretor quis colocar uma relação para gerar um drama, fracassou com louvor. O filme não engrena em nenhum momento, além de ser repetitivo. Não há interação entre os membros da banda, tudo é muito frio e distante.

As bandas novatas tinha muito mais a dar nesse aspecto. Animados e bêbados, eles, sim, mereciam ter a história contada pelo simples fato de ter uma. O destaque são as passagens musicais, essas filmadas com material de primeiro nível e mostram toda a atmosfera de um show pelo lado de quem está no palco e por quem está assistindo.

No fim, a próxima etapa da banda é a turnê nos Estados Unidos. Talvez isso merecesse muito mais um documentário do essa tentativa frustrada de mostrar uma banda real embalando um romance de verão fictício com desnecessárias mais de duas horas.


Zivan Makes a Punk Festival (2014) 

Direção: Ognjen Glavonic. Duração: 64 min. Elenco: Zivan Pujic, Nenad Nikolic Shpigla, Zlatko Rezancic Dostojevski . País: Sérvia. 

Imaginem o seguinte cenário: você mora no interior da Sérvia e há seis anos é responsável pelo único festival punk das redondezas. Essa é a história protagonizada por Zivan Pujic Jimmy, um cara completamente fora do normal para os padrões de seu lugar de origem, mas louco por punk e que adora colocar a mão na massa – mesmo com pouquíssimos recursos financeiros. Deve ser um dos melhores documentários que já vi no festival.

O longa não demora muito a apresentar o personagem principal, um louco, como ele mesmo se trata. O "evento" acontece no melhor estilo "faça você mesmo". É banda ajudando a mudar as coisas de lugar, são os amigos ajudando na montagem, dando dinheiro... Enfim, ele tem muita ajuda para fazer o negócio virar.

É claro que ele não consegue atrair a quantidade de gente esperada. Mesmo apostando em cartazes pelo centro da cidade e fazendo o famoso boca-a-boca, 12 testemunhas acompanham as apresentações que, pela primeira vez, tem uma banda da Eslováquia. Pujic dá um show de desorganização, falta de planejamento e enfrenta vários problemas – desde sérios problemas de fluxo de caixa até esquecer de limpar o banheiro.

De maneira involuntária, tudo acaba virando uma comédia de tão peculiar que é o personagem desse longa. Além de organizador, contratante, caixa, bilheteiro e lixeiro, também se mete a ser poeta e fala alguns versos bem decorados antes de cada apresentação, entediando as atrações musicais por longos minutos de espera.

O óbvio fracasso o faz ser ironizado e confrontado por um de seus colegas sobre o motivo de insistir em continuar fazendo algo que, claramente, não dá o menor lucro e gera despesas absurdamente altas para alguém completamente sem dinheiro. Mas é aí que o "faça você mesmo" fala mais alto e, sem desanimar, Pujic parece já pensar em como vai fazer no próximo ano. A começar por limpar a bagunça deixada.


Perdido em Júpiter (2016)

Direção: Deo. Duração: 84 min. Elenco: Júpiter Maçã, Rogério Skylab, Cascavelletes, Tatá Aeroplano. País: Brasil.

"É um documentário muito polêmico. Tem gente que vai gostar, tem gente que vai odiar". Além dessa apresentação, o programa conta que o documentário foi feito todo baseado em vídeos no YouTube com a participação de Júpiter Maçã (1968-2015). O que pensar disso? "Deve ser uma zona", disse para mim mesmo momentos antes de entrar na sala. Mas não é. Muito pelo contrário, é uma verdadeira aula de pesquisa, organização e edição.

O formato em si é bem curioso, já que não deve ser muito comum você juntar pedaços de vídeos e dar play, mas a montagem é das melhores ao deixar Flávio Basso, Júpiter Maçã, Júpiter Apple e Woody Apple brilharem na tela. Só assim para se ter ideia de quanta coisa está postada no YouTube – até os créditos finais foram retirados de lá! A construção da carreira de Basso, ainda nos Cascavelletes, é contada por ele mesmo ao longo de entrevistas para vários lugares – desde canais famosos até projetos experimentais e passando por podcasts e diversos formatos.

A evolução dele em Júpiter Maçã, quando atingiu o sucesso e tocou o coração de muitos adolescentes, é notória. Era impossível não parar para vê-lo tocando alguns de seus grandes sucessos ou a próxima composição maluca que entraria em um disco só seria lançado em um ou dois anos. Se existiu algum artista brasileiro que mudou tanto e viajou tanto sem sair do chão, esse foi Júpiter Maçã. Da bossa nova até a psicodelia, ele explorou e fez tudo que quis – e como quis.

Todas as fases são mostradas, sucessos são apresentados, os dramas e os momentos felizes são mostrados apenas dando play em um vídeo que está disponível entre os bilhões de minutos postados diariamente no YouTube. Esses tempos mostram muitas facetas de criatividade em diversas áreas, e esse documentário é a prova de que sempre alguém pode ir mais além para contar uma história bonita. E que merecia ser, não só contada, mas reverenciada. Júpiter Maçã é o astro de um longa que explora muito bem as possibilidades da internet. E faz jus ao personagem.


Sotaque Elétrico (2017)

Direção: Caio Jobim e Pablo Francischelli. Duração: 85 min. Elenco: Lucio Maia, Sérgio Dias, Davi Moraes, Kiko Loureiro, Fernando Catatau, Kiko Dinucci. País: Brasil.

Muito mais do que contar a história de músicos que tem em comum o amor pela guitarra, o documentário também traz como ator o som. Sim, porque cada protagonista tem seu próprio som. Do carimbó ao experimental, não há uma repetição sequer de ritmo, gênero ou do que lá seja o que eles fazem. Sem dúvida alguma, contar a riqueza da música brasileira através de um instrumento é um ótimo recorte e uma bela sacada.

Mas há certos problemas de ritmo quando o personagem apresentado é mais experimental, e o longa acaba ficando pesado e maçante em determinados momentos. Isso quebra muito o ritmo, porque os outros são apresentados de maneira que o espectador consegue acompanhar bem quem são, a região, sua influências e como a paixão pela guitarra o tornou quase apenas um com o instrumento.

Os números musicais são dos mais interessantes. Ao não tirar o retratado do momento de seu mundo particular, todos pareceram bem à vontade para fazer o que sabem: tocar guitarra. Lucio Maia destaca sua dificuldade em estar em uma banda com muita percussão, Kiko Loureiro conta como sair do mundo do metal o fez melhorar, ex-Tutti Frutti Sérgio Carlini conta deliciosas histórias de quando era vizinho de Sérgio Dias, ainda vocalista dos Mutantes.

Outro bom ponto foi contar a chegada do violão no Brasil, e como isso teve impacto na música regional – a percussão era o principal instrumento das festas durante muitos anos. Quando o longa quis ser cuidadoso em mostrar o personagem e sua relação com a guitarra, respondeu bem; quando quis enfeitar muito, acabou perdendo o tom e deixando tudo muito pesado para quem é leigo.

O desequilíbrio no ritmo acaba tirando muito do potencial do documentário, que é bom em contar essas histórias, mas pecou justamente quando quis transformar o diferente em exótico.



Tokyo Idols (2017)

Direção: Kyoko Miyake. Duração: 90 min. Elenco: Rio Hiiragi, Koji Yoshida, Hyadain, Minori Kitahara. Países: Canadá, Reino Unido e Japão. 

A sexualização de garotas na cultura japonesa é muito forte. Dos animes mais leves ao mais pesados, é algo ainda tratado como comum por lá, apesar de algumas mudanças estarem acontecendo nos últimos anos. O documentário Tokyo Idols mostra como essa cultura ganhou proporções absurdas no país, transformando meninas e adolescentes em quase escravas de homens.

As "ídolos", como são chamadas, são garotas entre 7 e 20 anos que têm um fã-clube formado por homens entre 18 e 65 anos. Eles não apenas acompanham o trabalho delas, mas dedicam sua vida a simplesmente conseguir um aperto de mão de sua favorita. A personagem principal do longa é Rio Hiiragi, 21, conhecida por RioRio, já considerada velha para ser uma "ídolo". Koji Yoshida, 43, é fã de Rio-Rio e faz tudo para acompanhá-la em sua vida – inclusive largou um emprego estável para dedicar-se 100% nessa atividade.

Uma psicóloga e um sociólogo japoneses foram convidados para falar de aspectos sociais e psicológicos desses homens. O perfil deles é, geralmente, homens solteiros e sem nenhum tipo de intenção amorosa com qualquer pessoa. Essas pessoas não querem ter nada com ninguém, então acabam projetando suas vidas e até mesmo erotizando essas garotas. Tudo para ter o controle de uma relação, ainda que seja distante. Já as meninas são treinadas desde cedo para serem escravizadas nessa atividade de ser uma "ídolo". Disponíveis 24 horas por dia, elas não podem ter um namorado, nem tratar mal os fãs. E precisam estar sempre sorrindo e respondendo a todos o tempo inteiro.

Como quase tudo no mundo, esse mundo das "ídolos" virou uma indústria que gera muito dinheiro, competitividade entre garotas e, de certa forma, vem atrapalhando a taxa de nascimento no Japão. Com homens de diversas idades cada vez mais dispostos a abrirem mão de suas vidas para projetarem sua masculinidade em garotas que eles têm o controle, ainda que distante, a taxa de natalidade no país sofre queda a cada ano.

Dentre os longas no festival, era um que estava muito curioso para assistir. Além de corresponder às expectativas e ser dos melhores dessa edição, mostra uma parcela de uma sociedade japonesa doente em vários aspectos.


Sonita (2015)

Direção: Rokhsareh Ghaemmaghami. Duração: 91 min. Elenco: Sonita Alizadeh, Latifah Alizadeh, Fadia Alizadeh. País: Alemanha e Suíça. 

Uma rapper afegã que mora no Irã e que solta uma crítica sobre os casamentos forçados tem tudo para ser um documentário polêmico, certo? E é mesmo. Sonita Alizadeh, 18, fugiu da guerra em seu país natal e encontrou abrigo entrando ilegalmente no Irã para ficar com uma tia. É a típica história de alguém que desafia a família e as tradições em busca de um sonho – no caso dela, ser uma MC no hip-hop, algo proibido pela regras iranianas.

Diferente de muitos lugares de rigidez religiosa, em determinados aspectos, os iranianos são mais liberais. As mulheres, por exemplo, precisam andar apenas de véu, sem a necessidade de cobrir todo corpo com aquelas roupas enormes. Sonita faz terapia, teatro e tenta recuperar um pouco a vida perdida em anos de guerra. Nisso, alimenta o sonho de ser uma rapper de sucesso, ficar rica e ajudar a família a sair de uma situação de pobreza.

Em determinado ponto, a diretora Rokhsareh Ghaemmaghami enfrenta um dilema cruel para qualquer documentarista: interferir ou não em seu objeto de filmagem? Para que o irmão consiga pagar o dote e casar, Sonita é forçada pela mãe a casar com um homem apenas pelo dinheiro. Nisso a Ghaemmaghami toma a decisão de interferir ao dar comprar seis meses para Sonita continuar sua vida no Irã.

Ao tomar essa decisão, a diretora mudou a vida dessa garota ao virar uma espécie de madrinha. Com o sucesso de seu primeiro clipe, as coisas começam a acontecer para Sonita, que ganha dois prêmios na França e é convidada para estudar nos Estados Unidos. Ainda há o drama de conseguir o passaporte, mas tudo dá certo.

A questão é até que ponto é certo interferir desse jeito nos rumos da personagem. Porque a diretora não só mudou o rumo da história, como também virou um personagem fundamental para essa mudança profunda. Ela fez por afeição ou para não perder sua história? É um bom documentário sobre uma garota esforçada e cheia de sonhos, mas teria ela conseguido tudo isso sem essa ajuda? Fica a pergunta.

Veja também o vídeo no canal do blog no YouTube sobre o festival:




Chasing Trane: The John Coltrane Documentary (2016) 

Direção: John Scheinfield. Duração: 99 min. Elenco: Denzel Washington, Bill Clinton, Commom, Carlos Santana. País: Estados Unidos. 

Que ninguém duvide ou questione que John Coltrane (1926-1967) foi um dos músicos mais visionários da história dos Estados Unidos no século 20. Sua história é contada de maneira brilhante em Chasing Trane: The John Coltrane Documentary, um dos melhores que já vi em três anos de cobertura do In-Edit.

Estruturalmente, há pouca novidade em como a história é contada, mas o longa é brilhante em amarrar depoimentos de fãs famosos, companheiros de banda, os filhos e a narração do ator Denzel Washington – aliás, ele já está pronto para substituir Morgan Freeman como narrador de qualquer coisa no mundo.

Saber, por exemplo, que Coltrane é o exemplo de trabalho duro, que o sucesso não veio de primeira em sua carreira, que ele precisou ir para o fundo do poço antes de voltar triunfalmente. Como um bom documentário, nada é escondido e o abuso de drogas dele no fim dos anos 1950 é tratado como seu pior momento pessoal e profissional. Ele, vendo amigos morrendo por isso, tomou a decisão de não usar mais. E acabou mudando para sempre a história do jazz.

Os depoimentos colocam Coltrane como uma espécie de Deus que esteve na Terra para pregar sua palavra, tirar os pecados dos seus seguidores e, assim cumprida sua missão, voltar ao reino dos céus carregando a glória de ter feito exatamente o necessário para isso acontecer. Só que ele fez isso através da música, e isso faz uma enorme diferença. Porque seu legado continua até os dias de hoje.

O grande personagem do longa é o colecionador Osaharu Fukushima. Apaixonado por Coltrane desde sua tocante passagem pelo Japão – e apresentação em Nagazaki, onde pagou tributo aos mortos pela bomba atômica – ele percorre o mundo em até cinco meses por ano atrás de itens raros, fotos e qualquer material que ele ainda não tenha de John Coltrane. E spoiler: ele tem uma casa só com memorabilia.

Se tem um documentário que vale a pena assistir por diversos aspectos, da qualidade ao conteúdo, sem dúvida  Chasing Trane: The John Coltrane Documentary é um deles.


The Wonderful Kingdom of Papa Alaev (2016) 

Direção: Tal Barda e Noam Pinchas. Duração: 74 min. Elenco: Amir Alaev, Ariel Alaev, Amanda Alaev, Avrahm Alaev. País: Israel. 

Papa Alaev é um famoso instrumentista na Europa. Nascido no Tajiquistão, fez muito sucesso em sua terra natal durante os momentos finais do domínio da União Soviética em seu país. Com o fim do regime, mudou-se para Israel com toda família. Lá, ensinou aos filhos e netos sua arte. E, com eles, montou uma banda que percorre alguns dos festivais no leste europeu, garantindo o sustento de todos.

Como em muitas famílias antigas, o Alaev pai é uma espécie de poderoso chefão e quem manda na casa. Funciona na base do "ele manda, o resto obedece". Isso gera conflitos com algumas lideranças emergentes, como o neto. Também instrumentista, ele é extremamente carismático no palco e já começa a querer dar seus pitacos na banda. Mas, claro, é cortado pelo avô. À medida que o longa avança, fica clara a relação dúbia entre os dois. Por um lado, o neto sabe que deve obediência; por outro, sabe que precisará passar por cima caso queira conseguir algumas coisa.

Também há a dificuldade clara na relação com a filha. Desprezada por ser mulher, ela também ensaia desobedecer o pai quando entra em uma banda para fazer uma apresentação com o filho. A união dessas duas forças contrasta com o filho homem e mais velho, esse obediente e zeloso com o pai em todos os momentos.

A passagem de bastão para a próxima geração acontecerá queira Papa Alaev querendo ou não, mas a parte final mostra como ele está sendo cada vez mais desafiado pelos mais jovens. A melancólica parte final, em que ele está deitado na cama dormindo, expõe toda sua idade, problemas de saúde e como ele pouco pode fazer a não ser se agarrar aos poucos fios de esperança que ainda lhe restam para seguir em sua posição. Mas, por seu olhar de desolação em vários momentos, sabe que isso vai durar pouco.

É um bom documentário ao mostrar as claras diferenças entre a geração que cresceu sob o domínio soviético e a que cresceu em Israel e livre de qualquer coisa referente ao regime. Os toques de humor equilibram bem essa trama sobre como a idade chega para todo mundo e como as coisas mudam – queira você que isso aconteça ou não.


I am Thor (2015)

Direção: Ryan Wise. Duração: 82 min. Elenco: Jon Mikl Thor, Mike Favata, Steve Price, Rusty Hamilton. País: Estados Unidos.

Imaginem as situações: com um show performático e cheio de energia, você está pronto para virar um astro do metal. Daí você é sequestrado por empresários para afastá-lo das negociações dos contratos; você está pronto para retornar e explodir, mas tudo dá errado e o fracasso chega como um soco na cara. Você se aposenta, porém decide voltar dez anos por ser um apaixonado pelo que faz para tocar em espeluncas de quinta por uns trocados.

A história de vida de Jon Mikl Thor tem mais reviravoltas do que Game of Thrones. Ele é a prova viva de que nem sempre o sucesso chega, por mais esforçado que a pessoa seja. E não foi por falta de esforço, podem acreditar. Thor fez de tudo para ficar famoso: contratou um bom empresário no início da carreira, construiu um show dos mais enérgicos e com diversos números e trata os fãs muito bem. Mas nada saiu do lugar.

Ele também fez muita coisa errada, como administrar mal a própria carreira e não saber delegar. Apesar disso, Thor continua na sua luta pela fama. O documentário mostra bem seu início no halterofilismo e como decidiu ter uma banda de rock. As tragédias são tão absurdas, que o humor acaba sendo um elemento involuntário de seu cotidiano em situações absurdas.

Há momentos tristes, principalmente quando Thor fala de seus colapsos nervosos e ao mostrar a quantidade de remédios que toma para conseguir manter exatamente o mesmo show dos anos 1970. Por incrível que possa parecer, ele mantém uma base fiel de fãs. E ainda conseguiu novos em seu retorno, maior parte do documentário – diretores acompanharam o período de uma década, entre 1997 e 2007.

Os minutos finais reservam, para Thor, a glória. Convidado para três festivais na Suécia, ele tem uma ótima recepção por parte do público e consegue, enfim o sucesso. Um desses eventos é em homenagem ao seu legado, momento em que Thor decide encerrar a carreira no auge, assim, como ele mesmo disse, como David Bowie fez com Ziggy Stardust. Questionado por não ter dito nada, ele diz: "Pensei melhor". E abre um grande sorriso. Um belo resumo de como Thor ainda vai ficar por aí por bastante tempo, contado em um documentário dos melhores dessa edição.


One More Time With Feeling (2016) 

Direção: Andrew Dominik. Duração: 112 min. Elenco: Nick Cave, Warren Ellis, Susie Cave, Arthur Cave, The Bad Seeds. Países: Reino Unido e França. 

Ver uma câmera acompanhando Nick Cave em seu processo de construção de um álbum é algo dos mais fascinante. Pelo menos para quem vê, pois, claramente, Cave não se sente nada confortável ao ter uma câmera atrás dele o tempo inteiro e alguém fazendo perguntas desconfortáveis sobre ele e suas músicas. One More Time With Feeling seria um trabalho de filmagem para descobrirmos como ele e os Bad Seeds trabalham. Mas é mais do que isso.

Durante o processo de composição e finalização das músicas, Arthur Cave, filho de Nick com a estilista e ex-modelo Susie, morre ao cair de um penhasco. Isso muda complemente a perspectiva de todos com relação ao material. Já seria um disco denso – mais um, no caso –, mas tudo muda com o rapaz de apenas 15 anos morre. Tudo ganha um tom de luto muito forte, ainda mais ao ver tudo pronto e editado já sabendo dos acontecimentos.

O processo de Nick Cave ao lado de Warren Ellis é muito intenso. Se Cave é um letrista de mão cheia, um dos melhores de sua geração, Ellis consegue traduzir isso em arranjos fenomenais. Cave rasga elogios ao amigo e parceiro, o único com quem dividiu um quarto para escrever uma canção do início ao fim. Ellis é discreto e bom para ser esse ator coadjuvante que as letras de Cave precisam para brilhar nos nossos ouvidos.

Ao longo do documentário, é impossível não ver tons premonitórios de que algo vai acontecer com alguém. Tudo fica mais fácil ao sabermos da morte de Arthur, mas acaba sendo muito tocante ver determinados raciocínios de Cave sobre vários temas – vida, morte, música, relação com a mulher. Sendo um homem fiel aos seus pensamentos, Cave não muda uma vírgula do que disse, mesmo depois de rever as filmagens após a morte de filho.

O 3D não faz diferença nenhuma das filmagens, fora um momento na parte final. Esse material conseguiu captar os momentos mais profundos de um homem, e uma família, que sofreu a perda mais terrível que alguém pode ter na vida – enterrar o próprio filho. Cave, em um momento catártico, faz um desafio ao destino e, ao lado da mulher, decide ser feliz após a tragédia. Após ver o documentário, fiquei com a certeza de que Nick Cave não é desse mundo. Ele é alguém muito especial que nos ensina com sua música e com suas tragédias pessoais.


Two Sevens Clash (Dread Meets Punk Rockers) (2017) 

Direção: Don Letts. Duração: 50 min. Elenco: The Clash, Big Youth, John Lyndon. País: Reino Unido.

O DJ Don Letts trabalhou no Roxy Club, em Londres, em meados dos anos 1970. Lá, conheceu diversos nomes da cena punk e ficou amigo da maioria deles. Com uma câmera na mão, ele começou a acompanhar e a filmar algumas apresentações. Esse material todo virou o documentário Two Sevens Clash (Dread Meets Punk Rockers), a história de como o punk e o reggae se uniram.

É inacreditável como esse material tinha ficado tanto tempo guardado porque é um momento único na história da música. Não só pelas imagens de arquivo de algumas das principais bandas punks britânicas no auge (The Clash, Sex Pistols, Siouxsie and the Banshees) como o fato de a história estar sendo contada por alguém que viu tudo de perto – Letts também é o narrador do longa.

É um documentário curto, com pouco menos de uma hora, sendo os minutos finais reservados para uma viagem à Jamaica. Além de Letts e alguns nomes do reggae, Johnny Rotten, então ex-vocalista do Sex Pistols, também foi para relaxar (sabe como é). Ele retornou à Inglaterra tão mudado, que não demorou para ele fundar o Public Image Ltd e carregar toda essa influência do reggae consigo.

A união entre punk e reggae segue forte até os dias atuais graças ao trabalho de Letts em apresentar o reggae para a geração punk. E esse documentário, ainda que curto, consegue contar esse pedaço da história.


Rumble: The Indians Who Rocked The World (2017) 

Direção: Catherine Bainbrigde e Alfonso Maiorana. Duração: 90 min. Elenco: Buffy Sainte-Marie, Martin Scorsese, Robbie Robertson, George Clinton, David Fricke, Jimi Hendrix. País: Estados Unidos.  

Mais um documentário dessa edição do In-Edit Brasil que não tinha expectativa alguma, mas saí da sessão completamente encantado. Os nativos-americanos foram desprezados por anos na história da música dos Estados Unidos. E esse longa mostra como isso foi um erro porque eles, basicamente, estão em todo lugar.

Começando por Link Wray (1929-2005), compositor da faixa instrumental "Rumble", que foi proibida das rádios por "incitar a violência entre os jovens". Veja bem, ele não precisou dizer uma palavra para ter sua música banida. O longa também passa por Jimi Hendrix (1942-1970), pela cantora de jazz Mildred Bailey (1907-1951), pelo baterista Randy Castillo (1950-2002), pelo guitarrista Jesse Ed Davis (1944-1988), entre outros.

É possível ver como os descendentes estão cansados de terem escondido durante anos suas raízes. Por exemplo, Robbie Roberston, ex-guitarrista da The Band, diz no final que ninguém vai calar a voz deles mais. Entre todos os que vi, é o documentário mais político dessa edição. A cantora Buffy Sainte-Marie, um sucesso nos anos 1970, acusa a CIA e o FBI de espioná-la e desembolsarem dinheiro para as rádios não tocarem sua música e minarem sua carreira – tudo pelo tom pesado de protesto de suas letras.

O documentário não se limita a apenas um gênero ou personagem específico ao mostrar que a influência dos nativos-americanos está em todo lugar – do rock ao rap, do blues ao jazz. Os desconhecidos, mas de papel fundamental em alguns sucessos, são homenageados com belos depoimentos de gente do nível de Martin Scorsese e Slash, para ficar em alguns. Sociólogos, biógrafos, historiadores e descendentes contam a história dos antepassados e como sua música dos nativos esteve, e está, sempre presente na história dos Estados Unidos.

É um material encantador e, ao mesmo tempo, de força política incrível para contar uma história desconhecida pela maioria. Tomara que mais gente possa assisti-lo para ver que a luta dos índios por reconhecimento na sociedade é algo muito atual e necessário. Só assim para conhecermos mais  a nossa própria origem.


Gimme Danger (2016) 

Direção: Jim Jarmusch. Duração: 108 min. Elenco: Ewan McGregor, Iggy Pop, Ron Asheton, Scott Asheton, James Williamson, Danny Fields. País: Estados Unidos. 

Os Stooges são o Velho Testamento do punk, a pedra fundamental de tudo, o Gêneses de um período único, a cobra que picou os anos 1960 e tirou essa década do paraíso para colocar a música em uma época fulminante de sexo, drogas e punk. Dirigido pelo ótimo Jim Jarmusch, Gimme Danger é melhor homenagem possível para uma banda de influência histórica na música.

Contado cronologicamente, o documentário tem na direção um de seus melhores pontos. Ao conectar histórias contadas com filmes da época, rende umas boas risadas. Outro ponto fundamental: Iggy Pop, o astro do longa, tem espaço para falar – e como fala! Ele conta tudo, desde o início em que considerava a banda comunista (moravam juntos, comiam no mesmo horário e dividiam o dinheiro igualmente) até o melancólico encerramento das atividades, e sempre pontuado por outros membros ainda vivos (ou que estavam durante a gravação) e gente que viu tudo, como Danny Fields – falei sobre o documentário dele no canal do blog no YouTube.

Nada é deixado de fora, incluindo os problemas com drogas. Nada que seja novo, mas saindo da boca de quem sofreu com isso é sempre mais interessante. As histórias dos discos e dos shows são deliciosas. Do início em espeluncas em que sofriam a fúria do público (Iggy Pop chegou a levar um soco) até o sucesso de público, já que as vendas eram muito baixas. Os Stooges pareciam estar séculos à frente dos outros, o que não deixa de ser verdade. O pouco vendido acabou influenciando umas duas dúzias de bandas formadas nos anos seguintes – de Sonic Youth a Bad Religion.

Um dos grandes momentos é quando Iggy Pop conta o momento em que precisava compor canções. Isso o levou a relembrar um programa infantil em que o apresentador pedia cartas de 25 palavras no máximo. "Eu não sou Bob Dylan... Com aquele blá, blá, blá (todo). Então, lembrei disso e pensei 'quanto menos escrever, menos me complico'". Assim nasceram os clássicos "I Wanna Be Your Dog", "Gimme Danger" e "No Fun" para ficar apenas em alguns.

Ao conseguir contar a história dos Stooges, Jarmusch também homenageia os que morreram, mas foram fundamentais nessa história. E ao contar a reunião deles no início dos anos 2000, ele aponta uma coisa das melhores: a influência deles nunca vai morrer, porque sempre existirá um garoto dando play em algum disco deles. Esse documentário deveria passar nas escolas de tão bom que é.


Breaking a Monster (2015) 

Direção: Luke Meyer. Duração: 92 min. Elenco: Malcolm Brickhouse, Jarad Dawkins, Alec Atkins, Alan Sacks. País: Estados Unidos.

Um fato inquestionável apresentado logo nos primeiros minutos de Breaking a Monster: o trio formado por Malcolm Brickhouse, Jarad Dawkins e Alec Atkins, chamado Unlocking the Truth, é muito acima da média para garotos de 13 anos. Muito mesmo. E ainda há o fato de eles serem uma banda de heavy metal nascida no Brooklyn, Nova York.

Como acontece no mundo de hoje, eles foram descobertos após um vídeo deles no YouTube viralizar e chamar a atenção. Isso foi mais do que suficiente para atrair o empresário e moldador de jovens talentos Alan Sacks. Para ficar em dois exemplos, ele trabalhou Os Jonas Brothers e Demi Lovato e os ajudou a encaminhar uma carreira milionária. Mas o trabalho com a banda não é como ter estrelas e astros pop dispostos a fazer tudo pelo sucesso. É uma banda de heavy metal formada por adolescentes. Ah, e já citei o fato de eles serem adolescentes? Então, eles são adolescentes. E adolescentes são um saco.

Há uma clara disputa entre o profissionalismo e a idade deles. Por um lado, eles querem andar de skate e zoar por aí um pouco; por outro, agora eles têm um empresário, um plano de carreira, são conhecidos e precisam andar na linha e obedecer para fazer as coisas funcionarem no tempo certo. Mas, quando se tem 13 anos, a ansiedade e vontade de fazer o que quiser são sempre inimigos quando é necessário ser adulto antes da hora. Fora que Sacks não entende a diferença entre o público pop e o do heavy metal. É como misturar água e gasolina com o Deep Purple cantando "Smoke On The Water". Isso fora as típicas mentiras do nível "música de sucesso é música boa" – sabemos que isso está muito longe da verdade.

É difícil não destacar a personalidade do guitarrista e vocalista Malcolm Brickhouse. Ele se acha uma espécie de novo Deus da guitarra, mas, por outro lado, ele tem a pureza de quem realmente quer gravar um disco e tocar para as pessoas unicamente por amar a música. Os principais atritos são entre ele e Sacks, e isso dá um tom novelesco ao documentário – a guerra entre o gênio e o empresário, um clássico.

É um longo caminho ao topo, já cantou o AC/DC. E esses garotos perceberam isso quando assinaram com a Sony por cinco anos e uma quantia estratosférica de dinheiro para uma banda sem single ou músicas o suficiente para gravar um álbum cheio. A superexposição na internet é um fator primordial para esse contrato, já que ninguém deseja perder o próximo talento para o concorrente. Essa é uma das muitas lições desse bom documentário.

A outra é que adolescentes são um saco.


Whitney: Can I Be Me (2017)

Direção: Nick Broomfield e Rudi Dolezal. Duração: 105 min. Elenco: Whitney Houston, Bobbi Kristina Brown, Bobby Brown, Robyn Crawford, Cissy Houston. Países: Reino Unido e Estados Unidos 

Se existia um documentário nessa edição do In-Edit Brasil que era minha 'menina dos olhos', era Whitney: Can I Be Me. Uma produção da parceria entre BBC e Showtime mostra duas coisas: disposição para ir atrás de uma boa história e um gordo orçamento na compra de imagens de arquivo e viagens para entrevistas. E o documentário correspondeu muito bem ao que estava esperando – estaria no vídeo acima sobre o festival, mas não deu.

Esse longa acerta no tom ao contar história da maior cantora pop entre o meio dos anos 1980 e o fim dos anos 1990. Whitney Houston (1963-2012) foi imbatível no sucesso, exposição na mídia e, no mesmo tamanho, nos problemas que enfrentou ao longo de quase 30 anos de carreira.

O surgimento dela como estrela pop foi ideia de um empresário que tinha um plano infalível para transformar uma mulher no próximo estouro. E ele conseguiu ao pegar Houston do zero e moldá-la para uma audiência branca da classe média. No estúdio, na hora da gravação do disco, nada que fosse muito R&B ou funk era gravado. Ela era uma cantora pop e precisou afastar-se de sua origem musical para subir na parada. Ela conseguiu, mas a que preço – ser vaiada no Soul Train foi um deles. É uma situação muito parecida com O.J. Simpson no auge (uma imagem "amigável" para ninguém lembrar de sua origem ou cor).

Uma coisa que fica clara pela primeira vez é o uso de drogas por parte da cantora. Ela começou a usar desde muito nova e nunca parou de forma definitiva, sempre tendo recaídas cada vez piores. Começou com maconha, terminou viciada em crack, remédios e altas doses de cocaína. O longa mostra que os problemas enfrentados pela cantora têm responsáveis diretos: a família e Bobby Brown, marido por 15 anos. A queda começou no afastamento da melhor amiga Robyn, com quem mantinha uma amizade – rumores colocaram as duas como um casal por anos – até chegar ao ponto de ela precisar trabalhar exaustivamente para sustentar a todos. Como funcionar assim? Com drogas. E a chegada de Brown trouxe um novo elemento: o álcool.

À medida que os problemas aumentavam, o vício dela também. O líder da equipe dos seguranças particulares fez um relatório completo sobre os problemas, vícios e o caminho que a cantora precisava traçar para continuar viva. Ele foi ignorado e acabou demitido no dia seguinte. Houston não podia parar.

Mas sempre houve a música, e é isso que precisamos lembrar nela. Os depoimentos batem muito nessa tecla, de que ela não era apenas uma drogada. Havia sua bela voz, seus sucessos e como ela transformou-se no símbolo feminino da música pop há quase 30 anos. Seus dois primeiros discos são campeões de vendas, e a trilha sonora do filme O Guarda Costas (1992) é um sucesso até os dias de hoje. Ela superou a barreira dos 200 milhões de discos vendidos mundialmente ainda viva, sendo a mulher que mais vendeu na música. Whitney foi um talento nato, mas acabou perdendo a batalha para os próprio demônios ao morrer aos 48 anos. O longa amarra os dois assuntos de maneira primorosa, sendo um dos melhores das edições recentes do festival.


Liberation Day (2016)

Direção: Nick Broomfield e Rudi Dolezal. Duração: 100 min. Elenco: Boris Benko, Tomaz Cubej, Milan Fras, Mary Sun Kim. Países: Letônia, Noruega e Eslovênia. 

A ditadura norte-coreana é o regime que mais faz barulho na imprensa nos últimos anos por suas corridas armamentistas e nuclear para "combater o imperialismo dos Estados Unidos e da Coreia do Sul, e os japoneses, os amigos de Hitler", segundo muitos comunicados do líder supremo Kim Jong-un. Para comemorar os 60 anos da revolução que tirou a Coreia do Sul do domínio dos japoneses, em 2015, houve uma grande festa na capital Pyongyang com uma banda internacional convidada pela primeira vez.

E não foi qualquer banda.

A banda eslovena Laibach é um dos grupos mais controverso dos Balcãs há mais de 30 anos. Formada na antiga Iugoslávia comunista e com um estilo bem militar apoiada no subgênero do rock industrial, a banda sempre desafiou os limites impostos pelo regime e, por muito pouco, não foi condenada à morte por um vídeo em que um filme pornô e a imagem do então líder Josip Tito estavam lado a lado.

Talvez não fosse o convidado ideal, mas, mesmo assim, eles aceitaram e foram ao país ver como era – com o diretor e assíduo frequentador da Coreia do Norte Morten Traavik no apoio. E é entre a chegada e o tão aguardado show que podemos ver como o regime comunista norte-coreano, se não é o mais próspero economicamente, de longe é o que mais deu certo pelo simples fato de uma lavagem cerebral ser feita constantemente na população todos os dias, 24 horas por dia.

Nenhuma decisão é tomada sozinha por ninguém em nenhum momento, tornando o processo de montagem do palco extremamente complicado pelos inexperientes locais – ninguém lidera, afinal só existe um líder no país. Ainda há o fato de tudo ser fiscalizado por uma comissão (leia-se censura) designada pelo governo, então todo trabalho no espetáculo é muito burocrático e cheio de percalços. Certo dia, extremamente irritado com toda essa lentidão, Traavik dá um basta e pede para falar com os responsáveis pessoalmente e ver se consegue mudar tudo o que eles queriam de uma vez.

Fora pequenas coisas comuns na maioria do mundo que são proibidas ou não recomendadas para turistas – andar sozinho é uma delas, pois ninguém do regime quer que a população tenha contato com alguém de fora. Há rituais diários perante as estatuas Kim Il-sung e Kim Jong-il, avô e pai do atual líder, respectivamente. Entre os perrengues, tudo dá certo e a apresentação acontece – os locais, chocados com a sonoridade, bateram palmas por pura educação.

Esse documentário não é apenas sobre música, mas uma oportunidade para o mundo conhecer um pouco mais da Coreia do Norte e o comportamento da população em meio a um dos maiores regimes ditatoriais em duração dos últimos 100 anos. É uma aula de política e como as coisas funcionam naquele pequeno país. E como o Laibach precisou abrir mão de conceitos musicais, ideias e ideais para adaptar-se ao local.

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