Livro: Manson – A Biografia, por Jeff Guinn (2014)


Biógrafo vai além da história já conhecida pelo público

O caso da Família Manson foi um dos principais eventos do século 20 nos Estados Unidos. Ao ser o mandante do assassinato da atriz Sharon Tate (1943 – 1969) e mais oito pessoas em um período de cinco semanas, Charles Manson mostrou que o Verão do Amor não era nada perto do que ele e seus seguidores estavam fazendo na Los Angeles do fim dos anos 1960, um lugar turbulento para se viver. Mais do que contar a vida de Manson até ali, o autor Jeff Guinn traz um relato abrangente daquele período em Manson – A Biografia (DarkSide, 520 págs, R$ 60 em média).

Se é de conhecimento público os assassinatos e o julgamento do caso Tate-LaBianca, o livro traz uma visão e relatos antes e além desse momento. Primeiro, ao conseguir traçar com detalhes a infância e juventude de Manson, um menino errático e sem perspectiva desde os primeiro anos de idade. Manson sempre causou problemas e passou boa parte de sua adolescência e início da idade adulta em reformatórios infantis e prisões.

Os detalhes das passagens impressionam, mostrando como uma boa apuração consegue trazer ao leitor momentos decisivos e importantes com descrições precisas de cada passo dado por Manson ao longo dos anos. A formação da Família, por exemplo, é contada desde a saída dele da prisão e a chegada em Los Angeles, em que ele viu um terreno fértil para colocar em prática suas ideias de poder ao juntar um grupo de mulheres impressionadas com o poder de retórica de um cara que aprendeu muito lendo os livros de Dale Carnegie e estudando a cientologia.


Por isso mesmo, o trabalho acaba desmistificando a posição de que Manson era louco. Ele é qualquer coisa, menos isso. Gentil, educado e bom em agradar qualquer um que fosse útil, ele era um manipulador que contou uma mentira para um grupo de pessoas – sobre o Álbum Branco, dos Beatles, trazer na canção "Helter Skelter" a mensagem do fim do mundo e ele ser a salvação de todos. Ele também consegue entrar no mundo da música, encantando gente do calibre de Dennis Wilson (1944 - 1983), baterista dos Beach Boys e irmão de Brian e Carl. A tentativa frustrada de virar um músico de sucesso é outro fator determinante na sequência dos eventos. E para não perder a confiança da Família, acabou planejando os assassinatos em massa como desculpa para uma revolta – esse seria o início do apocalipse previsto por ele mesmo.

Uma coisa que chama muito a atenção são as páginas finais. Lá, Jeff Guinn opta por explicar escolhas e o processo de apuração de determinada história. Muito mais do que um escritor determinado em contar eventos, temos uma aula de como obter informações de fontes diversas e cruzá-las para ter o cenário mais próximo possível. Certas escolhas, ele conta, são feitas muito mais nesse desenho do que nas lembranças – muitas vezes vagas – dos entrevistados.

Além dos eventos envolvendo Manson, também há detalhes do momento louco vivido por Los Angeles naquela época. O fim dos anos 1960 e início da década seguinte foi marcada por protestos de negros exigindo direitos humanos e civis, atentados de movimentos radicais em vários lugares dos Estados Unidos, o aumento do efetivo na Guerra do Vietnã e a vitória de Richard Nixon (1913 – 1994) na eleição presidencial. Tudo isso transformou o país em uma bomba relógio pronta para explodir.

A biografia de Charles Manson é um retrato de como é fácil enganar pessoas usando um discurso fácil, tudo isso em um período muito peculiar do século 20. "Ele não é um produto dos anos 1960, é um produto dos anos 1930, 1940, 1950 e 1960", escreveu Guinn. É exatamente isso. Manson foi produto de uma sociedade que estava passando pro profundas mudanças em vários aspectos. Esse livro é fundamental para compreender esse recorte da vida nos Estados Unidos.





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