Discos para história: Cabeça Dinossauro, dos Titãs (1986)


A 46ª edição do Discos para história fala do terceiro trabalho de estúdio dos Titãs. Cabeça Dinossauro foi o álbum que deu fama à banda e um dos mais importantes no período mais fértil do rock nacional nos anos 1980.

História do disco

Até 1986, quando os Titãs lançaram Cabeça Dinossauro, ainda não havia uma definição sobre a sonoridade da banda. Entre um hit e outro dos álbuns anteriores, eles ainda procuravam a sonoridade que representasse os oito membros da banda (Arnaldo Antunes, Branco Mello, Paulo Miklos, Nando Reis, Sérgio Britto, Marcelo Fromer, Tony Bellotto e Charles Gavin). E existia uma pressão extra para eles: era o último ano de contrato com a gravadora WEA, e com várias bandas nacionais estavam nas paradas e com músicas na boca dos jovens, os Titãs precisavam de um disco com boas vendagens para seguir entre os mais ouvidos.

Quem se mostrou fundamental na gravação do disco foi o já conceituado produtor Liminha. Craque no que faz, ele, que havia sofrido duras críticas do grupo anos antes por massificar o som de alguns grupos contemporâneos, chegou e arrumou algumas soluções para problemas nas gravações de algumas faixas. Se o álbum é o que é, boa parte do trabalho deve ser creditada a ele, que não mexeu na sonoridade ou no estilo.

As gravações para o terceiro disco da banda corriam bem, mas aconteceu um problema grave: Arnaldo Antunes e Tony Belloto foram presos por porte de drogas – sempre lembrando: o Brasil estava recém-saído de uma ditadura de mais de duas décadas e o governo Sarney ainda estava tentando acertar os rumos do país em seu primeiro ano completo na presidência.


Mas o momento que o Brasil vivia quase impediu o sucesso do disco. Como ainda havia certo receio em tocar algumas faixas, parte do trabalho foi censurado, mas os shows lotados e o antimarketing acabaram chamando a atenção do púbico. E as TVs e rádios foram cedendo e até chegaram a pagar para tocar as canções proibidas. A resposta do público para Cabeça Dinossauro foi enorme, e o álbum virou o principal ponto de referência para falar sobre os Titãs – não é incomum falar da banda antes e depois dele.

As faixas e letras pesadas deram outra conotação a eles; se antes eles eram colocados como filhos da new wave, Cabeça... fez com que eles fossem reconhecidos também como filhos do punk rock e netos de outros ritmos que também apareceram pela primeira vez na banda. Das 13 faixas, 11 tocaram nas rádios entre 1986 e 1987, colocando a banda como representante paulista do melhor momento da história do rock nacional. Quase 30 anos depois, é um dos discos essenciais para compreender um período memorável da música brasileira.



Resenha de Cabeça Dinossauro

Branco Mello começa a faixa-título com tudo, parecendo um grito raivoso contra alguém ou alguma coisa. A percussão não passa de um improviso de Liminha no estúdio, algo que funcionou muito bem para dar um tom selvagem à canção, um dos grandes sucessos da longa história do grupo, além do cerimonial de uma tribo indígena que habitava o Xingu.

“AA UU” é a primeira das canções mais fortes do trabalho que mostram como é possível uma banda com oito integrantes soar coesa. E o solo de guitarra de Tony Belloto é seu principal momento nos Titãs. Ainda na base do punk, “Igreja” é um protesto contra a igreja e sua organização, e Nando Reis canta versos anárquico-revoltosos de maneira exemplar.



Inspirada na prisão de Arnaldo Antunes e Belloto, “Polícia” é um grito anárquico contra a forma como as pessoas da lei se comportam – e até hoje essa canção é muito usada em programas de TV quando acontecem agressões em protestos/manifestações. Saindo completamente do punk, “Estado Violência” é algo mais próximo da new wave e do tipo de som que caracterizou o início da trajetória deles.

Um punk completamente descontrolado, “A Face do Destruidor” dura 38 segundos, suficiente para fazer o público pular cheio de energia, enquanto “Porrada” diminui um pouco o ritmo, mas é outra canção de protesto em um Brasil que viva o caos de uma democracia recém-feita. O final do lado A tem “Tô Cansado”, outro levante contra o momento em que a banda explora bem seu lado mais leve – lembra um reggae.



O lado B abre com outro hit: “Bichos Escrotos” tem uma linha de baixo sensacional ditando todo ritmo, e Paulo Miklos não economiza na voz na canção que estava no repertório desde 1982, mas que só foi gravada quando a ditadura acabou. O reggae volta em "Família", que ficou muito popular na releitura para o Acústico MTV.

Composta originalmente para fazer parte do repertório de Lulu Santos, “Homem Primata” também é outra faixa popular quase 30 anos depois de seu lançamento. É outra crítica ao sistema vigente e, por que não, aos costumes da chamada “selva de pedra” – Belloto manda muito bem com sua guitarra. Outra que também bate no chamado sistema é “Dívida”, que também flerta com reggae. Mudando o jogo completamente, a eletrônica “O Quê?” encerra o disco de uma maneira pouco esperada: com bateria eletrônica dominando a jam que durou duas sessões até encerrar as gravações do álbum.

Os Titãs são o que são por causa de Cabeça Dinossauro. É um disco muito representativo não só para eles, mas para uma geração de pessoas. Também é um trabalho que é possível ver, pela primeira vez na discografia da banda, os rumos que eles tomariam na carreira ao questionar certas coisas. Mais para frente, eles e os fãs sentiriam falta de um trabalho semelhante.



Veja também:
Discos para história: Ideologia, de Cazuza (1988)
Discos para história: Eliminator, do ZZ Top (1983)
Discos para história: Tommy, do Who (1969)
Discos para história: Born In The U.S.A., de Bruce Springsteen (1984)
Discos para história: The Rolling Stones, dos Rolling Stones (1964)
Discos para história: The Unforgettable Fire, do U2 (1984)

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