Resenha: Anoushka Shankar – Land Of Gold


Canções do disco foram inspiradas na crise dos refugiados

Falar qualquer coisa sobre Anoushka Shankar sem citar Ravi Shankar, mestre de citara e amigo de George Harrison, é muito difícil. Porque foi dele que ela aprendeu a tocar sitar, um famoso instrumento de corda indiano, e a também virar uma mestra conceituada no assunto. Diferente da meia-irmã Norah Jones, famosa na música pop, Anoushka seguiu os passos e seguiu carreira na música tradicional indiana, acrescentando um toque pessoal e moderno ao gênero. Land Of Gold é seu oitavo disco de estúdio, baseado e inspirado pelo fluxo migratório para Europa nos últimos meses.

Como era de se esperar, "Boat to Nowhere" é toda instrumental e inteiramente baseada em Anoushka Shankar tocando sitar – isso pode resumir bem a música tradicional indiana dos últimos 200 ou 300 anos, assim como em "Secret Heart". A mistura entre o tradicional e o novo fica evidente em "Jump In (Cross the Line)", com participação da ótima rapper M.I.A. Por esse tipo de coisa é que a popularidade de Anoushka aumentou nos últimos anos, a ousadia de não ficar restrita ao tradicional ajuda muito a sair da mesmice – musicalmente falando.

A delicadeza instrumental de "Dissolving Boundaries" tem um quê de sofrimento e de angústia, isso graças ao início no piano. Quando o sitar entra, ainda existe algo ruim pairando, e isso é reafirmado quando entre a gravação de algum noticiário falando da crise dos refugiados. O sonho de uma vida melhor aparece na dramática "Land of Gold" – a participação da cantora turco-alemã Alev Lenz, carregada de significado, ajuda a mostrar como os imigrantes veem a Europa como um lugar para recomeçar, porém que nunca será chamado efetivamente de lar.

O ar é ainda mais carregado de drama quando começa "Last Chance". Impossível não se lembrar de refugiados pagando US$ 1 mil para sair da Síria sem garantia alguma de chegar ao destino desejado. Além do dinheiro, precisam contar com a sorte (ou furar o barco e serem resgatados em águas internacionais). Para complementar a anterior, "Remain the Sea" tem a bela narração da atriz Vanessa Redgrave, que surge para contar os problemas e dramas da travessia até a Grécia.

"Crossing the Rubicon" é uma expressão que significa ‘ponto sem retorno’, exatamente o que os refugiados estão fazendo: ao sair das regiões em guerra, poucos voltarão. E a canção conseguiu colocar bem essa decepção de precisar ir embora misturada com força de vontade de encontrar um lugar para fincar novas raízes. "Say Your Prayers" é a melhor do álbum e, coincidentemente, é a de maior teor religioso. Um acerto imenso sem falar nenhuma palavra, apenas na música instrumental.

"Reunion" dá o toque final ao representar o fim da jornada para aqueles que passaram por todo sofrimento de abandonar o lar, ir em mar aberto em busca do desconhecido e chegar ao destino, muitas vezes encontrando parentes e amigos que foram primeiro – o trabalho encerra na versão instrumental de "Land of Gold". Uma história linear, mostrada todos os dias no jornal, ganha uma bela versão instrumental tocada por Anoushka Shankar em seu sitar. Um disco necessário a todos.

Tracklist:

1 - "Boat to Nowhere"
2 - "Secret Heart"
3 - "Jump In (Cross the Line)" (feat. M.I.A.)
4 - "Dissolving Boundaries"
5 - "Land of Gold" (feat. Alev Lenz)
6 - "Last Chance"
7 - "Remain the Sea" (feat. Vanessa Redgrave)
8 - "Crossing the Rubicon"
9 - "Say Your Prayers"
10 - "Reunion"
11 - "Land of Gold" (Instrumental)

Nota: 4,5/5



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