Discos para história: Metallica (Black Album), do Metallica (1991)


A edição número 51 da seção mais acessada do blog retoma o ritmo normal depois do final da Copa do Mundo. Depois de apenas álbuns brasileiros, voltamos a falar de trabalhos lançados fora. E o retorno não poderia ser melhor com a história do maior sucesso da carreira do Metallica, o Álbum Preto.

História do disco

O Metallica, como boa parte dos músicos que surgiram nos anos 1980, foi visto como uma banda ultrapassada no início da década seguinte com ascensão do que ficou conhecido como grunge (Pearl Jam, Nirvana, Soundgarden) e de outras bandas que apareceram pelo caminho (Faith No More, Red Hot Chili Peppers, Stone Temple Pilots).

Depois do sucesso de Master of Puppets veio o duvidoso ... And Justice For All, disco lançado pouco tempo depois da morte do baixista e um quase tutor musical do grupo Cliff Burton. E ainda existia o fato de vocalista e guitarrista James Hetfield e o baterista Lars Ulrich precisarem lidar com vários problemas pessoais, como o alcoolismo do primeiro, e a gestão do grupo e o fato do então novo baixista, Jason Newsted, não agradar no dia-a-dia.

E também existia o fato de Ulrich querer ver o Metallica no topo do mundo, tomando decisões que não iriam agradar, mas o futuro mostraria que ele estava certo – lembrando sempre: ele errou muito e admite isso. Para o primeiro disco em três anos, um novo produtor deveria ser contratado, mas quem? O nome que agradava a Q Prime, gestora da carreira deles, era o de Bob Rock, que havia trabalhado com Aerosmith e no sucesso do Mötley Crüe, o disco Dr. Feelgood.


Obviamente, Hetfield detestou a ideia de trabalhar com ele pelo simples fato de não gostar de mudanças profundas no som do Metallica – ele acreditava que a banda não deveria abrir mão do que fez no passado. Porém, Ulrich acreditava que Rock poderia dar melhor polimento às gravações, algo que nunca havia acontecido nos discos anteriores produzidos por Flamming Rasmussen. Uma reunião entre o trio, famosa na história do rock, acertou as pontas para o trabalho começar logo.

Se hoje existe o lema futebolístico “aqui é trabalho, meu filho”, essa frase era aplicada em todos os trabalhos de Bob Rock. Multi-instrumentista de mão cheia, ele estava disposto a polir o som e fazer Hetfield, Kirk Hammett, Ulrich e Newsted trabalharem mais do que nunca no que viria a ser Metallica. Apesar de o produtor não querer sair de Vancouver, ele mudou de ideia ao ouvir as demos caseiras produzidas por Hetfield e Ulrich.

As gravações começaram em outubro de 1990, mas os primeiros problemas apareceram na hora de a bateria trabalhar: Lars não sabia tocar. E, ao que parece, descobriu quase dez anos depois de iniciar a carreira, e, por sugestão do produtor, se trancou em uma sala no estúdio para praticar mais e ganhar velocidade nas viradas (um baterista vira na hora certa, não em cada verso, disse o poeta). James também foi ‘cornetado’ por Rock, que deu dicas com relação às letras, extensão dos versos e de como usar melhor as palavras nas melodias. Claro que isso não foi engolido de primeira, mas até que a coisa andou bem.

Pela primeira vez, existiam músicas lentas e românticas no trabalho, mas, toda vez que Rock queria colocar uma novidade o Sr. Não (Hetfield) dizia... não. Isso foi sendo negociado, explicado e colocado para eles quando tocavam juntos. E surpreendeu o fato de que todos estavam em alto nível durante as gravações, colaborando ainda mais para o bom andamento e pela excelente qualidade do material gravado.

Ao custo de mais de US$ 1 milhão, Metallica é considerado o melhor disco do Metallica e o mais difícil de ser produzir, de acordo com Bob Rock. Mais enxuto do que os anteriores, no tempo, na capa e nos créditos, o chamado Álbum Preto é considerado por muitos o melhor disco de heavy metal de todos os tempos; outros falam que as canções do disco não são metal e reclamam das baladas; um terceiro grupo só gosta desse disco e repudia o passado da banda. Mas existe um fato que une todos: o Metallica deu o salto que faltava para chegar ao mainstream e nunca mais sair.



Resenha de Metallica (Álbum Preto)

Mais de duas décadas depois de seu lançamento e sucesso, "Enter Sandman" pode ser considerado um clássico dos anos 1990? A resposta é sim. A introdução marcante é a chave da faixa pelo simples fato de quem qualquer um pode “cantá-la” sem problemas. Quem está brilhante na canção é Kirk Hammett, responsável por um dos riffs mais marcantes da música recente.

Segunda canção do disco, mas último single a ser lançado, “Sad but True” segue o mesmo estilo da anterior: um longo momento instrumental até a voz de Hetfield entrar. O que, de cara, fica claro é a evolução da banda com relação aos trabalhos anteriores. Saiu o Metallica mais intuitivo, entrou o Metallica metódico. E até que as aulas de bateria para Lars funcionaram em "Holier Than Thou", canção veloz em que ele dá conta de não ficar virando que nem um maluco – destaque para Jason Newsted tocando baixo muito bem.



A primeira balada da história do Metallica é "The Unforgiven", que começa com apenas um violão até que muda para uma canção forte com um refrão ainda mais forte (What I've felt/ What I've known/ Never shined through in what I've shown/ Never free/ Never me/ So I dub the unforgiven). Estruturalmente, é a melhor música deles em mais de 30 anos de carreira. Em "Wherever I May Roam" temos uma clara influência da música indiana ao ouvir uma cítara na abertura, mas isso acaba logo no momento seguinte quando as influências do passado retornam com guitarras pesadas e uma bateria muito forte.

Inspirada na Guerra da Revolução nos Estados Unidos, "Don't Tread on Me”, escrita por Hetfield, mostra um pouco da característica dele em gostar desse tipo de história e, segundo ele, é uma antítese ao americanismo de ...And Justice for All. Por ser simples, ela acaba fazendo uma referência ao que a banda fazia no início da carreira, com a diferença de que Hammet manda um solo matador e a canção é visivelmente melhor produzida.



Enquanto "Through the Never" é aquele em que o Metallica bota para quebrar e dá o melhor de si por pouco mais de quatro minutos, "Nothing Else Matters" é uma balada escrita por Hetfield logo depois de terminar um namoro. Ela é suave e carregada de sinceridade, por isso mesmo não é difícil se identificar com ela. Além disso, ela parece ter sido feita sobmedida para agradar e angariar um novo público para a banda. E conseguiu.

Quarta e última faixa em que Hammet aparece nos créditos, "Of Wolf and Man" conta com uma guitarra matadora, realmente. E isso faz toda diferença – prestem atenção no riff e no andamento da canção. Usando os mesmos artifícios melódicos anteriores, "The God That Failed" tem uma letra muito forte por tocar em um assunto delicado: religião. O refrão I see faith in your eyes/ Never you hear the discouraging lies/ I hear faith in your cries/ Broken is the promise, betrayal/ The healing hand held back by the deepened nail/ Follow the god that failed condensa bem a ideia de um Hetfield questionador quanto ao que aconteceu com ele no passado.



De longe, a pior de todas do Álbum Preto é "My Friend of Misery", que soa como um cover do Metallica do início da carreira feito pelo Metallica que gravou o disco. É longa, fraca e descartável. Já "The Struggle Within" é rápida e rasteira, e coloca ponto final do disco.

Metallica era a peça que faltava na engrenagem do sucesso montada por Lars Ulrich. Um disco que tocasse no coração das pessoas sem deixar de ter as principais características da banda; um disco que mostrasse a evolução deles sem deixar o volume baixo; um disco que teria a cara do novo e velho Metallica. Um disco que vendesse milhões de cópias. Se isso não é bom, não sei o que é.

Tracklist:

1 - "Enter Sandman" (James Hetfield/ Lars Ulrich/ Kirk Hammett)
2 - "Sad but True" (Hetfield/Ulrich)
3 - "Holier Than Thou" (Hetfield,/Ulrich)
4 - "The Unforgiven" (Hetfield/ Ulrich/ Hammett)
5 - "Wherever I May Roam" (Hetfield/ Ulrich)
6 - "Don't Tread on Me" (Hetfield/ Ulrich)
7 - "Through the Never" (Hetfield/ Ulrich/ Hammett)
8 - "Nothing Else Matters" (Hetfield/ Ulrich)
9 - "Of Wolf and Man" (Hetfield/ Ulrich/ Hammett)
10 - "The God That Failed" (Hetfield/ Ulrich)
11 - "My Friend of Misery" (Hetfield/ Ulrich/ Jason Newsted)
12 - "The Struggle Within" (Hetfield/ Ulrich)

Ficha Técnica

Gravadora: Elektra
Produção: Bob Rock, James Hetfield e Lars Ulrich
Tempo: 62min31s

James Hetfield: vocal, guitarra, violão e cítara
Kirk Hammett: guitarra
Lars Ulrich: bateria e percussão
Jason Newsted: baixo e vocais de apoio

Convidados

Michael Kamen: orquestra em "Nothing Else Matters"



Veja também:
Discos para história: O Concreto Já Rachou, da Plebe Rude (1985)
Discos para história: Rita Lee (Lança Perfume), de Rita Lee (1980)
Discos para história: As Aventuras da Blitz, da Blitz (1982)
Discos para história: O Passo do Lui, dos Paralamas do Sucesso (1984)
Discos para história: Cabeça Dinossauro, dos Titãs (1986)
Discos para história: Ideologia, de Cazuza (1988)

Me siga no Twitter e no Facebook e assine o canal no YouTube. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

Saiba como ajudar o blog a continuar existindo

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!