Low-Life, 35: o disco que transformou o New Order em... New Order


Por Javier Freitas*

O som da Joy Division eventualmente se transformaria no som do New Order se Ian Curtis estivesse vivo. É o que dizem os membros do New Order desde os anos 1980. Os experimentos com teclados e baterias eletrônicas já estavam presentes em singles como "Love Will Tear Us Apart" e no álbum "Closer", ambos de 1980.

Entre 1982 e 1983, o New Order lançou os singles "Temptation" e "Blue Monday", o que preparou o terreno para "Power, Corruption & Lies", em que foi dado o primeiro grande passo no distanciamento entre New Order e Joy Division. No entanto, foi só em 1985 que esse processo se deu de forma definitiva, com o lançamento de "Low-Life". Sim, aquele disco com o baterista na capa.

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Por mais dançantes que "Blue Monday" e "5-8-6" fossem, foi só em "Low-Life" que o New Order finalmente abraçou o pop e se transformou para as pistas de dança. É claro que o disco ainda tem momentos em que o post-punk guiado pelas linhas melódicas do baixo de Peter Hook e a bateria alucinada de Stephen Morris sejam a força condutora, como em "Sunrise" e na faixa que abre os trabalhos, "Love Vigilantes".

Contudo, foi em "Low-Life" que o New Order atingiu o máximo, pelo menos até então, de seu potencial no que diz respeito sobre como explorar toda a sonoridade que as "máquinas de fazer música" poderiam produzir. A versão original de "The Perfect Kiss" não deixa qualquer dúvida sobre isso.

Com quase dez minutos de duração, os sons produzidos para que a faixa pudesse ver a luz do dia estavam tão à frente de seu tempo que a música, mesmo sendo uma das preferidas dos fãs, passou anos sendo ignorada nos shows. Não porque eles não quisessem tocá-la, mas porque os membros não encontravam os equipamentos necessários para reproduzir a faixa com todos os seus detalhes – e isso só foi acontecer em 2006.

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Por mais que "Low-Life" ainda seja um trabalho de curtíssima duração, afinal o disco tem apenas oito faixas e mal passa dos 40 minutos, ainda é possível dividir as faixas em pequenos grupos e tratar o álbum como algo conceitual. "This Time of Night", "Sooner Than You Think" e "Sub-Culture" são peças fundamentais para entender a obra do New Order e a dinâmica do som nessa fase mais pop e experimental. Por mais que o baixo de Peter Hook ainda seja um fator determinante e característico, os sintetizadores e as batidas são o mais puro suco da década de 1980, pavimentando o caminho para o que viesse depois, desde Pet Shop Boys, passando pelo The Killers e chegando aos sons mais recentes lançados por Noel Gallagher.

Se nos anos seguintes o New Order pulou de um lado para o outro entre o synthpop e o post-punk com "Brotherhood" (1986) e mergulhou de cabeça no acid-house em "Technique" (1989), isso só foi possível porque "Low-Life" cimentou o New Order como a banda experimental e influente que conhecemos hoje.



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*Javier Freitas é ex-companheiro de blog no ESPN FC e segue mostrando suas beleza peculiar no Twitter.

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