Festival: In-Edit Brasil 2019


Ontem (13), começou oficialmente a 11ª edição do In-Edit Brasil e, como sempre, vamos tentar ver o maior número de longas possíveis em dez dias.

Clique aqui para mais informações sobre o festival e aqui para ver como foi a cobertura do blog em 2018.


"30 Anos de Anonimato" (2019)

Direção: Felipe David Rodriguesi. Duração: 100 min. Elenco: Leonardo Garcia, Maurício Garcia, Eduardo Garcia, Rogério Nery, Tom leão. País: Brasil.

Imaginem só uma banda que está há 30 anos na luta, tocando em tudo quanto é buraco só pela diversão. Quer dizer, no fim, virou só pela diversão. Mas, claro, houve uma tentativa de sucesso. A Grande Trepada é uma banda brasileira que segue sua vida sem mídia, mas com uma base de fãs bem empenhada e um amor pela música que leva o grupo sem deixar o otimismo baixar.

No embalo do sucesso de muitas bandas nos anos 1980, A Grande Trepada é uma banda de estilo psychobilly -- um rockbilly psicodélico -- com inspiração em filmes de terror e o lado mais B do cinema. Formada por dois irmãos e um primo, começou a tocar no circuito underground e não saiu mais de lá. Uns culpam o nome, outros a falta de mídia.

O documentário usa de depoimentos de todos os músicos que passaram pelo grupo em algum momento e da família com imagens de filmes famosos e muitas das inspirações para as letras. Imagens de shows velhos e atuais vão complementando os depoimentos. É um formato que poderia não dar certo com outros biografados, mas funciona aqui por ser a cara deles.

O longa também acaba sendo uma celebração da cena underground do Rio de Janeiro e do Brasil, local em que muita gente toca apenas por diversão e tem outros empregos para sobreviver. No fim, é uma celebração à história de um gênero e de pessoas que, ainda que não famosas, foram importantes para muita gente.



"Els Ulls S'aturen de Créixer" (2018)

Direção: Javier García Lerín. Duração: 85 min. Elenco: Miquel Serra, Joan Serra, Pep Toni Ferrer, Michael Mesquida, Aina Rodgers. País: Espanha.

Vencedor da edição original do In-Edit em 2018, "Els Ulls S'aturen de Créixer" é um documentário profundamente musical e triste. Miquel Serra abriu o coração e sua criatividade artística em um relato tocante e profundo de como as mudanças que enfrentou na vida o fizeram virar a pessoa que é hoje.

A edição segue o ritmo das músicas de Serra: algo experimental cheio de sentimento em que ele consegue transmitir a mensagem ao público de um jeito muito próprio. Aliado com imagens de arquivo bem caseiras, podemos conhecer um pouco de Miquel e a relação com o irmão, Joan. Ambos amantes da música que começaram muito cedo em um momento da vida em que borbulhavam criatividade.

A vida foi dura com os dois, mas eles ficaram mais unidos do que nunca para superara as adversidades. Quando Joan fica doente, o longa ganha um tom mais melancólico e bonito, artisticamente falando. Tudo é feito com muito cuidado e com um simbolismo enorme. Até quem não conhece a história vai ficar tocado com ela.

"Els Ulls S'aturen de Créixer" é sobre a vida e como superar os problemas está dentro desse contexto que é viver. Não dá para saber se Miquel Serra os superou, porém dá para afirmar que ele não é mais a mesma pessoa de antes. E quem ganhou foi a música.


"Canções em Pequim" (2018)

Direção: Milena de Moura Barba. Duração: 80 min. Elenco: Li Youhua, Ji Shengwu, Pan Yuzhen, Weng Yilan, Liu Zaifu. Países: Brasil e China.

De todos os documentários da 11ª edição do festival, provavelmente "Canções em Pequim é o mais surpreendente de todos. Inspirada no longa "Canções", de Eduardo Coutinho, a documentarista homenageou o diretor ao selecionar 14 pessoas para contar suas respectivas histórias sobre músicas marcantes de suas vidas.

Um dos pontos mais chamativos dessa versão chinesa de "Canções" é o formato extremamente simples. É a documentarista, uma câmera e a pessoa de peito aberto para contar sua história. É quase uma sessão de terapia em que a diretora apenas ouve e faz perguntas pontuais, enquanto os atores praticamente não precisam ser incentivados a falar e cantar. Tudo flui naturalmente em pouco mais de uma hora.

O elenco é formado por pessoas de várias idades, entre crianças e idosos. Cada qual com sua história mostra como a China avançou muito desde A Grande Fome até os dias atuais em que músicas em inglês entram com menos dificuldade no país. São desabafos profundos sobre as próprias vidas e o impacto da música nesse processo de evolução.

Acaba sendo um documentário muito tocante por mostrar uma China que o mundo não conhece. Apesar de ser um país fechado em muitos aspectos, ainda tem gente morando lá. E as pessoas têm sentimentos, independente de onde moram. Esse longa mostra como a música é um elemento transformador na sociedade -- em qualquer uma.


"Dorival Caymmi: Um Homem de Afetos" (2019)

Direção: Daniela Broitman. Duração: 90 min. Elenco: Dorival Caymmi, Dori Caymmi, Danilo Caymmi, Nana Caymmi, Caetano Veloso, Gilberto Gil. País: Brasil.

É muito difícil fazer um documentário sobre o amor, porque é um sentimento que pode brotar de várias formas. Em "Dorival Caymmi: Um Homem de Afetos", a diretora acerta ao usar Dorival Caymmi e sua família para mostrar um desses caminhos.

Broitman acerta ao usar poucos entrevistados no documentário porque tanto mantém o foco da narrativa, quanto não embaralha a cabeça de quem está vendo. Em poucos minutos dá para saber quem é quem na tela, então o elemento principal não se perde em depoimentos repetitivos ou em poucas contribuições em um formato simples e bem didático.

Dorival Caymmi aparece em imagens inéditas contando sua própria história e como conquistou multidões de fãs ao longo da carreira. Claro, a história também aborda o lado mulherengo dele e como Stella, a mulher, precisou lidar com tudo isso ao longo de mais de 60 anos de casamento. Aliás, ela é uma presença tão forte no longa que aparece apenas uma vez, já no final. As histórias da família Caymmi são ótimas, principalmente quando é possível perceber a relação com os filhos. Danilo era o mais chegado, enquanto Dori tinha uma admiração profissional incrível. Com Nana era mais duro, mais difícil. Mas, no fim, é família e é assim mesmo.

Caprichado e uma bela homenagem a um dos grandes contribuidores do sucesso da música brasileira -- e baiana -- pelo mundo, o documentário é uma peça de muito bom gosto e feito para descobrir -- ou redescobrir -- a genialidade de um homem simples.


"Memórias do Grupo Opinião" (2019)

Direção: Paulo Thiago. Duração: 72 min. Elenco: Ferreira Goulart, Carlos Lyra, Carlos Heitor Cony, Luis Carlos Sá, Antônio Pitanga. País: Brasil.

O Grupo Opinião foi um dos grandes movimentos de resistência à ditadura brasileira. Com muita coragem, um grupo de intelectuais, atores, escritores, cantores, músicos e artistas plásticos uniu forças para fazer um teatro de protesto e lutar por liberdade.

"Memórias do Grupo Opinião" traz muitas imagens de arquivo aliadas com depoimentos preciosos de quem participou mais ou menos ativamente do que acontecia no grupo. Em pouco mais de uma hora, é possível entender a construção intelectual dessas pessoas díspares em várias opiniões políticas, mas que deixaram isso para trás quando a união contra algo em comum falou mais forte naquele momento.

Aliado com muita música entre os depoimentos, é possível conhecer um pouco mais de como essas pessoas viram valor em Cartola, Zé Keti e João do Vale; em como Nara Leão viu um mundo até então desconhecido para ela, uma garota da Zona Sul com tudo de bom e do melhor; em como Maria Bethânia chegou para ocupar o lugar da companheira de profissão e deu a "Carcará" a interpretação definitiva; entre outros momentos importantes.

É o tipo de documentário fundamental para entender um recorte de uma época e como a arte também é política, contestadora e serve para unir as pessoas. O Grupo Opinião original durou até meados dos anos 1970, mas suficiente para marcar sua história em um dos momentos mais duros vividos pelos brasileiros na história.


"We Need Songwriters" (2019)

Direção: Alexandre Petillo. Duração: 105 min. Elenco: Francis Black, John Carter Cash, Hank Williams III, Morgan Freeman, Lonnie Smith. País: Brasil.

A música é algo muito sentimental para as pessoas, de maneira geral. Gostar de uma música é, geralmente, querer saber tudo sobre o artista em questão, o disco e tudo que envolve o trabalho até chegar ao ápice. "We Need Songwriters" é uma road trip em que três amigos passam por lugares históricos da música dos Estados Unidos em busca de desse sentimento.

Nashville, Memphis, Clarksdale e Nova Orleans foram os lugares escolhidos. Cada qual com seu ar mítico, essas cidades respiram música e ficaram conhecidas justamente por seus artistas e lendas mais notáveis. Nashville é a casa de Jack White, Memphis virou sinônimo de Elvis Presley, Clarksdale é o berço do blues e Nova Orleans tem um bar tocando música em cada esquina.

O documentário tem um formato bem simples, quase uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. As viagens e entrevistas nos lugares abertos nem sempre contam com o melhor áudio ou as melhores imagens, já que tudo está tremido ou muito baixo. Nos lugares fechados o longa se dá melhor quando fala com nomes do tamanho de Francis Black (o líder do Pixies), John Carter Cash (filho de Johnny Cash e June Carter), Hank Williams III (neto da lenda Hank Williams) e outros personagens igualmente importantes nessa jornada que mistura autodescobrimento com nostalgia e uma pitada de coragem.

Não é um longa de difícil acesso ou linguagem, e vai agradar os fãs de música. Em tempos em que valorizamos muito o celular e as redes sociais, humanizar personagens, contar a história de cidades e enaltecer o trabalho de quem vive e faz música é algo e tanto. Um pouco mais de capricho e poderia ser uma boa série ao invés de um documentário.


"Guriatã" (2018)

Direção: Renata Amaral. Duração: 86 min. Elenco: Humberto de Maracanã, Mestre Apolônio, Pai Euclides Talabyan, Alcione. País: Brasil.

O Brasil é um país imenso, tanto em tamanho quanto em cultura. Uma das grandes tradições do Maranhão é o Bumba Meu Boi, uma dança do folclore popular brasileiro que gira em torno de uma lenda sobre a morte e ressurreição de um boi. Um dos grandes cantadores dessa tradição foi o mestre Humberto de Maracanã (1939-2015).

O documentário "Guriatã" gira em torno da história de Humberto Barbosa Mendes, que esteve à frente do Batalhão de Ouro do Bumba Meu Boi de Maracanã por mais de 40 anos. Podemos conhecer um pouco de sua vida simples e empenho para fazer desse grupo um dos maiores de São Luiz. Tudo vem com depoimentos de amigos e imagens de arquivo do próprio Humberto.

O lado mistico dele e das cantigas do boi também é abordado, com depoimentos mostrando todo repeito por essa tradição brasileira de anos, assim como o gosto de Humberto pelo samba -- isso é apontado nos minutos finais do longa.

É um longa de estrutura simples e funciona para contar a história dessa lenda da música tradicional brasileira, algo que faz falta mais gente conhecer. O legado dele merece ser exaltado pelas gerações futuras, pois é de suma importância para comunidade local. Os filhos são cantadores e mantém a tradição do pai na liderança do Batalhão.



"Rumo" (2018)

Direção: Flavio Federico e Mariana Pamplona. Duração: 77 min. Elenco: Grupo Rumo. País: Brasil.

O Rumo foi formado na Escola de Comunicação e Artes (ECA) em São Paulo. Bem artístico e baseado mais nas letras do que em harmonias, o grupo conseguiu atrair fãs fiéis, mas nunca conseguiu chegar no rádio ao longo de quase 20 anos de atividade.

O diretores Flavio Federico e Mariana Pamplona optaram por um formato simples, com entrevistas com os integrantes mescladas com números musicais. Quem melhor para contar a história do grupo do que eles mesmos, certo? Só que há um toque diferente nisso tudo: os entrevistados começam como uma ilustração incompleta. À media em que o longa avança, eles vão ganhando cor até ficar em live action.

É o tipo de documentário que ajudará muito as gerações futuras interessadas no trabalho do Rumo, assim como quem precisar pesquisar sobre a cena underground da música de São Paulo saída das universidades e dos teatros. Há um pouco de tristeza aqui e ali por não tocar no rádio, mas, agora, parece que isso passou.

Curto e bem direto, o longa conseguiu condensar 45 anos de história em pouco mais de uma hora. Ponto para edição. O Rumo chegou a anunciar o fim, mas voltou e, em 2019, lançou o primeiro disco de inéditas em quase 30 anos. Se sempre foi um grupo inquieto, eles não iriam parar agora.


"Suede: The Insatiable Ones" (2018)

Direção: Mike Christie. Duração: 115 min. Elenco: Brett Anderson, Bernard Butler, Neil Codiling. País: Reino Unido.

O Suede foi uma das bandas que abriu caminho para o que ficou conhecido como britpop -- aliás, o termo surgiu por conta do sucesso deles no início dos anos 1990. "Suede: The Insatiable Ones" passa a limpo vida e obra de um dos grupos mais importantes da história recente da música do Reino Unido e como eles deram a volta por cima ao retornar recentemente a carreira.

Usando um formato simples para um documentário, com entrevistas recentes e imagens de arquivo, a história do Suede é contada de modo a envolver fãs e não fãs na história do grupo. É difícil ficar indiferente ao fato de, por exemplo, ninguém querer assinar com eles quando havia algo especial ali. Ou quando Brett Anderson se deixou levar pela fama e ficou viciado em drogas a ponto de mal conseguir gravar um álbum.

O ponto desse longa é mostrar como a história do britpop começou muito antes de Oasis e Blur dominarem as paradas. Suede e seus contemporâneos estão começando a receber o devido crédito por ter começado essa história, por ter cantado as agonias e alegrias de garotos dos subúrbios britânicos nos anos 1990. O Suede conseguiu aliar o melhor dos mundos quando uniu boas letras com uma parte harmônica de dar inveja.

Claro que a banda passou por momentos de baixa e o documentário aborda o assunto de maneira muito natural. Mas, como tudo na vida passa, o Suede sobreviveu e retornou para contar sua bonita história ao mundo.



"Meu Amigo Fela" (2018)

Direção: Joel Zito Araújo. Duração: 94 min. Elenco: Fela Kuti, Carlos Moore, Sandra Izsadore. País: Brasil.

Um imigrante cubano que chegou aos Estados Unidos sem nada e passa a ser uma espécie de assessor de Malcolm X (1925-1965). Após a morte do líder revolucionário, acaba também ficando amigo do nigeriano Fela Kuti (1938-1997). Ninguém melhor do que Carlos Moore para entrevistar parentes, amigos e pessoas fundamentais entender quem foi esse músico.

É um documentário que passa pela história da luta dos afro-americanos pelos direitos civis e como Kuti acabou entrando nessa luta política. Ele, como muitos africanos, desconheciam a história do próprio povo. Isso foi fruto do colonialismo severo que visava apagar toda e qualquer tipo de memória e tradição de qualquer país colonizado -- isso vem mudando com as nova gerações. Quando Kuti despertou, virou um dos símbolos dessa luta por liberdade ao denunciar as atrocidades da ditadura local.

"Meu Amigo Fela" não é muito bom só por isso, mas por mostrar o lado ruim do músico. Ele acabou se tornando inflexível e influenciado, mudando sua postura para um lado mais bélico e paranoico. Tudo é mostrado e apontado com certa tristeza pelos amigos, que sofreram e acabaram abandonando o músico em algum momento.

Feito por um brasileiro, o documentário tem estrutura simples e tem em Carlos a figura central para desvendar a lenda e o homem que foi Fela Kuti. O longa acaba homenageando a todos que contribuíram na luta pelos direitos civis ao longo dos últimos 50 anos, incluindo a vereadora Marielle Franco (1979-2018)



"Clementina" (2018)

Direção: Ana Riper. Duração: 75 min. Elenco: Clementina de Jesus, Hermínio Bello de Carvalho, Ney Lopes, Nelson Sargento, Alcione. País: Brasil.

As novas gerações têm descoberto o trabalho de importantes intérpretes da música brasileira. Recentemente, quem está sendo redescoberta com livros e documentários é Clementina de Jesus (1901-1987). Cantora de sambas e de músicas tradicionais, ela só fez sucesso depois dos 60 anos -- até então, trabalhava como lavadeira.

A direção de Ana Riper imerge o público a conhecer primeiro as origens da cantora. O lugar de nascimento dela foi ocupado por escravos durante muito tempo, então era um lugar de uma cultura de raiz africana muito forte. Com a tradição oral sendo passada de geração em geração, Clementina herdou tudo isso. E, claro, com sua bela voz e capacidade de improviso, virou uma grande intérprete dessa tradição.

As imagens de arquivo ajudam a entender quem foi Clementina na música e na vida pessoal. Enxuto, o documentário não perde tempo em nada e consegue explicar bem os grandes momentos dela no palco e fora dele. É uma bela homenagem a quem dedicou sua vida ao samba e ainda faz parte dele, de uma forma ou de outra.


"Guitar Days - An Unlikely Story of Brazilian Music" (2018)

Direção: Caio Augusto Braga. Duração: 85 min. Elenco: Kid Vinil, Carlos Eduardo Miranda, Thurston Moore, Fabio Massari, Mark Gardener. País: Brasil.

Toda cena musical tem uma história para ser contada, seja famosa ou não. "Guitar Days - An Unlikely Story of Brazilian Music" fala sobre as bandas alternativas no Brasil que cantavam em inglês, um boom que aconteceu logo depois da explosão do chamado rock brasileiro -- ou BRock.

Tem muita coisa para ser contada, como o fato de essas bandas viverem uma espécie de isolamento musical por parte das pessoas e de parte da crítica. Cantavam em inglês, então já eram desprezadas logo de cara por não ter a melhor pronúncia da língua. Depois, viram o cenário mudar quando elementos brasileiros foram inseridos no rock nacional quando a coisa estava andando para eles. Enfim, foi difícil.

A boa edição explora muito imagens de arquivos, depoimentos de membros das principais bandas, convidados especiais e especialistas. É uma estrutura simples e direta, de fácil acesso para quem está dentro e fora esse universo. Há um quê de mágoa por não ter feito sucesso por parte de alguns, outros estão mais em paz com a própria história -- acaba sendo o resumo perfeito do longa.

Os tempos atuais são mostrados com algumas dessas bandas voltando e fazendo coisas. No fim, eles gostam mesmo de música e do ambiente, então ganhar dinheiro com isso é um mero detalhe. Mas se der, melhor.



"Ryuichi Sakamoto: Coda" (2017)

Direção: Stephen Nomira Schible. Duração: 100 min. Elenco: Ryuichi Sakamoto, Yukihiro Takahashi, Haruomi Hosono. Países: Japão e Estados Unidos.

O músico japonês Ryuichi Sakamoto é um dos grandes compositores de trilhas sonoras dos últimos 40 anos. Vencedor do Oscar, ele segue implacável na busca por sons e por fazer exatamente aquilo que acredita nos âmbitos pessoal e musical. Nem um câncer na garganta foi capaz de pará-lo enquanto contava sua história em "Coda".

O ótimo documentário segue o compositor por mais ou menos três anos. Durante esse processo, ele descobre sua doença que o faz parar um pouco as atividades e refletir sobre sua vida e obra. Quer dizer, ele deveria ter parado, mas não resistiu ao convite de Alejandro González Iñárritu para fazer a trilha de "O Regresso" (clique aqui e ouça o trabalho na íntegra).

Ao longo de quase duas horas, temos um panorama geral do homem e de sua própria obra, como ele fez parte da new wave japonesa na Yellow Magic Orchestra, como entrou no cinema para atuar e virou compositor de trilhas, e como ele usa sua fama para lutar por aquilo em que acredita -- seja ser contra a Guerra no Iraque, seja mostrar como o aquecimento global vai destruir a Terra em breve.

Mas é a música que chama mais a atenção, no fim das contas. Por exemplo, um dia, Ryuichi Sakamoto deseja captar o barulho da chuva. Ele tenta primeiro com um pote de vidro e não consegue, depois pega um balde. Para ter certeza que está dando certo, ele coloca o balde na cabeça. Se isso não é ter amor pelo som, não sei o que é.



"Future Language: The Dimensions of Von Lmo" (2018)

Direção: Lori Felker. Duração: 90 min. Elenco: Von Lmo, Otto von Ruggins, Steve Cohen, Peter Crowley, Lori Felker. País: Estados Unidos.

Qual o limite entre o documentarista e seu objeto de estudo? "Future Language: The Dimensions of Von Lmo" mostra como isso pode ser uma completa loucura quando uma fã assumida resolve usar seus conhecimentos da faculdade de cinema para falar sobre seu ídolo. Só que Von Lmo não é uma pessoa nada comum, então o documentário também não é nada comum.

Um dos grandes nomes da No wave americana, Von Lmo é desses caras que tem uma linguagem e personalidade muito próprias, sendo difícil de tê-lo como figura central de um longo projeto. Ele acredita ser de outro planeta e, quando desapareceu por dez anos, contou que foi abduzido para sua terra natal. Isso para ficar em um âmbito mais razoável. Von Lmo também dá três versões diferentes de uma mesma história. Como confiar em alguém assim?

Foi com bastante jeito, paciência e força de vontade que a diretora Lori Felker, que passou rapidamente para personagem do próprio trabalho, conseguiu construir a história desse personagem fascinante -- e doido de pedra, maluco, um perigo para ele mesmo e para sociedade. Do sucesso a morar na rua passando por três anos na cadeia, Von Lmo passou por poucas e boas -- muitas vezes por culpa dele mesmo e a personalidade paranoica e cheia de teorias.

É o tipo de documentário que qualquer inciante na área deveria assistir, já que a diretora também explora muito os bastidores do longa e também para ver o limite entre documentarista e personagem, uma linha sempre muito tênue mostrada sem amarras nesse bom longa.

Siga o blog no Twitter e no Facebook e assine o canal no YouTube. Compre livros na Amazon e fortaleça o trabalho do blog!

Saiba como ajudar o blog a continuar existindo

Gostou do post? Compartilhe nas redes sociais e indique o blog aos amigos!

Continue no blog: