Documentário: What Happened, Miss Simone?, de Liz Garbus (2015)


Documentário sobre a cantora está no Netflix e concorre ao Oscar neste ano

What Happened, Miss Simone? conta a história de uma das maiores cantoras e pianistas de jazz e blues da história da música: a incrível Nina Simone (1933 – 2003). Dirigido por Liz Garbus, o longa conseguiu condensar uma incrível história de vida em pouco menos de duas horas – do talento precoce até os últimos anos de carreira.

Utilizando uma linha linear dos acontecimentos, conhecemos a vida de Eunice Kathleen Waymon desde o início, quando o talento no piano e o sonho de ser a primeira negra a tocar no Carnegie Hall era a principal meta enquanto aprendia a tocar música clássica. Mas as coisas não acontecem da maneira como queremos, e Nina Simone precisou trabalhar em um bar para pagar as contas quando foi recusada em uma escola de música, momento em que adotou o nome artístico para que a mãe não soubesse que tocava na noite. Também teve que começar a cantar ou seria demitida. Mal sabia que esses dois momentos mudariam sua vida.

Daí em diante, ela virou uma estrela. A coisa só aumentou de tamanho quando conheceu e se casou com Andrew Stroud, ex-investigador da polícia, ele começou a gerenciar a carreira dela como um verdadeiro profissional. O documentário usa bem entrevistas, imagens de arquivo e notas dos diários da cantora para mostrar o que ela fazia e suas opiniões sobre a carreira. Depoimentos de amigos ajudam a amarrar a história e a trazer visões de fora dos acontecimentos, inclusive das surras que levava do marido quase constantemente.


Quando ela se envolve na luta pelos Direitos Civis, incluindo ficar amiga dos principais nomes do movimento – Martin Luther King Jr., Malcolm X, entre outros nomes. A partir disso, sua vida artística começa a entrar em queda livre. Cada vez mais compondo canções de teor político, a carreira desanda pela falta de shows e de sucessos, porque as rádios se recusavam a tocar músicas compostas exaltando a luta e os “irmãos que estavam nas ruas” – é possível até traçar um paralelo com o que aconteceu com Wilson Simonal no Brasil quase no mesmo período no sentido de como ela foi ignorada durante parte de sua carreira. Nina Simone começa a ficar cada vez mais radical politicamente, chegando a falar em pegar em armas “pela revolução”. Nesse momento, ela começa a sofrer os primeiros sintomas da bipolaridade e do vício em sexo, atrelados à estafa emocional de trabalhar sem descanso durante muito tempo. Os diários e participações ratificam essa posição dela e a desilusão com os Estados Unidos.

Com um pedaço muito extenso sobre os primeiros anos da carreira, sobra pouco tempo para contar dos anos na Libéria – desiludida com a morte de muitos amigos e temendo a própria vida, ela foi embora de sua terra natal para nunca mais voltar –, momento em que ela abandonou a carreira para fazer o que bem entendesse. Sem tocar e sem dinheiro, os problemas emocionais, transferidos em uma raiva excessiva, a transformam em um monstro para quem estivesse ao redor. O depoimento de Lisa, filha de Nina Simone, mostra como a cantora era afetada pelos problemas.

A parte final do documentário mostra como a ajuda dos amigos foi fundamental para uma retomada na carreira na Europa, quando chegou a tocar por uma miséria em um bar na França quando pouco tinha para comer e morava em um prédio imundo. O brilho nos olhos de quem fala sobre o assunto mostra que ela fez a escolha certa ao fazer o tratamento e agarrar com todas as forças essa segunda chance que conseguiu, caminhando bem carreira até sua morte, em 2003.

What Happened, Miss Simone? é bem simples e didático para contar uma história complexa que envolve alguns dos grandes momentos da história dos Estados Unidos – na música ou nos Direitos Civis. Por sorte, Nina Simone foi reverenciada em vida como a grande cantora e ativista que foi em um período muito difícil para fazer isso. O brilhantismo do longa está na forma simples, na edição e nos depoimentos, de mostrar como conhecer a história dessa cantora é fundamental para conhecer aspectos e idiossincrasias da industria musical e da vida.



Uma boa alma fez uma playlist com as músicas que tocam no documentário. Está logo abaixo:


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