Documentário: Amy, de Asif Kapadia (2015)


Amy Winehouse teve sua vida desnudada pela imprensa sensacionalista no curto período em que viveu seu auge na música. 'Amy' conta um pouco dessa história, mas também conseguiu trazer um pouco de antes, da vida da cantora antes da fama e como a falta de uma boa estrutura familiar e os excessos mataram uma das vozes mais marcantes da música no século 21

O diretor Asif Kapadia usou uma narrativa linear para contar a história. Estruturalmente, parece um livro com muitas imagens de arquivo – nesse aspecto, o longa tem uma riqueza absurda de imagens de Amy e das pessoas que conviveram com ela. É tudo bem contado ao colocar o espectador como uma figura que necessita prestar atenção no início e no meio para entender o final conhecido por todos. A falta do pai e uma mãe que não deram a devida atenção são os primeiros problemas com os quais Amy cresceu.

Como ser uma cantora de jazz estava fora de moda no início dos anos 2000, o documentário mostra parte do processo de amadurecimento dela como vocalista no palco e ao gravar Frank, o primeiro disco, já com as letras autobiográficas dominando completamente suas composições. Ela virou a revelação da música britânica em pouco tempo.

Kapadia concentra certo esforço em tentar mostrar duas coisas importantes: primeiro, a mudança para Camden, bairro boêmio de Londres onde as coisas aconteciam para as bandas indies dos bairros de classe trabalhadora; segundo, o momento em que Blake Fielder-Civil, ex-marido, entra na história. Esses dois fatos mudaram a vida de Amy, momento em que ela começou a beber em excesso e a bulimia aumentou consideravelmente.


Blake é tratado como um sanguessuga que está com Amy apenas pelo dinheiro e pela farra. E ao terminar com ela, acabou sendo o principal motivador para o sucesso de Back to Black, escrito inteiramente como desabafo. “Rehab” fez dela uma cantora respeitada na indústria, cheia de prêmios, fama e capa de revista. Desse momento em diante, a vida de excessos de álcool e drogas e as perseguições da imprensa a transformaram em uma celebridade que tinha sua vida fotografada e filmada quase 24 horas por dia em todos os dias da semana.

Figura controversa ao longo das mais de duas horas de longa, Mitch Winehouse é retratado como um cara que se aproveita da filha o máximo que pode e a suga constantemente, a obrigando a fazer shows e a nunca a remarcar turnês. Como no documentário Senna em que Jean-Marie Balestre e Alain Prost eram os vilões, Mitch e Blake são usados dessa forma na história por Kapadia – também diretor do longa sobre o piloto brasileiro, – levando Amy até ao limite físico e psicológico, cada vez mais abusando de drogas, cada vez mais sendo seguida e cada vez mais sendo tratada como aquela bêbada que fez sucesso. O tom de ‘a morte dela era inevitável’ soa cada vez mais forte nos 40 minutos finais, e as pessoas ao redor dela pareciam saber cada vez mais disso.

Amy tem várias críticas embutidas. Desde a forma como a imprensa sensacionalista trabalha, como a indústria musical é sedenta pelo próximo sucesso e como a fama pode ser algo muito cruel para quem só quer cantar. No fim, Tony Bennett diz que Amy Winehouse deve ser comparada às grandes cantoras de jazz do mundo. Se ele diz isso, quem somos nós para discordarmos?



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