Entrevista: Joel Stones




A segunda parte da entrevista (aqui para ler a primeira) com o Fumaça Preta é com o brasileiro Joel Stones, atualmente morando em Nova York, e responsável pelos vocais e letras da banda.

Você ficou conhecido por desbravar a psicodelia brasileira no disco Brazilian Guitar Fuzz Bananas (BGFB). O que você trouxe dele para o Fumaça Preta? 

Fiquei pesquisando cinco anos as músicas e os artistas do Brazilian Guitar Fuzz Bananas antes de o disco ser lançado. Foi um processo muito demorado e complicado, mas isso tudo abriu muito minha cabeça sobre música, sobre como fazer musica. Me apeguei muito aos artistas, pois as músicas deles sempre tinham uma história e tal, e também as ideias que vinham nas cabeças deles, como fazer aquelas ideias virarem músicas. 70% das musicas do Fumaça Preta vieram do meu caderno de poesia que eu escrevia quando morava no Brasil, cada poesia tinha uma história e aí algumas eu adaptei para gravar o disco e essa convivência com os artistas do Brazilian Guitar Fuzz Bananas me ajudou muito a desmembrar tudo isso.

As letras são viajantes e poéticas. Você se baseou em outros álbuns lisérgicos para criá-las?

Bom, o meu gosto pela música é um pouco de tudo, tudo que eu achar que é bom. Claro que qualquer música que tiver um som lisérgico e, que não siga um padrão, eu vou me simpatizar, mas a verdade - depois que eu descobri que o som lisérgico -, está também em músicas que você nem imaginaria, aí a coisa fica interessante, pois hoje eu consigo ouvir alguma coisa psicodélica vindo do forró, por exemplo... Daqueles discos de batucada... Olha que incrível?! É fácil pegar um disco psicodélico e ouvir varias paradas malucas, agora quando você ouve um som meio estranho num disco de música roots regional, aí é que está o ponto. E são nesses discos que agora estou prestando um pouquinho mais de atenção.

O meu toca-discos e bem eclético, toca Conjunto Baluartes, em seguida Tac Poum System, depois toca um Dora Pinto - que é um disco de percussão formado só por mulheres -, logo em seguida toca um Pacific Sound... Dessa mistura que eu gosto, e isso ajudou muito na criação do som do Fumaça Preta, é como se nós tivéssemos pintado os meus poemas... Com bastante tinta acrílica que se enxerga no escuro!

Caderno de poesia de Joel Stones

Percebi que a sua voz fica entre Erkin Koray e Tom Zé. Quais as suas grandes influências ao cantar?

Influências? Tem sim. Tem certas partes do disco que me inspirei em certas coisas que ouvi e ficaram grudadas na minha cabeça, mas se não te falar exatamente o que é você talvez jamais vai saber... Nem a banda sabe (risos). Simplesmente são coisas que vem na hora e você recicla. A ideia era misturar tudo que eu tinha em mente... Da maneira mais ácida possível!

Cantar em português foi a ideia original da banda?

Mesmo a banda composta por dois ingleses e um meio venezuelano e meio português, escrevi todas as letras e sempre foi a ideia original. Para que explicar se podemos nos confundir?!


E a língua portuguesa serviu para expandir esse lado exótico da musicalidade do Fumaça Preta?

É uma faca de dois gumes: ao mesmo tempo em que é bem fácil, de repente uma palavra boba, tola, não encaixa de jeito nenhum, a voz não consegue chegar nela. Isso é muito interessante e, ao mesmo tempo, muito prazeroso quando o resultado final é razoável, se é que eu posso dizer isso!

De vendedor de discos a DJ, o seu papel no mundo é divulgar a cultura que o Brasil esqueceu. Como você enxerga isso?

Sabe que eu nunca tinha pensado nisso pra valer? A cultura brasileira é tão rica e interessante que, quando eu morava no Brasil, achava que conhecia a cultura do meu país. Até ir embora e descobrir que não sabia muito da minha própria cultura, então a música foi a maneira mais fácil de ir atrás do tempo perdido.


A Tropicália in Furs foi criada praticamente do zero em Nova York. Após esses anos todos, você acredita que discos de vinil são muito mais do que um agrupamento de canções?

Eu poderia responder essa pergunta em duas páginas e não te responderia direito, pois é tanta coisa que teria para falar sobre o vinil e a cultura que isso traz. Da curiosidade até as aventuras e as viagens que isso lhe proporciona ao ir buscá-lo. Se não fosse pelo vinil, não teria me interessado pela música brasileira como o fiz, não teria aberto a Tropicália in Furs, não teria feito a compilação BGFB, o Fumaça Preta não existiria e não estaria dando essa entrevista agora. O vinil faz você redescobrir a cultura!

Assista ao trailer do documentário sobre o Brazilian Guitar Fuzz Bananas.

Exclusive Brazilian Guitar Fuzz Bananas The Movie Promo from Artur Ratton on Vimeo.

Clique aqui para ler a entrevista com Alex Figueira, outro membro do Fumaça Preta.

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