Resenha: Ratos de Porão – Século Sinistro


Muita coisa muda em oito anos, desde você mesmo, seus amigos e sua banda favorita. Nesse meio tempo, o Brasil não chegou a nenhuma final de Copa, tivemos dois Papas e Barack Obama foi eleito presidente dos Estados Unidos, para ficar em exemplos mais próximos. E o Ratos de Porão gravou seu último disco de inéditas, jejum quebrado com Século Sinistro, lançado em junho deste ano – exatamente um ano depois dos protestos que mobilizaram o boa parte da população.

A proposta da banda é ir mais pelo lado do metal do que do punk, e isso fica claro em "Conflito Violento", primeira faixa. A letra fala exatamente dos últimos problemas que o Brasil vem passando no último e reflete com fúria e peso todos os acontecimentos nos protestos – desde as balas de borracha até “jornalista levando pau”.

A segunda faixa, "Neocanibalismo", é quase indecifrável – João Gordo grita bastante. Mas, para o público da banda, funcionará muito bem, ainda mais com o riff que lembra muito alguns momentos do Slayer. Mantendo o volume bem alto, "Grande Bosta" é bem mediana no geral, mas tem uma melodia aproveitável.

Enquanto "Sangue e Bunda" segue a mesma tocada das duas últimas canções, com uma pegada mais revoltada, a faixa-título é ainda mais veloz, absurdamente veloz, diga-se. Por isso não me surpreenderei se algum moleque se apaixonar por ela (consequentemente, ficando surdo). E parece que a velocidade será o mote da segunda parte do disco, porque "Jornada para o Inferno" não perde nada para outras.

O nível cai drasticamente em "Prenúncio de Treta", faixa que não acrescenta em nada. À medida que Século Sinistro avança, a mistura entre punk e metal fica ainda mais claro – se há força, o tempo das canções vai diminuindo na mesma proporção em que a velocidade e raiva aumentam. As faixas também emendam umas nas outras, como em "Viciado Digital", praticamente a continuação da anterior.

Quem curtir os programas de José Luis Datena e Marcelo Rezende, essa pessoa vai adorar "Boiada pra Bandido", exatamente o mesmo discurso dos dois apresentadores propagam diariamente. Sem verso, nem refrão, "Progreria of Power" é uma boa pancada, mas "Puta, Viagra e Corrupção" e "Pra fazer Pobre Chorar" são músicas para adolescente revoltado.

Século Sinistro mostra que o Ratos de Porão pretende ir mais pelo lado do metal do que pelo punk, mostrando que a nova formação chegou com tudo. O trabalho é bom em linhas gerais, mas desagrada em alguns momentos. Talvez um adolescente possa gostar e se identificar, mas a missão de atingir outro público será bem difícil. Como essa não é a intenção, então a banda fez bem seu trabalho.

Tracklist:

1 - "Conflito Violento"
2 - "Neocanibalismo"
3 - "Grande Bosta"
4 - "Sangue e Bunda"
5 - "Século Sinistro"
6 - "Jornada para o Inferno"
7 - "Prenúncio de Treta"
8 - "Stress Pós-Traumático"
9 - "Viciado Digital"
10 - "Boiada pra Bandido"
11 - "Progreria of Power"
12 - "Puta, Viagra e Corrupção"
13 - "Pra fazer Pobre Chorar"

Nota: 3/5



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