Discos para história: Band on the Run, de Paul McCartney & Wings (1973)


A nova edição do Discos para história conta como foi feito e produzido o quarto disco de estúdio da carreira solo de Paul McCartney pós-Beatles. Quatro anos depois do fim da banda, o baixista e compositor de “Yesterday” ainda buscava o sucesso sem seus três ex-companheiros.

História do disco

Graças ao sucesso do single “Live and Let Die”, canção que foi impulsionada por estar na trilha sonora de 007 – Viva e Deixe Morrer, a carreira de Paul McCartney ganhou novo fôlego depois de viver momentos de irregularidade pós-Beatles. Por isso, a gravadora EMI e o pessoal da Apple cederam ao desejo do compositor e procuraram um lugar diferente para ele trabalhar no próximo álbum.

Após o final da turnê com Linda e os Wings, Paul decidiu escolher Lagos, na Nigéria, como local para iniciar o que viria a ser Band on the Run. O cenário político no país, que vivia sob um duro regime militar, acabou servindo de inspiração para composição de algumas das faixas que entrariam no LP. Mas McCartney enfrentaria alguns problemas antes mesmo das sessões começarem.

Pouco antes da viagem o guitarrista Henry McCullough e o Denny Seiwell deixaram os Wings, desfalcando a banda que já não era das maiores. Como resultado disso, apenas Paul, Linda, o pianista Denny Laine e o engenheiro de som Geoff Emerick, que trabalhou com os Beatles por muitos anos, seguiram para Nigéria. Nos créditos, apenas o casal McCartney e Laine são creditados como músicos principais– o ex-beatle tocou guitarra, baixo, bateria, percussão, piano e teclado nas gravações.


O período deles fora da zona de conforto foi bem difícil. Primeiro Paul e Linda foram assaltados e acabaram perdendo algumas anotações; depois McCartney acabou sofrendo uma espécie de colapso, que foi diagnosticado como um problema nos brônquios em decorrência de anos fumando; grande nome do Afrobeat e ativista político, Fela Kuti acusou o ex-beatle de querer colocar elementos da música africana em seu novo LP sem dar o devido crédito, o que gerou um convite do ex-baterista do Cream Ginger Baker para que os quatro convidados terminassem o trabalho em seu estúdio particular. O convite foi recusado em uma primeira tentativa, mas eles acabaram gravando uma canção lá.

Eles ficaram fora da Inglaterra entre 29 de agosto e 23 de setembro, tempo suficiente para começar e finalizar boa parte das gravações. Duas semanas depois da chegada dos quatro, o material foi levado ao estúdio particular de George Martin, ex-produtor dos Beatles, para finalização e pós-produção. Mesmo sem estar na tracklist oficial, “Helen Wheels” foi o primeiro single de Paul McCartney & Wings depois de “Live and Let Die”. Lançado no final de outubro, ele chegou rapidamente ao top-10, gerando a insistência da Apple e da EMI para que ela fosse incluída no disco na versão para o Reino Unido – isso aconteceu em 1993, quando o álbum foi relançado. Nos Estados Unidos a faixa foi colocada como hidden track e não era mencionada no encarte.

Fotografada por Clive Arrowsmith, a capa conta com Paul, Linda, Denny, Michael Parkinson (jornalista), Kenny Lynch (ator), James Coburn (ator), Clement Freud (neto de Sigmund Freud), Christopher Lee (ator) e John Conteh (lutador e futuro campeão mundial dos pesos-pesados).

Band on the Run tranformou-se no maior sucesso de Paul McCartney fora dos Beatles muito rapidamente, sendo a canção título a que conseguiu chegar ao topo das paradas. Ele ganhou um Grammy de Melhor Performance Pop graças a isso, e até hoje várias das canções estão incluídas nas turnês que ele vem fazendo nos últimos anos.



Resenha de Band on the Run

Música de maior sucesso do álbum, “Band on the Run” abre os trabalhos de maneira magistral. É dividida entre três partes, não necessariamente unidas – entre acústico e elétrico –, e ela foi inspirada no sufoco de Paul e Linda McCartney na Nigéria. Está entre as melhores faixas já escritas por McCartney fora dos Beatles.

Para quem já teve a oportunidade de assistir uma apresentação do ex-Beatle ao vivo, “Jet” funciona absurdamente bem, ainda mais nos tempos atuais em que é possível criar toda uma atmosfera durante a execução. Ela foi gravada em Londres, pouco depois do retorno da trupe que foi para Nigéria, e tem como base um sintetizador Moog, o que havia de melhor em termos de tecnologia à época.



Outra canção linda que está no álbum é a acústica “Bluebird”, que conta com belo solo de saxofone tocado por Howie Casey entre o meio e o final – ele também faz esse mesmo trabalho em "Mrs Vandebilt", outra faixa que também mistura violão, guitarra e muitos coros e overdubs. A incrível sequência de canções do lado A termina com "Let Me Roll It", e Paul foi muito criticado pelo eco que usou em sua voz. As alegações era que ele copiara o estilo de gravação desenvolvido por John Lennon em John Lennon Plastic Ono Band. Copiado ou não, é outra excelente música.

A segunda parte do LP da versão britânica começa com "Mamunia", nome do hotel em que McCartney ficou hospedado durante sua estada no Marrocos durante suas férias. Mamunia significa porto seguro, e Paul faz um jogo de palavras durante a execução da faixa mais pop, dando a entender que ele encontrou seu renascimento e sua paz interior. Mais curta de todo disco, “No Words” traz uma boa mistura de instrumentos, como guitarra e um conjunto de violinos. É a que mais se aproxima de algo que os Beatles fariam entre a fase Rubber Soul e Let it Be.



A história de "Picasso's Last Words (Drink to Me)" é muito boa: McCartney foi desafiado por Dustin Hoffman a fazer uma canção com as últimas palavras de Pablo Picasso antes de morrer ("Drink to me, drink to my health. You know I can't drink anymore”). Ela conta com a participação de Ginger Baker na percussão, e foi a única gravada no estúdio do baterista na Nigéria. Finalizando o álbum, "Nineteen Hundred and Eighty-Five" fala sobre amor e é muito poderosa graças ao piano, e é um belo final – é possível ouvir o início de "Band on the Run" ao final, dando a entender que é possível ouvir o disco em looping eterno.

Depois de Band on the Run, Paul McCartney ganharia o reconhecimento que tanta buscava e viria a se tornar o beatle com a melhor carreira solo – tendo em vista a “aposentadoria” de John Lennon por cinco anos, o abandono dos palcos por parte de George Harrison e Ringo Starr, que nunca conseguiu grandes voos mesmo fazendo bons discos. Não é de graça que McCartney lota estádios pelo mundo. 



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