Discos para história: With the Beatles, dos Beatles (1963)


A 22ª edição do Discos para história conta como foi produzido e resenha o segundo disco de estúdio dos Beatles. With the Beatles chegaria para marcar definitivamente o território do quarteto de Liverpool nas paradas.

História do disco

Há 50 anos era muito comum uma banda ou cantor lançarem muitos discos e singles no mesmo ano. A desculpa era que, por conta da enorme concorrência e da rotatividade das paradas, marcar posição e manter-se na rádio era fundamental para o sucesso. Consequentemente, havia uma procura maior por shows, e isso mantinha o sucesso e o dinheiro de todos em ordem. Não foi diferente com os Beatles.

Please Please Me havia sido um sucesso de público, principalmente entre as garotas, e contribuiu para o surgiento da ‘beatlemania’ – termo cunhado por um jornalista para falar da popularidade da banda no início da carreira. Entre julho e outubro de 1963, entre idas e vindas ao estúdio, eles contaram novamente com a ajuda de George Martin na produção do que viria a ser With the Beatles, segundo trabalho de estúdio.


Já com uma agenda de shows a dar inveja a qualquer veterano, John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr não tinham muito tempo para sentar e trabalhar com calma novas composições, por isso a banda, com apoio da gravadora, optou por completar o número de 13 músicas do LP com covers (sendo oito autorais). E foi ali que eles puderam mostrar ao mundo a influência que o blues americano teve na formação deles como músicos.

É interessante analisar que, graças aos Beatles e aos Rolling Stones, o blues dos anos 1950 acabou sendo reciclado de alguma forma para as gerações que achavam que Chuck Berry e outros grandes músicos faziam eram “coisa de gente velha”. With the Beatles também é um marco importante por ter a primeira composição solo de Harrison, chamada “Don’t Bother Me”, inspirada no dia que em que ele estava muito doente e não queria ser incomodado por ninguém.

Se a primeira vez da banda em estúdio foi bem comum, o segundo álbum foi muito melhor trabalhado. Ao ver o potencial de venda dos Beatles, a Parlophone disponibilizou o que havia de melhor em questão de material e pessoal aos rapazes para que nada desse de errado nas gravações. Lançado no dia 22 de novembro de 1963, o LP voou direto para o primeiro lugar, substituindo Please Please Me – dono da primeira posição há 30 semanas. With the Beatles manteve-se no lugar mais alto por 21 semanas, e a banda totalizou 51 semanas no topo das paradas. Em 1965, dois anos depois do lançamento oficial, o LP chegara a um milhão de discos vendidos no Reino Unido. O primeiro trabalho a alcançar tal marca foi a trilha sonora de Ao Sul do Pacífico, filme de 1958.

O LP foi importante na carreira da banda por ter gerado interesse dos críticos musicais em desvendar o sucesso dos Beatles. Graças a isso, o público ganhava analises profundas, dando ainda mais motivos para tê-los em casa. Mas ainda faltava uma coisa: a conquista dos Estados Unidos.



Resenha de With the Beatles

Uma brincadeira entre as palavras "be long" e "belong”, “It Won't Be Long” é a canção de abertura do disco, e ela tem tudo que os Beatles tinham na primeira fase da banda: muitos “yeah”, um refrão muito fácil e era de curta duração. Segundo John Lennon, foi ela que ampliou o público da banda, pois soava diferente das outras na melodia. Primeira creditada apenas a Lennon, “All I've Got to Do” fala de um cara muito mal-humorado que liga para uma garota. Aqui, a bateria firme e bem compassada de Ringo Starr conduz toda a melodia.

A terceira faixa é um dos clássicos da banda: “All My Loving”, de Paul McCartney, vinha da inspiração de “P.S. I Love You”, do primeiro trabalho. Ela nasceu como um western, gênero de música muito popular na região central dos Estados Unidos, mas ganhou uma guitarra diferente por sugestão de George Harrison. E o guitarrista ganharia sua chance de liderar os vocais em “Don’t Bother Me”, de sua própria autoria. Como não tinha nenhum parceiro de composição – Ringo era medíocre neste aspecto –, o pequeno George teve que aprender sozinho o exercício de compor letra e melodia, e ele mostrou isso ao estruturar muito bem a canção.



“Little Child” nasceu para ser cantada por Starr em sua cota de uma faixa por trabalho, mas acabou ficando dividida por Lennon/McCartney. Ela é bem acelerada e aproxima-se do rock, mas, como disse Paul, foi feita para completar as 13 do disco. Primeiro dos seis covers, “Till There Was You” é de 1957, e foi feita para o musical The Music Man. Não era estranha, porque os Beatles a apresentavam durante os shows.

Creditada a Georgia Dobbins, William Garrett, Freddie Gorman, Brian Holland e Robert Bateman, “Please Mr. Postman” foi apresentada pela primeira vez ao publico pelas Marvelettes em 1961, chegando ao primeiro lugar das paradas. Era outra canção que integrava o setlist da banda nas apresentações, por isso não houve dificuldade para gravá-la.



Um clássico do rock mundial, "Roll Over Beethoven" é de Chuck Berry, grande guitarrista e ídolo dos Beatles, e Harrison teve a chance de cantá-la em With the Beatles abrindo o lado B. Seguindo, “Hold Me Tight”, apenas de Paul, é de 1961 e uma versão dessa música foi gravada para entrar em Please Please Me, mas foi considerada de baixa qualidade por George Martin e o tape foi destruído. Como não havia tempo hábil para fazer canções novas, ela acabou entrando no segundo disco.

De Smokey Robinson, "You've Really Got a Hold on Me" foi top-10 nas paradas em 1962. A versão dos Beatles foi a primeira faixa que a banda não conseguiu concluir usando um take único, sendo necessário juntar partes dos takes sete, 10 e 11 para deixá-la da melhor maneira possível. Já “I Wanna Be Your Man”, de John e Paul, foi gravada por Ringo e não tem muito segredo. Ela foi a primeira de algumas colaborações entre Beatles e Rolling Stones, sendo que a banda de Mick Jagger a lançou no dia 1º de novembro de 1963, 21 dias antes de With the Beatles entrar em comercialização.



Última com Harrison nos vocais, “Devil in Her Heart”, de Ricky Dee, foi gravada pela primeira vez pelos Donays e essa versão nunca fez grande sucesso nos Estados Unidos ou na Inglaterra. Aqui temos o coro triplo de vozes e um riff muito marcante de guitarra no início. “Not a Second Time” é uma tentativa dos Beatles em gravar algo no estilo romântico menos rock, por isso o piano de George Martin aparece bastante ao longo da melodia leve. Finalizando o disco, “Money (That's What I Want)” foi ouvida pela primeira vez quando o grupo, ainda com o baterista Pete Best, foi até a EMI fazer uma entrevista, e eles ficaram tão malucos que incluíram a faixa nos shows.

A simplicidade das letras e do trabalho como um todo eram fatores que apaixonavam qualquer garota. A inocência e o estilo também foram determinantes para o sucesso – isso tudo aliado com a falta de um grande nome nas paradas britânicas em 1963. E With the Beatles soa como uma homenagem aos ídolos da velha guarda e a algumas das boas músicas do biênio 1962-1963. A invasão aos Estados Unidos era apenas o início da dominação mundial.



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