A 16ª edição do Discos para história fala sobre o primeiro disco de Raul Seixas. Com grandes músicas, Krig-ha, Bandolo! mostrou ao Brasil a parceria entre o cantor e Paulo Coelho, rendendo boas músicas que ainda fazem sucesso 40 anos depois.
História do disco
O baiano Raul Seixas sonhava em ter sua própria banda, porém sempre esbarrava em alguma coisa – seja na falta de interesse dos outros, seja nos problemas comuns da vida em que nada dá certo. Depois de uma decepção forte na carreira, ele retornou a Salvador depois de uma temporada no Rio de Janeiro, mas, como conhecido de Jerry Adriani, ele conseguiu um emprego como produtor na gravadora CBS. Era a segunda chance dos deuses ao cantor.
E foi na CBS que Raulzito ficou conhecido, pois muitos astros e estrelas do momento, principalmente o pessoal da Jovem Guarda, gravaram suas canções, aumentando a popularidade do então desconhecido guitarrista e fã de “rock americano”, como diziam alguns.
O início dos anos 1970 foi ótimo para Raul, que tomou coragem e inscreveu duas músicas no Festival Internacional da Canção de 1972, convencido por Sérgio Sampaio, um dos melhores compositores da música popular brasileira. Nesse meio tempo, ele usava alguns momentos com o estúdio livre para experimentar algumas músicas e fazer um tipo de mistura entre o rock e ritmos brasileiros, característica que marcaria os trabalhos do compositor.
O que também ajudou Seixas no processo de composição foi a parceria com Paulo Coelho, que viraria amigo de longa data em uma das grandes duplas da história da música. Os dois conseguiriam levar o rock às paradas de sucesso, algo inimaginável naquela época. Mas não foi na CBS que os dois explodiram.
Entre a carreira de produtor e a de músico, a gravadora deu um ultimato a Raul. E ele escolheu a segunda. Nisso tudo, a Phillips entrou na jogada e, com ajuda de Roberto Menescau, conseguiu a contratação da promessa em sua line-up. Na nova casa existia uma liberdade que não havia anteriormente, e disso tudo nasceu Krig-ha, Bandolo!, primeiro disco solo.
A estreia mostrou todo potencial de Raul Seixas como compositor, arranjador e produtor, e ele não tinha vergonha em misturar todas as influências de sua coleção em canções que iam de protestos contra a ditadura até misticismo e religião. O disco foi elogiado pelo público e pela critica, rendendo o primeiro de muitos sucessos de Seixas-Coelho.
O título do trabalho faz referência ao grito de Tarzan que significa “cuidado, aí vem o inimigo”. E a capa não tinha nada de beleza: era apenas o cantor, sem camisa, com os braços erguidos. Ou seja, poderia ter passado facilmente, mas graças ao trabalho da gravadora e da qualidade das músicas, a capa virou o item menos importante deste que é um dos grandes álbuns brasileiros de todos os tempos.
Resenha de Krig-ha, Bandolo!
Krig-ha, Bandolo! começa com um pequeno Raul Seixas, de apenas nove anos, cantando “Good Rockin' Tonight" em um inglês macarrônico em uma gravação muito ruim – temos que levar em consideração que foi feita no início dos anos 1950. Depois vem um dos clássicos de Raulzito: “Mosca na Sopa”, que mistura um pouco de candomblé, capoeira e baião, e, no fim, ele coloca um rock, deixando tudo delicioso.
Outro clássico do cantor que está no álbum de estreia é "Metamorfose Ambulante". Escrita apenas por Raul, ela é autobiográfica. Não tem o que dizer dessa letra, apenas que é genial. O arranjo dá o tom e misticismo necessário para criar um grupo de seguidores por toda vida. E se existe alguém que conseguiu captar muito da energia daqueles tempos, esse alguém foi Raul.
Em “Dentadura Postiça” temos um típico folk dos anos 1950 e 1960 da melhor qualidade. Elencando várias coisas e usando termos indetectáveis no sensor, ele mostra toda sua criatividade na letra. Outro sucesso saído de Krig-ha, Bandolo! é “As Minas do Rei Salomão”, a primeira de muitas canções que conta com o misticismo de Paulo Coelho inserido no contexto.
O arranjo das músicas desse trabalho é sensacional, e "A Hora do Trem Passar" mostra isso. Ela é toda no violão e cresce na parte final, lembrando “Hey Jude”, dos Beatles – banda referência de Raul em toda sua vida. Depois vem uma das canções mais divertidas já feita nestas bandas: “Al Capone” é cheia de referências da cultura pop, desde o imperador Júlio César até Jimi Hendrix, e é muito, muito dançante.
Relembrando o início da carreira do cantor, “How Could I Know” é toda em inglês e tem uma pegada mais pop do que as outras. Muito diferente de todo resto, “Rockixe" tem uma pegada James Brown e mostra que a versatilidade para cantar seria um dos trunfos de Raul.
Finalizando o trabalho, existem duas músicas distintas. A primeira é "Cachorro Urubu", uma balada no violão e cheia de arranjos diferentes. Por fim, a última canção do repertório é “Ouro de Tolo”, talvez a principal música escrita por Seixas. A letra autobiográfica, a segunda de Krig-ha, Bandolo!, a levada da melodia, tudo encaminhava para um enorme sucesso. E foi. Uns podem gostar de outras, mas, para mim, é melhor música da discografia dele. E é um encerramento gigante para um álbum genial.
Raul Seixas sempre sonhou em fazer música e viver de música, e conseguiu sua oportunidade quando acreditaram no trabalho dele. Com ajuda de Paulo Coelho, ele tornou-se um dos grandes da música nacional graças as suas canções diferentes, vamos dizer assim, pela mistura entre seu amado rock ‘n’ roll e ritmos brasileiros. Não demoraria muito para a dupla ser exilada pela ditadura militar, mas o trabalho deles só seria ainda mais exaltado pelos fiéis seguidores da Sociedade Alternativa.
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