Discos para história: Dirt, do Alice in Chains (1992)


A 17ª edição do Discos para história fala de Dirt, segundo trabalho de estúdio do Alice in Chains, que também fazia parte da cena grunge de Seattle no início dos anos 1990 e, liderado por Layne Staley, fez muito sucesso ao lado de Nirvana, Soundgarden e Pearl Jam.

História do disco

Em 1990, o Alice in Chains lançou Facelift, primeiro disco de estúdio. Bem recebido pela crítica, não chegou às melhores colocações nas paradas e demorou a embalar, sendo que só ganhou impulso nas vendas após a aparição da banda na MTV americana, já nos dias finais daquele ano.

Depois de todo sucesso da turnê, já era hora da gravação de um novo álbum. E isso começou a ser planejado em março de 1992 na primeira reunião da banda para trabalhar no próximo lançamento. Sem tempo hábil entre um show e outro, a maioria das canções apresentadas à gravadora haviam sido compostas nas viagens pelos Estados Unidos.

Mais uma vez juntando forças com Dave Jarden, produtor do primeiro disco, o Alice in Chains ganhou mais peso nas guitarras, o que também aconteceu muito em conta do tom das letras compostas por Layne Staley, vocalista da banda morto em 2002 em decorrência de uma overdose, e do guitarrista Jerry Cantrell. Viciado em cocaína, Staley aproveitou a parada das turnês para entrar em uma clínica de reabilitação durante os trabalhos de gravação e produção de Dirt. Foi a primeira de muitas internações que o cantor passaria na vida. Mas não só Layne tinha problemas com drogas.


O baterista Sean Kinney e o baixista Mike Starr eram alcoólatras, enquanto Cantrell também teve que passar pela reabilitação, mas por outro motivo: ele entrou em depressão após perder a mãe e Andy Wood, seu grande amigo e vocalista do Mother Love Bone – que, mais tarde, seria a base da formação do Pearl Jam.

O sofrimento de todos nesse período da vida em que estavam descobrindo o sucesso influenciou e muito o trabalho de composição em Dirt. Os membros da banda estavam crescendo na estrada, conhecendo coisas novas, refletindo principalmente nas letras, que ganharam um significado absurdamente emblemático quando Staley morreu. Era um claro grito de socorro aos mais próximos, mas poucos entenderam.

Esse trabalho mudou de vez a vida dos membros do Alice in Chains – tanto é que virou um dos discos clássicos dos anos 1990. Lançado no mesmo dia de Core, do Stone Temple Pilots, o segundo LP do AIC estreou na sexta colocação nas paradas naquele final de verão. Muito elogiado pela crítica, não é difícil achar quem tenha dado nota dez. E foi muito merecida, diga-se de passagem.

Até hoje, o Alice in Chains não é apenas ligado ao grunge, e foi Dirt que proporcionou isso. Em várias listas de jornalistas respeitáveis, ele é citado como um dos que influenciaram o hard rock e o heavy metal em todos os tempos. Tudo isso graças ao produtor e sua ideia de aumentar ainda mais o volume das guitarras na gravação, rendendo a eles um Grammy de Melhor Álbum de Hard Rock de 1993.



Resenha de Dirt

Bom, começar um álbum com uma pedrada chamada “Them Bones” não é para qualquer um. Guitarra no máximo, um baixo sem limites, uma bateria forte no segundo single de Dirt... Aqui já dá para ouvir o tom do trabalho – um tom bem alto –, fora que ver Layne Staley em forma nos vocais é sempre algo que dá saudades de um tempo que não vivi. A letra é a primeira de muitas que fala sobre morte.

“Dam That River” segue bem alto, com um solo matador após a segunda metade, e a letra tem até um ponto bem poético e bonito. “Rain When I Die” tem seu início com uma linha de baixo incrível, enquanto a guitarra distorcida dá um tom muito soturno à música. O início demorado lembra os melhores momentos do Black Sabbath. Dá para ver quem Layne cuspia sentimentos enquanto cantava, refletindo em um dos trabalhos mais sinceros dos anos 1990 – aliás, a sinceridade foi o tom de todo grunge.

Clássico da banda, “Down in a Hole” tem tons leves, mas não significa que não seja de temática pesada com uma melodia linda. Se existe uma canção que simboliza bem o AIC, essa é “Down in a Hole”. Aliás, não só simboliza a banda, como coloca Jerry Cantrell como um dos grandes compositores daqueles tempos. Já “Sickman” tem muito do metal dos anos 1970, ganhando força no refrão e bem calma nos versos.



Já “Rooster” é uma bela homenagem de Cantrell a seu pai, ex-combatente na Guerra do Vietnã, com várias referências ao que ele fazia em combate e a códigos usados pelos soldados que estavam em batalha. Em 1993 a música foi escolhida como um dos singles de Dirt. Se ainda existia algum tipo interpretação sobre o LP, “Junkhead” mostra bem que é sobre/para usuários de drogas. É uma letra escancarada e sobre o assunto.

Canção que leva o nome do disco, “Dirt” é muito heavy metal, lado claro que o AIC optou por encabeçar, fora que o vocal lembra muito o de Ozzy Osbourne em seus grandes momentos no Sabbath. Em “God Smack” tem algo mais punk, e aqui vemos a primeira faixa mais curta depois de uma sequência de músicas que ultrapassavam os cinco minutos.

“Iron Gland” tem uma voz do além e, junto com a guitarra distorcida, faz a ponte à sequência final. “I Hate Feel” mistura raiva e poesia com relação aos sentimentos. Aponta, fala, abre o jogo sobre a vida, sobre pessoas, sobre estado de espírito. Parecia que a sinceridade voltou à tona à época.

Layne Staley foi mais um desses gênios que se perderam nas drogas, mas sua obra é uma das mais brilhantes. Se ele tivesse escrito apenas “Angry Chair”, sua vida entre nós teria sido concluída com louvor. Mas não fez apenas isso, como gravou a faixa de maneira brilhante, aliada a uma das bandas mais espetaculares dos últimos 30 anos.



Encerrando um álbum brilhante, temos “Would?”, que Cantrell escreveu em homenagem a Andy Wood. Ao mesmo tempo em que saudava o amigo, o guitarrista também apontava o dedo para pessoas que julgaram e criticaram o caminho escolhido pelo vocalista do Mother Love Bone. Into the flood again/ Same old trip it was back then/ So I made a big mistake/ Try to see it once my way, diz Jerry. É justo.

O AIC foi dessas bandas que apareceram nos anos 1990 com o intuito de viver de música. Não só conseguiu, como fez de Dirt um LP ótimo que tem um desses poucos privilégios de ter apenas canções brilhantes no repertório. Mesmo com todos os problemas enfrentados durante as gravações, a banda conseguiu canalizar isso em grandes momentos. Não foi de graça que Layne Staley e Jerry Cantrell tornaram-se grandes da música mundial. Além de escreverem letras profundas e cheias de sinceridades, cada um era muito bom no que se dispunha a fazer na banda. Vida longa ao Alice in Chains.



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