Discos para história: Vs., do Pearl Jam (1993)

A 14ª edição do Discos para história fala sobre o segundo disco do Pearl Jam. Vs. saiu após o enorme sucesso de Ten e encaminharia a banda para virar a maior do mundo nos anos seguintes.

História do disco

O Mookie Blaylock nasceu do que sobrou do Mother Love Bone mais Mike McCready. Então precisando de um vocalista, a banda recebeu algumas dezenas de fitas, mas todas soavam como homenagens a Andy Wood, vocalista morto após uma overdose. Pois uma fita chamou a atenção do grupo, e ela vinha de San Diego, Califórnia, e era de um cara chamado Eddie Vedder. Logo que chegou a Seattle, apenas uma semana foi necessária para o primeiro show. Bingo. Ele era o cara.

Como o nome da banda era o mesmo de um famoso jogador de basquete, os cinco optaram por chamá-la de Pearl Jam. Enquanto a popularidade a banda estava crescendo no underground, eles entraram em estúdio para gravar Ten, primeiro álbum de estúdio. E no embalo do sucesso do grunge, liderado pelo Nirvana, o Pearl Jam virou uma das bandas do momento dos anos 1990, ganhando os prêmios da Vídeo do Ano, com “Black”, e Banda do Ano, em 1993. Obviamente, com tudo isso acontecendo, aumentava a pressão da gravadora por um novo álbum.

Quase sem folga, fazendo até 25 shows no mês, o grupo foi gravando e compondo as primeiras demos do novo disco ainda na estrada. Com tudo definido, o Pearl Jam retornou ao Potatohead Studio, em Washington, lugar das primeiras gravações da banda, para fazer as primeiras demos do novo trabalho. Uma das novidades no processo de gravação foi a presença de Brendan O'Brien, produtor oficial do grupo até os dias atuais. A segunda foi a mudança de local – a banda saiu de Seattle e foi para Nicasio, Califórnia, desagradando ao vocalista, que foi o único a se manifestar contra a mudança, e isso causou problemas nas gravações.


Sem se sentir confortável com o novo local de gravação, aliado com a pressão da gravadora para um disco comercial, Vedder demonstrava cansaço e era visto dormindo pelos cantos do estúdio. Confessadamente, ele afirma até os dias de hoje que foi a pior gravação de sua vida por todas as circunstâncias. Apesar dos problemas com o vocalista, todos conseguiram trabalhar bem na criação do álbum. Um dos principais desejos era deixar as músicas mais cruas em relação à Ten, momento em fortes sentimentos dominaram as gravações. Vs. foi criado para ter um som mais cru e mais político.

O segundo trabalho do Pearl Jam foi definindo a personalidade que a banda tem hoje, mas, até então, eram apenas garotos que haviam alcançado o sucesso e estavam naquele de liberar a criatividade acumulada durante os dias na estrada. Vs. foi um trabalho fundamental na carreira da banda, principalmente na consolidação do som, baladas e peso na medida certa, com letras tocantes de temas pessoais e intempéries mundanas.

A estreia do disco nas paradas é, até hoje, o maior sucesso da história do Pearl Jam. Com mais de 950 mil cópias vendidas em apenas cinco dias, Vs. finalizou a semana de lançamento com mais de um milhão e 300 mil discos comercializados, algo absurdo para quem, três anos antes, era apenas mais uma banda no mundo tentando sobreviver de música. Lançado em outubro de 1993, o trabalho só saiu da primeira colocação do ranking dos mais vendidos na segunda semana de janeiro do ano seguinte. Nesse período, o grupo era o mais famoso do mundo – superando até mesmo o Nirvana, que havia lançado o In Utero dias antes.

O grande problema em fazer sucesso é que o Pearl Jam acabou não sendo tão bem recebido entre seus pares, que viam o sucesso da banda como algo absurdo dentro da cena. Enquanto isso, o Nirvana fazia um disco nada comercial e evitava ao máximo qualquer tipo de exposição. Isso acabou explodindo uma guerra entre Kurt Cobain e Eddie Vedder, resolvida pouco antes da morte do vocalista e compositor da banda que contava com Dave Grohl e Krist Novoselic. Em 1995, a glória viria com Vs. levando três Grammy: Melhor Álbum do Ano, Melhor Performance de Rock e Melhor Música de Hard Rock, com “Go”.

A capa do álbum é a fotografia de uma ovelha em uma fazenda em Hamilton, no Arizona, e representava o momento que a banda sentia que era escrava do sistema. Originalmente chamado de Five Against One, o álbum foi batizado de Vs. nos dias finais do prazo para fechamento da mixagem. A banda afirmou que o título, assim como a arte da capa, representava o sentimento de todos com relação ao que acontecia nos negócios.


Resenha de Vs.

O segundo trabalho de estúdio do Pearl Jam já começa com uma paulada: “Go” tem um peso incrível na carreira da banda, tanto é que ele é executada quase sempre nos shows. Escrita pelo então baterista Dave Abbruzzese, ela acabou sendo escolhida para ser o primeiro single. Ninguém tem muita certeza sobre o que a faixa fala, mas a temática é bem mais pesada do que a maioria imagina. Em “Animal” temos a primeira música que fala do momento da banda, e isso é bem claro. Logo no início, Vedder canta Five against one e, mais à frente, ele diz exaustivas vezes: I'd rather be with an animal. Ainda temos um belo solo de guitarra para completar uma das letras autobiográficas mais pesadas já feitas por Eddie.

Na sequência temos a primeira balada: “Daughter”. Originalmente chamada “Brother”, a faixa conta a história das dificuldades de uma garota em viver em bairro violento e, até certo ponto, cruel. Várias tentativas foram feitas até o produtor Brendan O’Brian pedir para Mike McCready e Jeff Ament gravarem de forma acústica. E ficou ótima. Mudando o ritmo, “Glorifield G” é sobre ser contra a venda de armas e fala como as pessoas ficam valentes quando têm uma – ela foi inspirada por uma conversa entre o baterista Dave Abbruzzese, que havia comprado duas armas, e o resto da banda, que desaprovou a compra. Gritada por um vocalista raivoso, a canção é baseada nas duas guitarras, tocadas com excelência por McCready e Stone Gossard. Dois riffs diferentes deixaram tudo empolgante e animado. Mais leve no início, “Dissident” conta a história de uma mulher que está sendo procurada pelas autoridades, mas que não aguenta tamanha responsabilidade, enquanto a melodia cresce e se torna em um grito a favor da mulher e contra a violência doméstica. Além de todo significado, a faixa tem um belo riff de guitarra.

http://youtu.be/2uF4zYXzL_8

“W.M.A” nasceu assim: Vedder saiu imundo do estúdio em sua primeira folga após quatro dias trabalhando 12 horas/dia. Na rua, passava um homem negro que estava mais limpo que Eddie, diga-se. Alguns policiais começaram a implicar com o rapaz, ao passo que o vocalista do Pearl Jam ficou indignado, chegou perto e começou a discutir com os oficiais. Resultado: acabou preso. Disso saiu uma bela canção, densa e contra qualquer tipo de repressão policial nas ruas. O grande destaque é a bateria, que ganhou força, overdubs e mais peso para criar o clima necessário, enquanto “Blood” é furiosa, cheia de energia e canaliza um sentimento que poucas bandas conseguem pôr em uma música.

“Rearviewmirror” foi a única que todos tiveram bastante dificuldade para finalizar. Vedder chegou com a letra, explicou aos outros o que desejava, e eles tocaram exatamente como ele queria, mas Abbruzzese não estava conseguindo e foi muito pressionado pelo produtor, deixando o baterista nervoso ao ponto que ele arremessou as baquetas na parede – é possível ouvir isso ao final da gravação. A voz também não estava boa, e Eddie, que tocou guitarra pela primeira vez em um disco, só conseguiu um bom take no último dia.

http://youtu.be/zyry_-rvZrM

Com um início delicioso graças ao baixo de Ament, “Rats” tem mais uma letra que envolve uma metáfora com animais e toda sua fúria. Segunda balada do disco, “Elderly Woman Behind the Counter in a Small Town” fala de uma mulher que está envelhecendo e não consegue deixar mais a pequena cidade onde mora. Outra bela faixa de Vs., e bem diferente de “... Small Town”, “Leash” retorna a fúria e o descontentamento da mesma garota que foi o tema de “Why Go”, de Ten. Encerrando os trabalhos de forma magnífica, “Indifference” trata de fazer o bem ao próximo, mesmo que isso resulte em problemas para você. É outra balada linda e tocante bem ao estilo do Pearl Jam.

Muito jovens, o Pearl Jam estava sofrendo com a fama. As outras bandas do grunge renegavam ao máximo o mainstream e o sucesso, então a indústria precisava de alguém para canalizar o grunge às grandes massas. A banda liderada por Eddie Vedder acabou sendo usada, e eles sofreram bastante as consequências. Primeiro a banda canalizou a raiva e a frustração do momento em letras e melodias lindas, mas, tempos depois, isso mudaria a postura deles com relação ao mercado e até suas próprias vidas. A partir da gravação de Vs., todos mudariam para sempre– dentro e fora dos estúdios.

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