Discos para história: Surfin’ U.S.A., dos Beach Boys (1963)

A nona edição do Discos para história traz como foi feito e produzido o disco que colocou os Beach Boys na trilha do sucesso, e de como o trabalho catapultou Brian, Dennis e Carl Wilson, Mike Love e Al Jardine como principais concorrentes dos Beatles nos Estados Unidos.

História do disco

Apenas três meses depois do lançamento de Surfin' Safari, os Beach Boys conquistaram um sucesso razoável – o disco vendeu mais de 40 mil cópias, o que impressionou algumas pessoas do circulo da banda no anos de 1963. O grande destaque era, sem dúvida alguma, Brian Wilson. Talentoso para tocar, ele também se destacou rapidamente pela habilidade em compor canções, e isso colaborou para a rápida ascensão de todos.

Eles precisavam de mais repertório, e como era tradição lançar discos em curtos intervalos de tempo, começaram a trabalhar forte em um novo projeto. E foi dessa necessidadeo que saiu Surfin’ U.S.A., o segundo álbum de estúdio da banda e que colocou os Beach Boys nos trilhos do sucesso por longos anos.

Com relação ao trabalho anterior, nenhuma medida drástica foi tomada. Ou seja, a base harmônica e estrutural das canções foi mantida, deixando a banda dentro de suas características: com longos coros, muita parte instrumental e os cantores se revezando nas faixas, criando um som único e bem a cara da Califórnia.


Surfin’ U.S.A também completou o trabalho de colocar Brian Wilson entre os principais compositores daquela época. A facilidade dele em trabalhar a harmonia vocal e as canções foi determinante para alça-lo ao topo como principal nome da banda – gerando ciúmes de alguns membros, como se veria no futuro. O segundo disco foi tão organizado, que até hoje muitos historiadores musicais afirmam que foi Brian o verdadeiro produtor, não Nick Venet.

Como era comum à época, algumas canções era totalmente ou parcialmente copiadas sem o devido crédito, e isso aconteceu com os Beach Boys. A canção título do trabalho foi inspirada em “Sweet Little Sixteen”, de Chuck Berry – só que foi tão inspirada, que acabou sendo quase uma cópia da original. Claro que Berry não deixou barato, acionou a justiça e teve seu nome creditado no disco, embolsando mais alguns milhares de dólares em sua gorda conta bancária. Mas apesar do problema, isso não impediu o sucesso imediato, o primeiro grande hit single da banda em sua curta história.

Cinco das 12 faixas são instrumentais, o que se tornaria uma marca dos Beach Boys nos trabalhos. Além disso, o uso de instrumentos até então inéditos para o rock, como saxofone, orgão e xilofone, também foram inovadores à época em que o rock and roll passava por sua segunda transformação após sua explosão nos anos 1950.

A foto da capa foi tirada por John Severson em janeiro de 1960 e mostra Leslie Williams em Sunset Beach, no Havaí, e mostra exatamente o que o título do disco sugere. O que o título do trabalho não sugeriu é que a banda da Califórnia rivalizaria com os Beatles durante os anos 1960, uma rivalidade que acabaria com o lançamento de um disco que entrou para a história. E com um não-lançamento que ficou na mente de todos para sempre.


Resenha de Surfin’ U.S.A.

A canção título do disco consegue traduzir bem a pretensão dos rapazes: soar o mais diferente possível do resto e tentar fazer algo único com o som. O coro casa muito bem com o vocal de Mike Love, além da melodia – que convoca todos a dançar e imaginar o calor do verão californiano. A repetição torna a música chiclete, mas, ao mesmo tempo, dá fácil acesso a todos para ouvir, tornando o grupo popular. A audição é curta e agradável.

Em “Farmer’s Daughter” a levada da bateria de Dennis Wilson, o baixo e a voz de Brian e o acompanhamento da guitarra de Carl Wilson dão o tom da segunda faixa. Aqui temos a familiar harmonia vocal entre todos os membros da banda em uma letra muito bonita – e até tocante. A primeira de cinco instrumentais do trabalho, “Misiloru” é inspirada em uma canção conhecida na comunidade árabe e que se espalhou pela Europa no final dos anos 1920. Mais de 40 anos depois, ganhou notoriedade com Dick Dale, que a transformou em um dos clássicos da cultura Western – dessa mistura toda saiu a versão que está em Surfin’ U.S.A.

Com menos de dois minutos, “Stoked” é outra bela peça instrumental e ganha apenas algumas palavras quando os membros da banda gritam o nome da faixa. Mais à frente, “Lonely Sea” é uma balada profunda que fala sobre a solidão do mar, e o coro dá uma força impressionante ao conjunto da obra – deixando a canção ainda mais triste. Mas voltamos aos temas felizes em “Shut Down”, encerrando pra cima o lado A do álbum.

http://youtu.be/2s4slliAtQU

Contando a história de um surfista que ama o mar, o lado B abre com a animada “Noble Surfer”. Aqui, o xilofone é mostrado com mais clareza e tem um momento apenas seu, com um solo e tudo mais. Avançando, a segunda faixa da segunda parte de Surfin’ U.S.A., temos “Honky Tonk”, uma composição instrumental de Billy Butler, Bill Doggett, Clifford Scott e Shep Shepherd que fez muito sucesso em 1956, sendo o número dois nas rádios por três semanas seguidas. Em mais uma bem curtinha, Brian Wilson declama todo seu amor por uma garota em “Lana”, agregando um poderoso riff de guitarra ao fim da primeira parte.

Indo para a parte final do disco, “Surf Jam”, como sugere o título, é mesmo uma jam entre os Beach Boys, e escancara todo o amor da banda pelo surfe. Na última instrumental, “Let's Go Trippin'” é inteira comandada pela guitarra, tornando-a um verdadeiro rock and roll – quem é fã do programa Garagem e já ouviu algumas edições antigas vai reconhecer a música na hora. À lá Jerry Lee Lewis, “Finders Keepers” começa com um incrível solo de piano, mas logo toma o caminho beachboyniano e ganha coro e um incrível acompanhamento, e revezamento no vocal.

O disco conseguiu a posição número dois entre os álbuns mais vendidos e teve duas músicas ocupando o top-30 das mais tocadas por algumas semanas. A partir do sucesso de Surfin’ U.S.A., os Beach Boys se consolidariam como uma das grandes bandas dos anos 1960. Uma pena que crises internas e a doença de Brian Wilson, alguns anos depois, impediram o grupo de almejar o posto de maior dos anos 1960. Mas, no caso dos Beach Boys, ser o segundo não foi tão ruim.

http://youtu.be/hg75SeZ83S0

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